Ambição: do bem ou do mal?

A palavra “ambição” tem sua origem no latim “ambire”, que significa “aquilo que nos faz criar nosso próprio caminho“. Mas ao contrário do que a tradução literal da palavra nos transmite a maioria das pessoas não vê este sentimento com bons olhos e o condena como algo negativo e prejudicial. O ambicioso virou sinônimo de ganancioso, capaz de tudo para conseguir o que quer. No entanto, estudos desenvolvidos por psicanalistas apontam a ambição como um impulso inerente ao processo de desenvolvimento humano e pode ser um grande aliado daqueles que buscam o crescimento profissional e financeiro, desde que usado de maneira correta e sadia.

Para a psicóloga Heloisa Knoedt, a ambição é o desejo que nos permite fazer aquisições que geram resultados para o nosso desenvolvimento. Ela aparece como produto do temperamento (intensidade dos afetos, sensibilidade aos estímulos, disposição inata) acrescido da influência da cultura, dos hábitos familiares e das experiências que vão formando a personalidade: “Como tudo na natureza humana, a ambição pode ser um impulso que gera crescimento ou ser fonte de sofrimento. É a motivação que faz a diferença”.

De onde vem a motivação?

A especialista explica que, no inconsciente humano, existem motivações irrealistas, imaturas e infantis, que se baseiam no medo. “A ambição pode substituir outra necessidade a que a pessoa não tem acesso porque está inconsciente”, afirma Heloísa, que acredita que o ambicioso tenta provar sua superioridade a todo instante, em função da baixa autoestima ou do medo de ser inferior.

“Nesse caso a ambição se torna frenética, compulsiva. O sujeito passa por cima da razão para atingir seu objetivo. Apegado ao prazer de ganhar, ele vive temendo perder e evitando tudo o que possa por em risco seu objetivo. Esse medo termina superando e obstruindo o prazer de ganhar. Ele pode até ganhar, mas perde a capacidade de desfrutar o que ganha. Por não enxergar a real motivação, está mais suscetível ao fracasso”, observa a especialista.

Por outro lado, quando a ambição tem origem no anseio de realização, ela pode ser descontraída, fluida e sem tensão, acrescenta a psicóloga, permitindo que o sucesso seja alcançado mais facilmente: “Ambição não é garantia de prosperidade, sucesso ou prestígio. Para usar a ambição a seu favor é preciso ter aptidão emocional. Reconhecer, interpretar e responder de forma construtiva às próprias emoções, acolhê-las e usá-las a seu favor. A postura ética do sujeito é sempre fruto de aptidões emocionais”.

CONHEÇA AQUI A HISTÓRIA DE AMBICIOSOS DO BEM: SIGMUND FREUD, BILL GATES, AYRTON SENNA E MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Níveis de ambição

A psicóloga Rosane Caiado, diretora da empresa Contexto Consultoria, divide a ambição em três níveis: a ambição normal, necessária para o desenvolvimento; a ambição patológica, que está associada a um comportamento obsessivo e cego; e a ausência de ambição, que está presente nas pessoas que têm dificuldades em estabelecer metas e construir caminhos. Para Rosane, estas últimas são pessoas que vivem em um núcleo familiar carregado de críticas e medos.

“A ambição que não dá certo está presente na história dos estelionatários, naqueles que tentam a qualquer custo obter sucesso, fama e dinheiro. A ‘boa’ ambição, por assim dizer, está presente nas histórias dos grandes homens, que agiram com força e perseverança para atingir seus objetivos. Dentre eles encontramos Ayrton Senna, Freud, Bill Gates e até Madre Tereza de Calcutá, se considerarmos sua grande força”.

Para o empresário e jurado do programa Ídolos Luiz Calainho, a ambição é um sentimento positivo, que move as pessoas ao crescimento e impede que se acomodem em suas profissões. Conhecido como um grande empreendedor, Calainho iniciou sua carreira em 1991, aos 23 anos, quando ingressou na Sony Music Entertainment para ocupar os cargos de diretor de marketing especial e, em seguida, de diretor-geral de marketing, até chegar à vice-presidência da empresa, antes mesmo de completar 30 anos de idade.

Em 2000, aos 33, resolveu investir em seu próprio negócio, montando a L21, empresa que atua em diversos segmentos do entretenimento, como o portal Virgula, a Dial Brasil, que controla as rádios SulAmérica Paradiso e Mix Rio FM; o Sesc Rio Noites Cariocas, reedição do cultuado evento da década de 80 realizado no Morro da Urca; a Agência Frog, especializada em projetos digitais de comunicação e a Acesso Distribuidora, com foco em CDs, DVDs e Blue Rays. Hoje, Luiz Calainho é sócio de oito negócios distintos, porém sinérgicos, com faturamento anual em torno de R$ 68 milhões.

“Claro que é importante sempre querer mais, mas para o crescimento, além da ambição, é essencial se qualificar para o trabalho e persistir. E nunca esquecer que ética e respeito ao próximo são fundamentais”, destaca o empresário, que é formado em comunicação social pela PUC-RJ e pós-graduado em marketing.

À ética e ao respeito, Rosane Caiado adiciona sentimentos de recompensa, gratidão e bem-estar que, segundo ela, é o que identifica um ambicioso do bem: “Por influência talvez de uma má leitura do Cristianismo, a ambição muitas vezes é vista como algo ligado puramente à matéria, na contramão de valores ditos cristãos. Não é pouco comum depararmos com alguém nos consultórios sofrendo de culpa por ter adquirido este ou aquele bem, fruto de sua ambição. A ambição faz parte do sucesso em qualquer área da vida e está diretamente ligada à autoestima do sujeito, que se considera merecedor de crescer e multiplicar seus dons e recompensas”.