Quem foram os serial killers brasileiros? Nove criminosos que já assombraram o país

Embora o Brasil seja um dos países onde mais se comete homicídios no mundo (o índice brasileiro é de 32,4 pessoas assassinadas a cada 100 mil habitantes), poucos crimes nos chocam mais do que assassinatos em série.

Desde a década de 1920, de tempos em tempos a população brasileira entra em estado de alerta por conta de crimes violentos cometidos em sequência, cujos autores passaram a ser conhecidos pelo termo em inglês “serial killers”.

No livro “Serial Killers – Made in Brasil”, a autora Ilana Casoy afirma que, embora muitos destes casos e muitos dos procedimentos adotados pelos criminosos pareçam “hollywoodianos”, eles acontecem no mundo real. “No Brasil, a polícia tem um enorme preconceito em aceitar a possibilidade de um serial killer estar em ação, e as consequências são nefastas”, avisa, na obra. “O agressor serial sempre tem um importante aspecto comportamental em seus crimes: sempre os assina e sua assinatura é única”.

Listamos a seguir alguns dos mais cruéis serial killers já registrados no país.

Shutterstock

Preto Amaral (José Augusto do Amaral)

Natural de Minas Gerais, Preto Amaral morou do Amazonas ao Rio Grande do Sul até se estabelecer em São Paulo, onde matou e violentou o corpo de três jovens rapazes, em 1926. À época, mais três jovens deram queixa à polícia. Outros cinco desaparecimentos de moços entre 14 e 17 anos foram especulados como crimes cometidos pelo assassino.

Agia sempre da mesma forma. Oferecia um trabalho rápido, como carregar caixas, por exemplo, aos jovens e os levava para um local deserto. Lá os estrangulava e depois de mortos abusava sexualmente dos cadáveres. Quando preso, o exame médico constatou que Preto Amaral tinha um pênis enorme, que, segundo o próprio, o atrapalhava nas relações sexuais e teria sido resultado de uma simpatia feita na adolescência.

Morreu em 1927, sob prisão preventiva, antes de ser julgado.

Febrônio Índio do Brasil

Também nascido em Minas Gerais, Febrônio morou a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Antes de cometer os assassinatos em sequência, já havia sido preso oito vezes por vadiagem, furto, roubo, chantagem e fraude – inclusive, se passava por dentista depois de ter roubado um diploma universitário.

As tentativas de estupro seguidas de assassinato de um rapaz de 20 anos e uma criança de dez levaram os policiais até Febrônio, em 1927 – na prisão, já havia matado um colega de cela que se negou a fazer sexo com ele. Como o caso foi bastante divulgado pela imprensa à época, outros crimes vieram à tona: seis jovens o identificaram como estuprador.

Febrônio era místico e dizia ter criado sua própria religião – em seu peito, tatuou as letras D C V X V I, que carregavam uma mensagem sobre Deus e santidade. Foi considerado inimputável (não pode ser responsabilidade pelos atos) em consequência de seus graves problemas mentais. Passou o resto de sua vida no manicômio, até 1984, ano de sua morte.

Shutterstock

Monstro de Guaianases (Benedito Moreira de Carvalho)

O paulista Benedito Moreira de Carvalho já havia sido preso duas vezes antes de cometer a série de crimes que motivariam o apelido de Monstro de Guaianases. Então bombeiro da Força Pública, foi expulso após tentar estuprar uma moça menor de idade. Em 1946, foi preso após novo estupro. Liberto em 1949, ficou somente dois anos em liberdade até outro crime de violência sexual.

Até 1952, era um estuprador em série. Neste ano, deu início a série de estupros seguidos de morte: foram oito, além de dois sem assassinato. Seu método era puramente violento: abordava mulheres (e eventualmente crianças) pedindo por sexo e, após a recusa, as estrangulava e violentava seus corpos. Em sua ficha final, registrou-se 29 vítimas, sendo 12 resultantes em morte.

Benedito era casado e teve um filho. A esposa só soube do ímpeto sexual e assassino do serial killer depois de preso. Ele morreu na cadeia, em 1976, vítima de um infarto.

Bandido da Luz Vermelha (João Acácio Pereira da Costa)

O Bandido da Luz Vermelha se tornou um serial killer, digamos, por acidente. O seu crime favorito era invasão a casas e mansões para roubar dinheiro e bens. Ficou famoso pelo seu método: desligava a energia das residências e as invadia descalço, com uma máscara ao estilo faroeste e a tão famosa lanterna de luz vermelha a tiracolo – recebeu, depois, o apelido em referência ao criminoso norte-americano Caryl Chessman, que usava lanterna semelhante.

Nascido em Santa Catarina, mas morador de Santos desde a infância, foi difícil concluir que era ele o responsável pelos 77 assaltos ocorridos na cidade de São Paulo entre 1960 e 1967. Foram quase sete anos de crimes até ser pego pela polícia, após deixar suas impressões digitais em uma janela.

Não raro, conversa com as vítimas de seus assaltos – há relatos de ter feito uma delas cozinhar para ele enquanto roubava. Seus quatro homicídios não foram planejados: um ocorreu depois de briga de bar e três foram de vítimas que reagiram. Preso, foi condenado a 351 anos de reclusão. Cumpriu 30 anos, o limite previsto na lei brasileira, e quatro meses depois foi assassinado em nova briga de bar.

