A judoca Rafaela Silva, ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, foi mais uma vítima de um ato de racismo. A atleta usou suas redes sociais para divulgar um vídeo e relatar o abuso sofrido por ela e cometido por policiais. Rafaela conta que o táxi que a levava foi parado por um viatura e um dos oficiais, ao ouvir que ela era a “atleta da Olimpíada” disse ao taxista: “achei que tu tinha pego ela na favela”.
https://www.facebook.com/jfmargarida/videos/1595616857212234/
Campeã olímpica sofre abuso de policiais
Rafaela Silva representou o Brasil em duas edições das Olimpíadas e nos Jogos do Rio, de 2016, a judoca ainda fez tocar o hino brasileiro no alto do pódio da Arena Olímpica: levou a medalha de ouro e confirmou o status de melhor atleta de sua categoria, conquistado com o título mundial em 2013.
A abordagem da polícia foi realizada na Avenida Brasil, quando Rafaela transitava do Aeroporto Internacional Tom Jobim (conhecido como Galeão) para sua casa, em Jacarepaguá. A atleta relatou o episódio com detalhes em um vídeo publicado no Instagram e reproduziu as informações pelo Twitter. No vídeo, ela conta:
Esse preconceito vai até aonde? 😰
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) February 22, 2018
Posicionamento da Polícia Militar do Rio de Janeiro
O VIX procurou a assessoria de imprensa da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que respondeu com o texto abaixo:
“As declarações da judoca Rafaela Silva de que teria sofrido constrangimento durante uma abordagem ao táxi em que viajava na quinta-feira à noite, na Avenida Brasil, são injustas e não ajudam o trabalho de combate à criminalidade. A Polícia Militar intensificou o policiamento preventivo nos principais corredores viários da Região Metropolitana para reprimir roubos de veículos e carga, adotando critérios técnicos e legais para cumprir sua missão de servir e proteger a sociedade.”
Racismo no Rio de Janeiro
No estado do Rio de Janeiro, a população negra (de acordo com a metodologia que considera negro aqueles que se autodenominam pretos ou pardos) corresponde a 45,5% de todos os cidadãos fluminenses, segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, produzida pelo IBGE. Dos mais de 15 milhões de fluminenses, cerca de 7 milhões se declaram negros – sendo que 12,4% deste total se declara preto, o maior índice do Sudeste.

Embora a população negra seja praticamente metade de todos os habitantes do estado, pesquisas mostram que há segregação racial-econômica, sobretudo na capital. Na cidade do Rio de Janeiro, de acordo com o projeto Desigualdades Espaciais, produzido pelo geógrafo Hugo Nicolau Barbosa de Gusmão, há uma correlação entre cor de pele e condição econômica.
Na capital carioca, a população é composta de 52% de brancos, 37% de pardos e 11% de negros. Contudo, nos bairros mais ricos há presença maior da população branca – e o oposto ocorre em regiões mais pobres.
Na zona Sul do Rio, observados os bairros nobres de Copacabana, Leme, Ipanema, Leblon, Gávea, Jardim Botânico e Lagoa, os brancos são 83% da população, pardos, 13% e pretos, 4%. Na mesma região, mas na favela do Morro do Cantagalo, a proporção é outra: 32% de brancos, 49% de pardos e 19% de pretos.

Violência no Rio de Janeiro e intervenção militar
O Rio de Janeiro está passando por uma severa crise de segurança pública. De acordo com o projeto Fogo Cruzado, a soma dos tiroteios ocorridos no estado nos fins de semana deste ano registra 448 ocorrências – uma média de 64 tiroteios por fim de semana em 2018.
Isso depois do estado fechar 2017 com a maior taxa de mortes violentas dos últimos 8 anos. Foram 6.731 pessoas mortas de forma violenta ao longo dos 12 meses do ano. As causas mais comuns, pela ordem, são homicídio doloso, homicídios praticados por policiais, latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesão corporal seguida de morte.

Em fevereiro de 2018, Michel Temer propôs ao Congresso o envio de uma intervenção do exército ao Rio de Janeiro; a medida foi aprovada pelo legislativo. A intervenção federal nos estados está prevista na Constituição Federal de 1988, mas não havia sido aplicada até então.
Até 31 de dezembro de 2018, as Forças Armadas irão atuar em parceria com as agentes de segurança pública estaduais, como a Polícia Militar, no entanto não respondem ao governador do Rio, mas ao governo federal.
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