De acordo com o caderno temático “A nutrição e o consumo consciente”, publicado em 2003 pelo Instituto Akatu, aproximadamente 64% do que se planta no Brasil é perdido ao longo da cadeia produtiva e destes, 20% vão fora só no processamento culinário e hábitos alimentares. Infelizmente, em 2009, pouca coisa mudou.
É preciso arregaçar as mangas e mudar esse quadro, principalmente quando falamos de Brasil, um país em que a cada cinco minutos uma criança morre por problemas relacionados à alimentação. Um dos objetivos deste milênio, entre os líderes mundiais, é acabar com a fome e a miséria no mundo. Faça a sua parte: aprenda a reaproveitar!
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Ao desperdiçarmos tanto, contribuímos para a degradação econômica e social do país, prejudicando a saúde de milhões de pessoas que sofrem com a irracionalidade do desperdício. Os números apresentam um paradoxo entre o potencial econômico do Brasil, que produz muito mais do que necessita internamente, e os milhares de cidadãos excluídos, sem acesso ao alimento de que necessitam para manter a vida.
A falta de consciência da população é um dos fatores que mais influencia nesta problemática. “De início, nota-se alguma resistência na assimilação de novas ideias a respeito de aproveitamento integral dos alimentos. Sabe-se que as mudanças de comportamento acontecem de forma muito lenta. Não se espera que hábitos de uma vida inteira mudem em dias ou meses. Por isso, é essencial começar a multiplicar as informações ao maior número de pessoas possível”, atesta a nutricionista Carla Alves.
Mudanças de comportamento acontecem de forma muito lenta. Não se espera que hábitos de uma vida inteira mudem em dias ou meses. É essencial multiplicar as informações ao maior número de pessoas possível
Casca, talos e folhas
Atualmente a sociedade civil tem atentado para este contra-senso e se mobilizado, procurando participar ativamente do desenvolvimento social. Muita gente sabe que é importante a utilização de cascas, talos e folhas, pois o aproveitamento integral dos alimentos, além de diminuir gastos com alimentação e melhorar a qualidade nutricional do cardápio, reduz o desperdício, tornando possível a criação de novas receitas. Partes que iriam para o lixo podem ser bem aproveitadas, servindo para suprir a carência de nutrientes no organismo, tornando o cardápio mais saudável e criativo.
Esse conceito deve ser realizado no dia a dia por qualquer pessoa, independentemente de sua classe social ou econômica. Isso significa eliminar alguns preconceitos alimentares de que esse tipo de alimentação é somente usada em programas sociais voltados para população de baixa renda.
O desconhecimento dos nutrientes presentes nas partes “menos nobres” dos alimentos leva à perda de toneladas de recursos alimentares. “Este desperdício se caracteriza por qualquer alimento em boas condições fisiológicas que é desviado do seu consumo para o lixo, como ocorre nas sobras de refeições nos pratos em domicílios e restaurantes, no aproveitamento parcial de frutos, raízes e folhas, no descarte de produtos in natura com boas condições físicas, no caso de vencimento do prazo de validade e até na falta de formas alternativas de aproveitamento”, explica Danielli Botture, da RGNutri Consultoria Nutricional.
Técnicas de aproveitamento
Apesar da fome ser um problema social no país, a cultura brasileira desconhece técnicas para o aproveitamento integral dos alimentos. “Algumas atitudes praticadas pela maioria da população como, por exemplo, cozinhar os legumes sem a casca, podem em longo prazo contribuir para que o volume do desperdício aumente”, diz Danielli. A especialista Carla Alves completa: “Todos deveriam se conscientizar do enorme desperdício de nutrientes ao jogar no lixo certas partes dos alimentos. Por exemplo, folhas de beterraba contêm: B1 (metabolismo de carboidratos), B2 (redução de oxidação) e minerais como cálcio (responsável pelo equilíbrio de vários sistemas corporais), ferro (prevenção de anemias), zinco (sistema imunológico, metabolismo de proteínas, enzimas e função sexual)”.