Chico Picadinho (Francisco da Costa Rocha)

Francisco nasceu de uma relação extraconjugal de seu pai, um rico exportador de café, com sua mãe. Sem receber ajuda financeira do pai, Chico cresceu entre Vila Velha e Cariacica, no Espírito Santo, enquanto sua mãe trabalhava como prostituta para sustentar aos dois. A rejeição paterna e a profissão materna deixaram marcas profundas.

Em 1966, já vivendo em São Paulo, teve uma juventude regada a muitas drogas e sexo. Em uma de suas festanças cometeu seu primeiro assassinato. Após ter relações com uma moça, a estrangulou e enforcou. Para esconder o corpo, esquartejou o cadáver, mas um amigo o denunciou à polícia. Foi preso, condenado a 20 anos, mas liberto na metade do período por bom comportamento.

Assim que solto, novamente atacou. Após contratar uma garota de programa, estrangulou a mulher e cortou o corpo em pedaços, guardando-os em uma mala. Foi condenado então a 30 anos de cadeia. Hoje, aos 75 anos, 41 depois da prisão, aguarda permissão para voltar às ruas.

Vampiro de Niterói (Marcelo Costa de Andrade)

Nascido na Rocinha, no Rio de Janeiro, Marcelo teve infância com problemas psicológicos e chegou a se prostituir dos 10 aos 20 anos. Na vida adulta, desenvolveu interesse por religiões e misticismos, mas se declarava evangélico.

Aos 25 anos, em 1991, foi denunciado pelo sequestro, estupro e homicídio de um menino de seis anos. Pior, o fez na frente do irmão, de 11 anos, a quem também abusou sexualmente. Depois de preso, confessou que abusara e matara outros 13 garotos na região de Niterói – a polícia confirmou a morte de oito deles.

Dizia que ao assassinar estas crianças, estariam livres para ir ao Céu. Recebeu o apelido de Vampiro porque bebia o sangue das vítimas com o objetivo de ficar bonito como eles. Está preso até hoje, aos 50 anos.

Shutterstock

Pedrinho Matador (Pedro Rodrigues Filho)

Cometeu seu primeiro homicídio aos 14 anos, quando matou o filho do vice-prefeito de Santa Rita do Sapucaí, sua cidade natal, e o vigia de sua casa, em 1968. Antes de completar 18 anos, já morando em São Paulo, assinou sua primeira chacina: para vingar a morte de sua namorada, invadiu o casamento de um rival e assassinou sete pessoas.

Na prisão Pedrinho virou, de vez, Matador. Condenado a 128 anos de cadeia, passou 30 anos encarcerado e assassinou 47 pessoas. O episódio mais impressionante foi matar seu próprio pai – que, por sua vez, assassinara a mãe de Pedro – a facadas. A vingança se completou ao retirar e comer o coração de seu progenitor.

Solto em 2007, passou somente quatro anos em liberdade até voltar à cadeia. Tem contra si a condenação por 71 homicídios, que, justifica, foram sempre contra homens maus, sobretudo pessoas que agiram contra crianças e mulheres. Em 2019, irá completar sua atual pena e poderá ser liberto, aos 65 anos.

Maníaco do Parque (Francisco de Assis Pereira)

O Parque do Estado, localizado na divisa de São Paulo e Diadema, foi o cenário dos crimes de Francisco, entre 1997 e 1998. No local, foram encontrados seis corpos de mulheres a quem o Maníaco estuprou e assassinou – anos depois, ele confessou ter executado 15 mulheres, ainda que a polícia não tenha confirmado o número.

Então motoboy, o criminoso repetia o método de aproximação com as vítimas. Se apresentava como um caça-talentos de agências ou revistas, elogiava as moças e oferecia cachê para um ensaio fotográfico no parque. Lá, abusava sexualmente e as matava. Foi identificado depois de usar um talão de cheques de uma das mulheres.

Após ser capturado pela polícia, Francisco recebeu mais de mil cartas de admiradoras, pedindo a chance de o conhecerem pessoalmente – chegou, inclusive, a se casar com uma delas. Condenado a 147 anos de prisão, vive até hoje no cárcere em Taubaté.

ShutterStock

Francisco das Chagas

O número de assassinatos de Francisco das Chagas é dos mais assustadores. São atribuídos a ele 42 homicídios de crianças e adolescentes no interior do Pará e do Maranhão. Os crimes ocorreram ao longo de mais de duas décadas: o primeiro teria ocorrido em 1991 e ele foi preso somente em dezembro de 2003.

O espaçamento entre as mortes e o abrangente raio de ação do mecânico afastaram a polícia a hipótese de assassinato em série durante muitos anos. Após assassinar um garoto de 14 anos e ser investigado, as peças se encaixaram. Deixou traços semelhantes em seus crimes: meninos de 5 a 14 anos, estrangulamento seguido de abuso sexual e morte. Depois, arracancava à faca o órgão genital de cada uma de suas vítimas – o termo para tal ato é emasculação.

Depois de capturado pela polícia, Francisco assumiu a autoria dos crimes – embora negue as violências sexuais. Aos 52 anos, segue preso em São Luís.

Crimes e morte