A prática tem sido cada vez mais popular entre casais homoafetivos que querem filhos, mas não cogitam adoção e não podem pagar por clínicas especializadas
Muitos são os relatos nas redes de mulheres que tiveram gestações por meio da chamada inseminação caseira. Na maioria dos casos, são casais LGBTQIAPN+ que querem engravidar, mas não têm condições de pagar pela inseminação artificial.
Contudo, a prática, que não envolve sexo nem ajuda de médicos, não é recomendada por especialistas, por mais que algumas mulheres tenham alcançado o objetivo. Entenda mais abaixo.
O que é inseminação caseira?
A inseminação caseira ocorre a partir de um doador de sêmen, buscado pelo casal, que coleta o próprio esperma sem nenhum contato sexual entre as partes.
E, com o material genético em uma seringa, a mulher que deseja engravidar o injeta em seu corpo especialmente nos dias de ovulação. No entanto, é uma etapa com grandes riscos de infecções e transmissão de doenças.
Riscos da inseminação caseira
Os riscos existem a partir da manipulação da seringa, que pode ser facilmente inadequada. Afinal, a inseminação é um ato médico que envolve a idade e a saúde da paciente para definir a forma correta de engravidar clinicamente.
Sendo assim, no caso da seringa escorregar ou penetrar mais fundo do que deve, há chances de traumas e perfurações vaginais que não só causam desconforto, mas que ainda afetam a saúde reprodutiva da mulher, de acordo com o doutor Vinicius Lopes Medina, especialista em Reprodução Humana.
Em clínicas, especialistas analisam previamente o material genético, diferente do que acontece em ambiente caseiro. Por isso, ainda podem ocorrer reações alérgias após a inserção diretamente no útero.
Apesar dos riscos, muitas “tentantes” (assim chamadas mulheres que tentam engravidar), arriscam a prática e não alcançam a gestação. E este é um ponto também importante para se ter em mente, segundo Marina Kobuti, ginecologista do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D’Or.
“Uma causa de insucesso é a qualidade do material genético, já que em muitas vezes não se sabe se há a quantidade suficiente ou a qualidade adequada dos espermatozóides”, explica a especialista.
O que diz a lesgislação?
No Brasil, nenhuma legislação ampara a inseminação caseira, portanto, a prática não é proibida. Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde, as vigilâncias sanitárias e a Anvisa não têm poder de fiscalização devido ao fato de o sêmen utilizado não vir de um banco de espermas.
Dessa forma, casais e doadores fazem acordos por meio de conversas informais ou com assinaturas de termos, mas sem validade jurídica. Os casais também costumam pedir testes de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) antes da inseminação caseira.
Embora os casais procurem evitar vínculos com os doadores, e vice-versa, a ginecologista Marina aponta duas questões práticas possíveis de acontecer.
“O doador do sêmen requerer a paternidade ou até mesmo a criança saber sobre o pai biológico, já que os contratos feitos não têm valor legal. E há a dificudade de obter o nome das duas mães na certidão de nascimento, diferente do que seria em clínicas especializadas e regulamentadas”, conclui ela.