O que as árvores fazem para o ar é incrível (e vital às cidades), diz botânico da USP

Talvez você, enquanto andava de bicicleta por um parque da sua cidade, já tenha percebido, impressionado, quantos tipos de árvore têm ao seu redor. Ou, então, tenha reparado nas folhas caídas no meio da calçada, olhado para cima, e percebido os ramos secos, no outono.  

Apesar de as árvores quase sempre terem um tom poético em nossa imaginação, ou mesmo no parágrafo acima, no mundo real, as folhas, frutos e flores não tem nem metade da atenção que merecem. Pelo contrário: na vida urbana, chovem pedidos de poda de árvore, a fim de evitar a sujeira das folhas no chão, as quedas de troncos e arbustos nos fios de eletricidade e eliminar, de vez, o que “está atrapalhando”. 

Tudo bem. Pode ser que você não seja um “caçador de árvores” e que, de fato, a arborização das cidades nem sempre considere estes problemas; o que não se pode negar, entretanto, é que a importância que as árvores têm nas cidades brasileiras não é tão valorizada como deveria.

Sofremos de um mal que talvez você nem saiba que exista: a cegueira botânica. “Não conseguimos visualizar as árvores que estão no nosso cotidiano”, decreta o botânico do Instituto de Biociências da Universidade São Paulo (USP), Marcos Buckeridge. 

E olha que, só em São Paulo, são 650 mil árvores nas ruas. Você já reparou se sua cidade tem um planejamento de arborização? Quantas árvores e de que espécies existem na sua rua? 

Arborização das cidades: benefícios

Shutterstock

No começo, era a natureza. Com o crescimento das cidades, o homem precisou decidir entre duas soluções sustentáveis: contornar as árvores com ruas e calçadas ou isolar a vegetação em grandes parques públicos. 

Já não é de hoje, entretanto, que adquirimos uma consciência verde. Afinal, as árvores no espaço urbano contribuem até para nossa saúde.

“As árvores são absolutamente vitais, especialmente no nosso clima tropical. Elas nos dão sombra e produzem vapor de água, que ajuda na saúde das pessoas”, explica o biólogo do Instituto de Biociências da USP, Marcos Buckeridge. 

shutterstock

“Elas também evitam doenças respiratórias, e atuam no controle da temperatura e da umidade”. 

Os dias ensolarados são a maior oportunidade para comprovar essa tese: embaixo das árvores, nas grandes cidades, a temperatura pode ficar até 5ºC mais baixa do que se você ficar exposto diretamente ao sol.

Relação com a natureza


arvore-parque-sp-1216-1400×2100.jpg

O equilíbrio emocional e o bem-estar também entram nessa conta do bem em prol de uma vida mais verde. 

Até a Ciência já comprovou: você precisa de 30 minutos de conexão com a natureza para se sentir melhor. “Já se sabe que quem vive em áreas arborizadas tende a ter menos problemas de depressão”, comenta Buckeridge. 

Sem contar a biodiversidade que as árvores levam para as cidades. “Nós só vemos algumas espécies de pássaros porque eles são atraídos pelas árvores”.

Problemas

A queda de árvores em cima de torres de fios de eletricidade e de telefonia, carros estacionados, casas e, infelizmente, pessoas, está entre os problemas que a arborização urbana pode trazer. 

Esta situação também deve ser prevista pelo Poder Público e, no caso de danos em redes de transmissão, pelas prestadoras de serviço. Um exemplo de planejamento é a cidade paranaense Maringá, em que os fios foram encapados, para trazer mais segurança e harmonia entre a vida urbana e as árvores.

“A arborização da cidade é espetacular; e, eles não aterraram os fios, mas deixaram encapados”, comenta o botânico.

Nem sempre essa harmonia é possível. Em muitas cidades, tudo se complica pelo fato de a responsabilidade sobre as árvores ser “dividida” por vários órgãos públicos.

“Em São Paulo, por exemplo, as subprefeituras cuidam das árvores em áreas urbanas, a secretaria do Meio Ambiente cuida das árvores dos parques e as pessoas cuidam das árvores que têm em casa”.

“Isso dificulta a administração. Na cidade, existe uma falha na Zona Leste, que tem calçadas muito estreitas. Mas, isso tem solução”.

Como ajudar

Shutterstock

Se você mora em um bairro em que não há arborização, pode também fazer sua parte. Você pode pedir ao Poder Público para plantar árvores em alguma região e serão avaliadas as condições e necessidades de plantio, além dos tipos de planta indicados para cada área.

Tipos de árvores

Conhecedor da arborização de São Paulo, o botânico explica que há algumas árvores mais comuns na cidade. Esta seleção tem a ver com a história do crescimento da cidade.

Shutterstock

“Vemos bastante Sibipiruna, Tipuana, Pau-ferro. A primeira forma um ‘tapete amarelinho’ em algumas avenidas; já a Tipuana é bem frondosa. O Pau-ferro tem um caule bonito e a flor amarela”.

Há ainda árvores mais novas, como pata-de-vaca (foto acima), ipês e palmeiras.

Manutenção

O planejamento da arborização de uma cidade também deve levar em conta a manutenção e a saúde das árvores.

“Quando se decide plantar uma árvore, é preciso saber que isso vai impactar por pelo menos 60 anos na vida dos moradores”, explica Buckeridge. Neste sentido, o tempo de vida da árvore precisa ser levado em conta. “Muitas vezes, não se pode colocar remédio na árvore, porque está em um ambiente urbano e pode contaminar uma pessoa”.

Por essa razão, o botânico sugere que São Paulo poderia ter um centro de estudo para cuidados com a árvore. “O assunto é suficientemente importante para isso”. 

Mesmo porque o conhecimento pode desmistificar a relação de amor e ódio que a população tem com as árvores.

“As pessoas leem que 50 árvores caíram em uma tempestade, mas não percebem que é um número pequeno perto de 650 mil. Ou, então, veem uma árvore inclinada na rua e acham que vai cair. Mas a árvore não oferece perigo nenhum”.

Potencial turístico


arvore-parque-sp-1216-1400×800.jpg

A conservação das árvores pode ainda ter um potencial turístico. A foto acima é do Parque Villa Lobos, em São Paulo, que, segundo informações do Governo do Estado, recebe 20 mil pessoas aos finais de semana.

O estado de Washington, nos EUA, virou uma referência em arborização. Eles têm até um mapa com a localização das árvores, zonas verdes e as espécies que dividem as calçadas com os pedestres. Já pensou se sua cidade também fosse assim?

Mundo verde