Não só a segurança e a faixa etária precisam ser levadas em conta, mas também a função do brinquedo. Há alternativas simples que não têm uma divulgação tão ampla, mas que podem fazer a diferença: os brinquedos educativos e artesanais. Geralmente feitos com madeira ou tecido, ele se destacam pela qualidade, pela simplicidade e pela função pedagógica que adquirem.
Segundo dados da Associação Brasileira de Brinquedos Educativos (Abrine), a participação desse segmento no setor de brinquedos aumentou de 5% em 2001 para 8% em 2006, e o número de lojas especializadas no Brasil cresceu 300% no mesmo período. No entanto, muitos estabelecimentos também fecharam devido à baixa procura. “Acho que esses brinquedos podem cair em desuso, pois os pais geralmente preferem os eletrônicos. Mas hoje há várias escolas que optam pelos jogos educacionais. Algumas, particulares e públicas, trabalham com blocos de Lego para ajudar na cognição, na aprendizagem”, observa Sueli de Abreu.
Tem gente que entra, olha e não gosta. Esse tipo de brinquedo não tem muito apelo comercial. O que se vê em todas as propagandas de TV são os brinquedos eletrônicos, então, por isso, os artesanais acabam ficando ‘escondidos
A Trenzinho é uma das lojas pioneiras na confecção e venda de brinquedos educativos. Localizada em São Paulo, com dois estabelecimentos (nos bairros de Pinheiros e Perdizes), ela foi criada em 1971 com a proposta de projetar brinquedos artesanais. “Os produtos nada têm de sofisticado – muito pelo contrário, eles se baseiam na simplicidade para serem interessantes. Focamos no objetivo de despertar o interesse das crianças até seis anos de idade, tornando os brinquedos educativos e seguros, sem deixar de lado o aspecto lúdico e divertido”, afirma Altino Ito, proprietário da loja desde a sua fundação.
Altino Ito chama a atenção para a importância de se respeitar as características e as necessidades de cada faixa etária na hora de escolher o brinquedo: “Até os três anos, é preciso estimular o uso do corpo, pois nesta fase a criança está aprendendo a lidar com os sentidos, reagindo aos estímulos externos e processando as informações. Ela precisa entrar em contato com coisas concretas, pegar e manipular objetos”, indica Altino, que desaconselha os aparelhos eletrônicos neste período do desenvolvimento. Para ele, brinquedos à pilha, como carrinhos e bonecas que fazem tudo por si sós, são voltados para os adultos: “Os pequenos querem e precisam experimentar, sentir, interagir. Quantas vezes não os vemos tentando abrir para ver como funciona? Alguns eletrônicos podem ser até educativos, mas há restrições. Além de serem mais frágeis, fazem com que a criança fique passiva, sem vivenciar a experiência e o movimento”, diz. Ele também não recomenda jogos violentos de vídeo-game até os sete anos, pois até esta idade a criança ainda não distingue bem o que é real e o que é imaginário.
Um outro fator que torna os brinquedos educativos mais atrativos é a prioridade da segurança na sua composição. “Temos a preocupação de evitar superfícies cortantes, pontiagudas e tintas que podem ser tóxicas, e usar materiais de boa qualidade e agradáveis ao toque e aos olhos”, afirma Altino Ito, que valoriza a utilização da madeira, por ser um material natural, mais pesado e mais durável que o plástico, além de permitir um melhor acabamento. Ele destaca, porém, a versatilidade de brinquedos como o Lego, feito de plástico, que tem as vantagens de ser lavável, proporcionar um visual atrativo e facilitar a montagem e desmontagem dos blocos.
Outra loja que trabalha com brinquedos pedagógicos é a Dumbo, localizada no shopping Via Parque, no Rio de Janeiro. Há mais de 35 anos no mercado, a Dumbo segue a mesma linha de produtos voltados para o desenvolvimento da percepção visual, da coordenação motora e da imaginação das crianças – inclusive aquelas com dificuldade de aprendizado ou com deficiências. Os brinquedos são feitos geralmente de madeira, com cores, formas e texturas diferentes. Apesar de contar com um público fiel, as vendas se mantêm. “Tem gente que entra, olha e não gosta. Esse tipo de brinquedo não tem muito apelo comercial. O que se vê em todas as propagandas de TV são os brinquedos eletrônicos, então, por isso, os artesanais acabam ficando ‘escondidos'”, afirma Edilene Constante, que trabalha na loja há dez anos.
A psicopedagoga Sueli de Abreu não ataca o uso dos eletrônicos e dos vídeo-games, mas enfatiza o cuidado com eles: “Esses jogos viraram praticamente ‘babás eletrônicas’. O problema é que os pais não acompanham, deixam seus filhos jogando e acham que está tudo bem, e nem sempre está. Mas há jogos de computador que são educativos e proporcionam uma interação até mesmo com adolescentes e responsáveis”, analisa ela, que trabalha diretamente com tecnologia educacional. Ela lembra também os jogos de tabuleiros, que andam esquecidos atualmente: “Há uma vasta gama de jogos como War e Imagem e Ação, que são ótimos para maiores de oito anos, mas hoje quase não ouvimos mais falar deles. É uma pena”, lamenta. Para ela, o melhor tipo de brinquedo é aquele que, além de unir segurança e adequação à faixa etária, estimula a imaginação de maneira positiva. “Às vezes nem precisa ser um brinquedo fabricado. Essa função pode ser exercida por um objeto qualquer, que vai chamar a atenção da criança da mesma forma”, completa.
Confira abaixo que tipos de brinquedos são recomendados de acordo com a faixa etária das crianças:
0 a 12 meses
Mordedores de plástico e bonecos de pano laváveis (sem oferecer riscos ao serem levados à boca), móbiles de berço (para a atenção visual), chocalhos e enfeites com guizos (para estimular a audição), brinquedos flutuantes para o banho.
1 ano a 3 anos
Brinquedos de rolar (que induzem a engatinhar e andar), e de apoiar e empurrar (como cavalinho de madeira e “joão-bobo”), tintas atóxicas e papel para pintar, peões, bonecas de pano, bichos de pelúcia, brinquedos de praia (como baldinhos), blocos e jogos de empilhar peças grandes. A partir dos 2 anos e meio: peças de encaixe, caminhões e carrinhos de puxar.
4 anos a 6 anos
Tudo que estimule o “faz-de-conta”: bonecas (especialmente bebês), carrinhos mais sofisticados, jogos eletrônicos (que não sejam violentos), figurinhas, livros com figuras e fantoches.
acima de 6 anos
Quebra-cabeças, dominó, cartas, jogos de encaixe elaborados (tipo Lego), jogos de memória, jogos de computador, jogos de tabuleiro, skates, bicicletas, objetos voadores, ping-pong, bonecos de ação e bonecas do tipo Barbie e Polly.