Bebeu demais, ressaca braba. Causa e efeito de consumo abusivo de qualquer bebida (e não apenas vinho) são nossas velhas conhecidas. Mas existem outros probleminhas causados pelo consumo de vinho. E não precisa ser em excesso. São algumas alergias e alguns efeitos colaterais. Entre eles, amigas, um tesão e-n-o-r-m-e, fora de hora e de controle.
Alergias – O Aurélio define alergia como “… estado de hipersensibilidade causado por exposição a determinado antígeno, dito alergênio, sendo observadas reações imunológicas nocivas se houver subseqüentes exposições a este mesmo alergênio”.
Tradução: é o sistema imunológico do nosso corpo respondendo à presença de um corpo estranho. As alergias manifestam-se normalmente através de enxaquecas, dores de cabeça, febre, coceiras, erupções na pele, cólicas, diarréias, asma, inchaços (no rosto), olhos vermelhos e lacrimejantes etc. Nosso corpo tenta nos proteger da presença dessas matérias que considera estranhas. São os pólens, pós, poeira, pêlos, fibras, alimentos e bebidas, entre outras.
Às vezes, essa resposta alérgica pode ser excessiva. A “cura” proposta pelo nosso sistema de defesa pode ser pior do que o ataque alérgico e até ameaçar a nossa vida. É o caso do conhecido “choque anafilático”, resultando num edema da laringe e na obstrução da garganta. Situações que, se não tratadas imediatamente (com adrenalina, corticóides e anti-histamínicos), podem nos sufocar até a morte.
Muita gente acha que a principal causa de alergia dos vinhos se deve ao anidro sulfuroso, uma forma de enxofre utilizada até hoje, desde os tempos dos romanos, há mais de 2 mil anos, como preservativo de alimentos e bebidas. O curioso é que se queixam dos vinhos mas confessam que adoram frutas secas, não sabendo que estas levam muito mais sulfitos do que o vinho.
Na verdade, a alergia que o vinho provoca em alguns consumidores tem origem nas suas histaminas (conforme o Aurélio, “Produto da descarboxilação da histidina, encontrado também no organismo, cristalino, incolor, solúvel em água, com ação vasodilatadora e constritora de músculos lisos.”) ou nos seus taninos. Ambos têm origem da casca da uva, daí que são encontrados mais facilmente nos vinhos tintos que nos brancos (os tintos são prensados com as cascas, ao contrário dos brancos).
Em alergia vale o velho ditado: o alimento de uma pessoa é o veneno de outra. Podemos, em teoria pelo menos, ser alérgicos a qualquer um dos milhares de componentes do vinho. Mesmo de vinhos orgânicos, que também contêm sulfito, além de histaminas e taninos. Mesmo que o produtor não queira usá-los, eles vão estar presentes: são criados naturalmente como subproduto da fermentação. Estão também presentes em sucos de frutas, saladas e muitos outros produtos que os utilizam como preservativo.
A ameaça é muito pequena, mas a americana FDA (Food and Drug Administration) impõe que cada alimento ou bebida contendo mais de 10 partes por milhão de sulfito (o que inclui virtualmente todos os vinhos) informem sua presença no rótulo. Os vinhos finos podem conter no máximo 350 partes por milhão – um nível extremo só alcançado por aqueles vinhos de garrafão (onde deixam um ligeiro aroma de fósforo queimado). Agora, compare: alguns alimentos chegam a conter 6.000 partes por milhão!
Como regra geral e exclusivamente sob o ponto de vista das alergias, os vinhos maduros são melhores que os jovens, já que a presença das histaminas e taninos é menor (incorporados que foram ao vinho). O vinho engarrafado é melhor do que o que ficou grande tempo em barril (pois o carvalho é grande fornecedor de taninos); vinhos de boutique (produção pequena, exclusiva) são melhores do que os produzidos em massa. E vinhos brancos (menos taninos) são melhores que vinhos tintos (mais taninos).
Mas não esqueça que isso vale para quem é alérgico a ponto de precisar viver numa bolha.
Tesão – O tesão pode ser um efeito colateral – que como sabemos é definido como o resultado indesejado e não terapêutico causado por um medicamento ou por um efeito secundário. É uma reação inesperada e imprevista a uma substância – que eventualmente pode causar algum mal, pois nem todo efeito colateral é nocivo. Por exemplo, você toma um complexo multivitamínico e sua urina fica amarelada. Não causa mal algum. Ou você pode ter uma indigestão ao tomar remédio para artrite como resultado de gastrite ou estômago inflamado. Não é uma alergia, mas efeito colateral indesejado.
Os efeitos colaterais provocados pelo vinho (na verdade pelo álcool que ele contém) são a agressividade ou um estado emocional descontrolado após uns poucos drinques. As causas bioquímicas desse problema são desconhecidas. Esse desconhecimento e o aspecto imprevisto e inesperado do fato é, inclusive, utilizado em tribunais para estabelecer a defesa das pessoas nesses estados mais exaltados (isso quando a coisa chega à delegacia).
O segundo efeito colateral é o tesão excessivo induzido pelo álcool. É quando uma pessoa com um pinealoma – um raro tumor benigno da glândula pineal, no cérebro – toma uns poucos drinques, disparando intenso desejo sexual e um comportamento descontrolado como conseqüência. É a ocasião em que você, se estiver com esse pinealoma, e tomando um inocente drinque com um amigo num restaurante, não gostar do sentido duplo do convite: “O que quer comer?”. A glândula pineal secreta um hormônio, a melatonina, que controla a pigmentação da pele e o nosso ciclo de sono e o estado de alerta. Acabamos alertas demais. Não é brincadeira, não.
Pois, é isso: o vinho responde por pouquíssimos e isolados probleminhas. Deguste-o à vontade.
Mas se quiser saber mais sobre alergias e tesão – e que vinhos acompanhar nesses casos – é só clicar para o Bolsa ou para a Adega & Bar.