Ser cult é cool

Imagine um lugar com confortáveis poltronas, boa iluminação e decoração, e um ambiente aconchegante. Não, não se trata de uma mostra de decoração. Este local é perfeito para um bom bate-papo, mas não é um desses lounges que encontramos em festas. Surpreendentemente trata-se de uma sala de aula. É bem difícil imaginar uma classe como essa, conhecendo a realidade das escolas e universidades brasileiras, mas esta escola é diferente – ponto de encontro de pessoas interessadas em debater assuntos ligados à filosofia, cinema, teatro, artes plásticas, literatura e poesia. Trata-se da Casa do Saber, uma entidade que dá aulas das mais diversas áreas do conhecimento e que tem virado point de intelectuais e curiosos. Assim como esta escola, existem muitas outras instituições que oferecem aulas, workshops e palestras sobre assuntos inusitados e que, a cada dia, conquista novos interessados.

Ultimamente tem se tornado comum encontrar escolas deste tipo em que as matérias passam longe daquelas estudadas nos colégios e faculdades. Mais do que simplesmente um aprendizado, nesses lugares os alunos querem ampliar os horizontes, conhecer novas formas de pensamento, encontrar gente interessante. A vantagem é que nesses locais não existe reprovação, e as “provas”, são muito prazerosas – degustações e debates, por exemplo. A Casa do Saber, com sede no Rio de Janeiro e em São Paulo, conta com um time de professores de peso, que vai desde o poeta Ferreira Gullar à crítica teatral Bárbara Heliodora. “A idéia é fugir da relação professor-aluno, em que só o professor é a fonte de conhecimento. Aqui todos podem expor suas opiniões e pensamentos. É um espaço de troca”, define Ana Cecilia Martins, coordenadora da sede carioca.

O perfil de quem freqüenta esses cursos é melhor. É um grupo mais sofisticado, que tem como proporcionar oportunidades diferentes e tem um papo bacana

Similar à Casa do Saber, o Instituto Antônio Abranches, também no Rio de Janeiro, oferece uma gama de cursos ligados à filosofia. “Queríamos estabelecer um espaço não-acadêmico para pensar na contemporaneidade”, explica Claudia Silveira, professora e uma das sócias do local. Um dos mais famosos ciclos de estudos foi “Os pensadores”, que falava dos filósofos pré-socráticos. Nesse e em outros cursos, a instituição costuma receber um publico variado – homens e mulheres, estudantes e aposentados – interessados apenas em trocar idéias e repassar o conhecimento.

Além do aprendizado

Há quem aproveite essas aulas com um objetivo maior do que simplesmente aprender. A economista V.C., 31 anos, que pediu para não ser identificada, conta que entrou numa dessas escolas para fazer contatos e conhecer gente interessante. “O perfil de quem freqüenta esses cursos é melhor. É um grupo mais sofisticado, que tem como proporcionar oportunidades diferentes e tem um papo bacana”, afirma ela que já fez curso de filosofia, enologia e jazz. “Ficava viajando quando tentava conversar sobre isso. Não entendia nada e me sentia mal. Como nem todo mundo conhece bem esses assuntos, resolvi procurar aulas especializadas”, explica.

De quebra, enquanto fazia um curso de introdução ao universo dos vinhos, V.C. arrumou um “namorico” (como ela mesma define) com o professor, entre goles de Pinot Noir e Cabernet Sauvignon. “Ele era maravilhoso. Educado, fino, cheio de assuntos interessantes. Fiquei encantada. Aprendi muito sobre a bebida. Devo tudo o que conheço sobre vinhos a ele”, exagera, entre longas risadas e suspiros.