Há 60 anos, a cadela Laika foi enviada para uma missão espacial da qual ela não voltaria mais. O sacrifício da cachorrinha não foi à toa: sua viagem registrou a primeira vez na história que um animal a bordo de uma espaçonave entrou na órbita da Terra e mudou de uma vez por todas os projetos para a exploração espacial pelo homem.
Por que Laika foi enviada ao espaço?
Em outubro de 1957, a União Soviética realizou um feito para a tecnologia espacial da época: lançou um satélite robusto em rota orbital. Antes do sucesso da missão Sputnik 1, soviéticos e americanos já haviam colocado espaçonaves nas camadas suborbitais da Terra, inclusive com animais dentro, mas jamais haviam rompido esta fronteira.
Utilizando a mesma tecnologia empregada no Sputnik 1, o governo soviético decidiu que iria além: deu o prazo de um mês para que a agência espacial do país colocasse em órbita um novo satélite e que este tivesse algo a mais.
Os cientistas, então, resolveram enviar um animal, de modo que poderiam ainda avaliar todas as reações físicas do mamífero – e optaram, então, por um cão.
O problema é que, à época, não havia tecnologia suficiente para trazer o satélite de volta à Terra. Ou seja, do cachorro seria sacrificado.

Como Laika foi escolhida?
Para caber no Sputnik 2, o cachorro não poderia ser maior que 35 centímetros e pesar mais que 7 quilos. E os cientistas decidiram que deveria ser um vira-lata, uma vez que um cão de rua seria mais resistente que espécies de raça, e uma fêmea, porque seria mais adequado para acoplar o sistema sanitário no bichinho.
Três cadelas chegaram à indesejada final: Albina, Muja e Laika. Albina já havia participado de dois voos suborbitais e foi descartada por conta de sua “experiência”. Entre as outras duas cachorrinhas, Laika foi a escolhida por ser a mais dócil. Ela tinha 3 anos e pouco menos de 6 quilos.
Sputnik 2: erros e acertos
Pesando mais de 6 toneladas e com um animal a bordo, o satélite conseguiu entrar em órbita com sucesso e manteve o voo em torno da Terra por cerca de 6 meses. Mas os acertos terminaram por aí.
A princípio, o plano era colocar a Sputnik 2 em órbita e depois que a missão estivesse cumprida, Laika receberia uma substância letal para que morresse sem dor ou sofrimento. Mas o plano falhou.
A partir da nona rotação do satélite sobre a Terra, um erro de cálculo fez com que a temperatura interna da cabine aumentasse e ultrapassasse os 40 graus. Dessa forma, a cadelinha não suportou o calor e foi acometida de uma hipertermia poucas horas após o lançamento.
Ainda assim, a agência espacial soviética divulgou a versão de que Laika sobrevivera e que se manteve viva por semanas, o que a tornou uma celebridade no país – foi estampa de selos e tem até estátua.

Como Laika nos ajudou a explorar o espaço
Antes de embarcar, Laika foi operada e recebeu dois sensores: um na costela, para medir sua respiração, e um nas artérias carótidas, para medir sua pulsação. Dessa forma, a equipe responsável pelo projeto pode identificar que após um aumento brusco no ritmo respiratório e cardíaco no lançamento, a cachorra logo teve seu quadro estabilizado. Ou seja, o caminho para o envio de um ser humano estava aberto.
Menos de quatro anos depois, a mesma União Soviética lançou o astronauta Yuri Gagarin ao espaço: foi o primeiro homem a realizar a façanha. E depois de Laika, nenhum outro animal foi lançado em uma missão sem retorno.
O erro no cálculo da temperatura da cabine também inspirou os cientistas soviéticos a criarem modelos de ejeção de emergência, que salvaram a vida de diversos outros astronautas.
