Apesar de já não se falar tanto em microcefalia causada por zika quanto em 2016, ano em que houve uma explosão no número de casos, o acometimento continua a afetar muitos bebês no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, em 2017 já foram 541 novas notificações de casos suspeitos. Mas o que é essa doença e como ela afeta o desenvolvimento infantil são dúvidas que podem não ter sido adequadamente respondidas. Desvende-as a seguir.
Microcefalia: o que é a doença
A microcefalia é uma condição em que a circunferência do crânio é menor que o considerado normal para a idade do feto ou da criança. No nascimento a medida adequada é de 32 cm ou mais*.

O neonatologista Gabriel Variane, do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, explica que o tamanho reduzido da cabeça ocorre em consequência de um atraso do desenvolvimento cerebral e, por conseguinte, da caixa craniana.
Quando causada por quadros infecciosos, no caso do zika vírus, por exemplo, a alteração é agravada pela destruição do tecido cerebral e por calcificações em uma parte específica do cérebro, os ventrículos.
“O mais preocupante é quando essas alterações morfológicas ocorrem no primeiro trimestre gestacional, que é quando a estrutura básica cerebral está sendo formada”, explica o neurocirurgião Sérgio Cavalheiro, neurocirurgião pediátrico do mesmo hospital. “Ainda não podemos prever quais serão os distúrbios neurológicos que essa microcefalia causará, mas, levando-se em consideração o grau de atrofia cerebral verificado e a presença de calcificações grosseiras intracranianas, é de se esperar que esses recém-nascidos venham a apresentar sequelas neurológicas severas”.
Microcefalia e Zika vírus
Depois de diversos estudos que abordaram a relação, hoje já é confirmado que a microcefalia está relacionada ao zika vírus. A confirmação científica só foi feita bom tempo após o início dos casos.
Assim como a dengue e a febre chikungunya, o zika é transmitido por picadas do mosquito Aedes Aegypti e tem forte afinidade com o Sistema Nervoso Central. Entre os sintomas da contaminação pelo zika estão febre, dor no corpo e erupções cutâneas.
Causas da microcefalia
Além do Zika, a microcefalia pode ocorrer devido a síndromes genéticas, exposição materna a substâncias tóxicas, consumo de drogas, alcoolismo materno ou infecções congênitas, como citomegalovírus, toxoplasmose, rubéola e varicela.
Sintomas da microcefalia em bebês e consequências futuras

A microcefalia pode ser percebida na avaliação do bebê logo após o parto, momento em que costuma ser medido o perímetro da cabeça. Mas também existem sinais que indicam a condição no dia a dia da família, entre eles estão a dificuldade na amamentação e alimentação, a espasticidade (distúrbio muscular que causa rigidez) e convulsões.
Muitas dessas características permanecem nos anos seguintes, quando também poderá ser notada deficiência intelectual e cognitiva e outros atrasos neuropsicomotores, como comprometimento da visão, da fala e da locomoção.
Todas essas condições dependem do grau de acometimento do tecido cerebral afetado durante o desenvolvimento dentro do útero.
Tratamento
De acordo com os especialistas, não existe tratamento capaz de reverter a microcefalia, tampouco um meio de evitar a contaminação do feto depois que a mãe teve a febre zika. O tratamento consiste em acompanhamento com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e pediatra desde os primeiros meses de vida, buscando minimizar as deformidades e obter o máximo desenvolvimento da criança.
*No dia 04/12/2015, o Ministério da Saúde alterou a medida determinante da microcefalia de 33 cm ou menos para 32 cm ou menos. O objetivo da mudança é “agilizar os procedimentos clínicos”, segundo a pasta.
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