6 sinais que o TOD dá para você desconfiar que seu filho não está só fazendo birra

Uma das palavras que Keila Chicralla, neuropsicopedagoga e pós-graduada em Neurociências Pedagógicas e em Educação Especial, ouvia da filha, na época, com 4 anos, era ‘não’. “Depois da observação de uma prima, que é psicóloga, sobre o comportamento da minha filha, eu fui a um psiquiatra infantil. Durante os questionamentos da consulta, ela me perguntou: ‘Qual era a palavra que sua filha mais fala?’. Na mesma hora, disse que era o ‘não’. Para tudo que se pedia, a menina falava ‘não’. Vai tomar banho! Não. Vai colocar o chinelo! Não”, revela ela, que também é especialista em Função Executiva, área que entende a gestão dos processos cognitivos.

Entendendo a situação e por trabalhar com o assunto, Keila procurou ajuda especializada e recebeu o diagnóstico para sua filha de TOD, Transtorno Opositivo (ou Opositor) Desafiador. “As pessoas precisam entender que existe uma diferença da birra, pirraça ou falta de limites, de um transtorno como esse. Sabemos que educar e disciplinar uma criança não é fácil. Entretanto, uma criança com TOD apresentará características que vão além do esperado para a idade e ambiente social. A diferença sempre estará na frequência e na intensidade dos comportamentos”, aponta Keila.

Como identificar o TOD?

A criança questiona muito? Se irrita fácil? Essas e outras perguntas precisam ser feitas, conforme os pais e até os professores forem observando um aumento na frequência e na intensidade de respostas negativas à ordens, por exemplo. Segundo Alexander Bez, psicólogo e especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela UCLA (Universidade da Califórnia), o TOD é um transtorno que caracteriza uma peculiar desobediência. “Ao passo que, simultaneamente, também delimita uma personalidade desafiadora e combatente. Sendo essas as principais características desse transtorno. Vale ressaltar, que é uma conduta direcionada às figuras de autoridade sobre a criança, tanto em casa, como na escola”, diz ele.

Alexander revela que, em uma primeira instância, a rebeldia pode ser um dos primeiros sinais. “O TOD é um transtorno que aparece antes da formação da personalidade, diferentemente de outras psicopatologias que são adquiridas ao longo da formação da personalidade, ou herdadas aparecendo nas fases da adolescência” aponta o psicólogo.

6 sinais principais para avaliar se a criança tem TOD

  • Discute com os adultos, não respeita a hierarquia e se recusa a obedecer às regras;
  • Importuna os outros deliberadamente;
  • É sensível, facilmente se irrita, perde a paciência;
  • Fica com raiva, ressentido, tornando-se rancoroso, vingativo e, muitas vezes, cruel;
  • Grita ao expressar emoções;
  • Frequentemente culpa outras pessoas pelos erros ou mau comportamento.

Quem faz o diagnóstico de TOD?

Se os sinais citados acima estiverem acontecendo em casa ou na escola, os especialistas aconselham uma visita,preferencialmente, a um médico psiquiatra com experiência em comportamento infantil ou um neuropediatra. “Não existem exames laboratoriais ou de imagem para diagnosticar o TOD. Existem análises dos comportamentos e dos sintomas, além da frequência e intensidade, e tudo acompanhado com pelo menos 6 meses de duração, para que, de fato, esse transtorno seja identificado”, responde Keila.

É necessário, ainda, diz a neuropsicopedagoga, levar em conta se a criança está passando por situações que desencadearam este comportamento, como separação dos pais, perda de um ente querido ou animal de estimação. “Este transtorno tende a se iniciar na infância ou na adolescência. Na realidade, em situações muito raras, o transtorno da conduta e o de oposição desafiante surgem pela primeira vez na idade adulta”, revela Sônia Palma, psiquiatra da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Na fase adulta, sintomas parecidos seriam outras configurações de patologias mentais.

Como posso ajudar meu filho com TOD?

Sônia explica que o tratamento, na maioria das vezes, é composto pela terapia, sendo as mais indicadas a Terapia Cognitiva/Comportamental (TCC) e o treinamento parental. As medicações devem ser administradas em caso de comorbidades, como, por exemplo, se a criança também for diagnosticada com TDAH, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Por experiência própria, Keila faz questão de enfatizar a mudança comportamental dos pais e do ambiente em que a criança está inserida. “O tratamento não deve ser somente da criança, mas também da família. Os pais precisam ter um acompanhamento psicológico, pois as condutas da criança com TOD afetam o relacionamento do casal e também dos outros filhos. Muitas vezes, eles passam a imitar a conduta do irmão com o transtorno, quando percebem que essas atitudes são uma forma de chamar atenção dos pais ou de conseguirem o que querem, como o irmão faz”, reflete Keila.

Como lidar com aluno com transtorno opositor?

Constatado a presença do TOD, depois do diagnóstico médico, a neuropsicopedagoga orienta para que os pais levem uma cópia do laudo à escola e marquem uma reunião da equipe pedagógica com o psicólogo(a) que atenderá a criança, para traçar estratégias. “Essa junção de áreas tem o objetivo de estipular atitudes que evitem as ações impensadas dos professores e outros alunos, durante crises relativas ao transtorno”, diz Keila.

Além disso, os educadores devem advertir com cuidado, evitando fazer na frente dos colegas e, principalmente, não perder a calma com a situação. “É muito importante reforçar os pontos positivos destas crianças. Promover a integração com seus pares nas atividades escolares. É importante ter uma orientação feita pelos profissionais de saúde que estão envolvidos no tratamento para todas as pessoas que estiverem no cotidiano da criança”, finaliza Sônia.

Filhos