Mentir é questão de prática: quanto mais você mente, mais saberá mentir, diz ciência

Aquele papo de que o nariz cresce quando contamos uma mentira, que aprendemos com o Pinóquio, pode até não ser verdade. Mas cientistas descobriram que quanto mais mentimos, mas sabemos – e queremos – mentir. Assim como trair e coçar, mentir também é só começar.

Cientistas britânicos confirmaram que pessoas que contam mentirinhas bobas e egoístas no início da vida devem, provavelmente, progredir para falsidades maiores e, com o passar do tempo, ter um cérebro adaptado à tamanha desonestidade e fantasia criada. A descoberta, segundo os pesquisadores, é a justificativa que faltava para o comportamento de alguns políticos e financistas corruptos, cônjuges infiéis e outros sem caráter.

Se acostumando com a mentira

Ok, todo mundo mente, de vez em quando. Às vezes, é preciso mentir  para fazer uma amiga se sentir melhor (“esse vestido ficou ótimo em você!”), ou explicar porque um e-mail ficou sem resposta (“Eu nunca o recebi!”). Porém, algumas pessoas, é claro, mentem mais do que outras – e em piores níveis.

Mas a desonestidade tem sido difícil de estudar. Usando scanners cerebrais em um laboratório, os pesquisadores britânicos instruíram os participantes a mentir para ver como seus cérebros reagiam. Um dispositivo funcional de varredura magnética monitorou a atividade cerebral, com os pesquisadores se concentrando na amígdala, uma área associada à resposta emocional.

A equipe testou 80 voluntários trabalhando em pares que foram convidados a adivinhar o número de moedas de um centavo em um frasco. Para começar, os participantes foram informados de que eles e seus parceiros obteriam recompensas financeiras para estimativas precisas.

Os cenários foram então repetidamente alterados, de modo que, em alguns casos, os participantes se beneficiavam se eles deliberadamente superestimassem o número de centavos. Quando souberam que mentir sobre a quantidade de dinheiro poderia beneficiá-los porém traria desvantagem para seus parceiros, os voluntários inicialmente superestimavam apenas ligeiramente a quantidade de centavos. Isso causou uma forte resposta amígdala, revelada em exames de cérebro.

ShutterStock

Mas ao longo de várias corridas usando o mesmo cenário, os exageros nas previsões se tornavam cada vez mais pronunciados, enquanto as respostas da amígdala diminuíram. Ou seja, quando mentimos para o lucro pessoal, a nossa amígdala produz um sentimento negativo que diminui à medida em que estamos dispostos a mentir.

“No entanto, esta resposta desaparece à medida que continuamos a mentir, e quanto mais cai, maiores ficam as nossas mentiras, o que pode levar a um vício perigoso onde pequenos atos de desonestidade se transformam em mentiras mais significativas”, explicou Neil Garrett, o principal autor da pesquisa. “Pense nisso como perfume. Você compra um perfume novo, e cheira forte. Alguns dias depois, cheira menos. E um mês depois, você não nem sente mais”.

Psicopatia e Amígdalas

O especialista ainda acrescenta que esse resultado está de acordo com sugestões de que nossa amígdala sinaliza aversão a atos que consideramos errados ou imorais. “Só a desonestidade foi testada nesta experiência, mas o mesmo princípio também pode se aplicar  em outras ações, como a tomada de risco ou violência comportamento”, reforça.

A amígdala é constituída por dois feixes de nervos em forma de amêndoa embutidos no cérebro, que estão ligados ao medo, à ansiedade e às fobias sociais. Elas também desempenham um papel no controle da agressão. Estudos têm demonstrado que muitos psicopatas, que não têm empatia e são muitas vezes mentirosos realizados, têm amigdalas pequenas.

Mais sobre mentira