“Homem já tem tudo, pra quê mais?”, diz Beliza Buzollo sobre a escolha de mulheres como personagens dos seus quadrinhos, que retratam as vivências femininas de garotas que não só gostam e se relacionam com outras mulheres, mas também com elas mesmas e até com homens.
As tirinhas falam sobre sexo, relacionamentos afetivos, orientações de saúde, aceitação, descobertas e tantos outros temas que, para Beliza, são importantes em igual escala, dependendo do momento.
Mineira de Uberaba, Beliza Buzollo, de 24 anos, saiu da sua cidade em direção a São Paulo para fazer faculdade de Publicidade e Propaganda na Universidade de São Paulo (USP).
Já desenhava desde novinha e sabia que queria seguir a área de criação. Fazia charges de assuntos variados, de notícias, das aulas, que ficaram mais frequentes no colegial. “Pra desenhar, a pessoa só precisa conhecer formas geométricas e volume. E existem vários tipos de criatividade. Não é nada mágico. É tipo quando você vai exercitar os músculos. É treino”, explica.
Com 32 quadrinhos desenhados até o momento desta matéria, Beliza conta que ainda existem muitas outras em seu caderno de rascunhos. “Eu não sou muito normal, né? Minha cabeça não para de ter ideias, de ficar observando as coisas ao redor. Minha imaginação é muito fértil, eu diria”.
“Eu tinha muita ideia. Até começar a desenhar, a ter coragem de tirar do rascunho, levou um tempo. Tinha medo de acharem meu desenho zoado. De falarem que não prestava. Tinha medo do fracasso mesmo. Demorei um pouco para dar a cara à tapa”, revela.
Ela começou a desenhar os quadrinhos despretensiosamente. Publicava um ou outro em alguns grupos do Facebook e percebeu que as respostas era muito positivas. “Não esperava essa repercussão. Fiquei muito feliz! É gratificante ver essa mensagem chegando e ocupando espaços de normalidade”, conta.
Com o tempo, as pessoas começaram a perguntar se ela tinha página na rede social. Foi quando nasceu “ Na Ponta da Língua”, em agosto de 2015.
Beliza conta que costuma fazer um quadrinho por semana e leva de 1 a 3 dias em média entre desenhar o rascunho e finalizar, mas não é uma regra.
São quatro personagens fixas, por enquanto, conta. Uma inspirada em seu próprio estilo, mas todas tiradas da imaginação da artista.
Mas Beliza conta que sempre toma o máximo de cuidado possível para não reproduzir algum discurso de ódio, de preconceito. Sempre pede a opinião de algum amigo sobre o que escreve.
O primeiro trabalho impresso dela será lançado dia 25 de maio. É um compilado de quadrinhos LGBT independente, dela e de mais três outros artistas, que escolheram o mês e o Museu da Diversidade, em São Paulo, como cenário.
Mais HQ: 14 ilustrações de brasileiro que se inspira em quadrinhos, música e cinema