Até debaixo d’água

Vamos viajar um pouco. A Louis Roederer, uma das mais antigas casas de Champagne, fundada em 1776, decidiu amadurecer o seu espumante mais famoso, o Cristal, debaixo d’água. Vai testar uma nova maneira de amadurecer seus vinhos, depositados agora a 15 metros de profundidade na baía do Mont Saint Michel (Monte de São Miguel), na Normandia, França.

Vão ficar lá por 12 meses, embalados pelo mar da Mancha a uma temperatura constante de 10º C, com pouquíssima ou nenhuma luz e, claro, sem problemas de umidade. Lá embaixo estão caixas da Brut Premier e da Cristal 2002. Em junho de 2009 vão retirar essas garrafas da baía e compará-las com as que são normalmente guardadas em terra firme, na vasta adega de Roederer em Reims (guarda até três milhões de garrafas).

Agora mesmo descobriram ânforas de vinho na costa sul do Mediterrâneo: um navio que teria afundado há mais de 2.400 anos carregado com mais de 500 ânforas de vinho

Sobre o Champagne Cristal a leitora já deve ter ouvido falar. Sua garrafa é de cristal, com o fundo chato. Foi criada assim, especialmente para o Czar Alexandre II, da Rússia. O imperador temia atentados contra a sua vida e que as garrafas verdes, normalmente utilizadas, escondessem uma bomba. Daí que Louis Roederer encomendou uma garrafa especial, branca, para que Alexandre pudesse ver nitidamente o seu conteúdo. Ela também não poderia ser côncava na base (um recurso para reforçar a garrafa em razão de grande pressão interna). Tinha então que ser um vidro mais forte, de cristal e ter o fundo plano. E assim nasceu a Cristal, criada exclusivamente para Alexandre II em 1876, e só comercializada em 1945. Foi a primeira cuvée de prestige (o rótulo premium, o de melhor qualidade) criada na França. Seu preço é altíssimo: nos Estados Unidos, uma garrafa de 750 ml custa de US$ 350 para cima. Aqui, na Imigrantes Bebidas, fica por uns R$ 1.600,00.

São preciosidades como essas que serão testadas debaixo d’água. Outros produtores já fizeram esse teste, mas com vinhos parados. Apenas, essa não seria essa a primeira vez que espumantes ficaram amadurecendo debaixo d’água e muito mais do que um ano.

Agora mesmo descobriram ânforas de vinho na costa sul do Mediterrâneo: um navio que teria afundado há mais de 2.400 anos carregado com mais de 500 ânforas de vinho. Arqueólogos de Chipre dizem que ele estaria carregando o renomado vinho tinto de Quíos, talvez o mais caro vinho grego do período clássico e, segundo a mitologia, o primeiro vinho tinto a ser produzido. Esse vinho ainda não foi provado, mas certamente já passou do ponto.

Houve, porém, um primeiro teste, acidental, antes que mergulhassem a Cristal no mar. E parece que os resultados foram excelentes. Continue ligada, pois a nossa viagem continua.

Em 1849, o Niantic, baleeiro adaptado para veleiro de passageiros, chega à enseada de Yerba Buena, na Califórnia. Não consegue aportar, com o cais congestionado e o mar coalhado de barcos – que trouxeram milhares de aventureiros de todas as partes do mundo dispostos a participarem da corrida do ouro, que começara um ano antes.