Outubro de 1961. Um mês antes, o primeiro muro de Berlim havia sido construído. O embargo norte-americano dominava Cuba. E a bomba de maior potência da história foi detonada. A RDS-220 era mais de 3000 vezes mais potente que a bomba de Hiroshima.
Também conhecida como BombaTsar, referência ao Czar Ivan, o Terrível, a hiperbomba foi detonada pela URSS no Círculo Polar Ártico, na ilha de Nova Zemlia, constantemente usada pelos russos em testes bélicos. O poder da bomba era de aproximadamente 50 megatons, equivalente a 50 milhões de toneladas de dinamite. Sozinha, era 10 vezes mais potente do que todos os explosivos disponíveis durante a Segunda Guerra Mundial.
Ela foi lançada de um bombardeiro Tupolev TU-95 e liberada a uma altitude de 10.500 metros. O avião já estava a 45 km de distância quando a bomba explodiu, mas mesmo assim foi atingido pela onda de choque e quase caiu, despencando 1000 metros de uma vez só. O cogumelo nuclear chegou a 64 km de altura, atingindo a mesosfera, camada da atmosfera em que os meteoritos entram em combustão.
A BombaTsar foi encomendada pelo secretário-geral Nikita Kruschev, no 22º Congresso do Partido Comunista. Mas, inicialmente, deveria ter 100 megatons, causando o dobro da destruição. Uma explosão dessa magnitude poderia criar tornado de fogo gigante capaz de engolir uma área de 30 mil quilômetros quadrados (mesmo tamanho do estado de Alagoas, por exemplo). Mesmo com “apenas” 50 Mt, a bomba fez com que superfície da ilha fosse nivelada, varrida e polida. Qualquer pessoa que estivesse num raio de 100 quilômetros do centro da explosão sofreria queimaduras de 3º grau.
Funcionamento
As bombas de Hiroshima e Nagasaki possuíam apenas um estágio, onde um explosivo comum, ao estourar, comprimia o material radioativo que resultava na quebra nos núcleos de seus átomos. A grande quantidade de energia liberada é o que causa a grande destruição. Depois, foi inventada a bomba de hidrogênio, com dois estágios. No segundo, a explosão ainda cria a fusão do núcleo de partículas de hidrogênio, aumentando a energia liberada, fazendo o mesmo processo que ocorre em estrelas como o sol. Já a BombaTsar possui, ainda, um terceiro estágio, também de hidrogênio.
O que explica uma onda de radiação não ter varrido grande parte da Europa, é que o urânio, presente nas bombas de dois e três estágios, foi substituído por chumbo, diminuindo a radioatividade emitida.
O efeito benéfico da BombaTsar, se é que houve um, foi o medo generalizado que tomou conta do mundo, inclusive da URSS, pelas dimensões que a guerra poderia chegar, resultando, algum tempo depois, em um tratado que proibia a construção de mais bombas para ambos os lados do conflito. Andrei Sakharov, físico nuclear líder do projeto da RDS-220, percebeu a monstruosidade de seu invento e tornou-se um ativista antiarmas e ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1975.