Por dia, 700 kg de lixo orgânico de shopping de SP viram adubo

O verde que se destaca em meio ao cinza e traz vida à dureza do concreto paulistano é mais do que um simples projeto de telhado verde. Inédita, a técnica da compostagem orgânica, que transforma os resíduos orgânicos da praça de alimentação do Shopping Eldorado, em São Paulo, em adubo, nutre uma grande horta que fica no telhado. “É o único telhado verde feito com lixo, em todo o mundo”, afirma o engenheiro agrônomo e responsável pelo projeto, Rui Signori, da empresa BioIdeias.

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De acordo com ele, a técnica foi implantada como solução dos resíduos orgânicos sólidos gerados pelo shopping. São mais de 700kg de lixo orgânico por dia, entre os restos de comida da praça de alimentação e os restos de matéria descartados pelo paisagismo interno. “Só na praça de alimentação são servidas 10 mil refeições diárias e todo o resíduo ia para o aterro”, lembra.

Para acelerar o processo de transformação dos resíduos em adubo, duas enzimas biopolímeras são utilizadas. O conceito

foi criado no centro de estudos de tecnologia da BioIdeias. “O processo normal demoraria cerca de 180 dias, o que seria inviável para o shopping. Com a técnica de aceleração, leva no máximo 15”, explica Signori.

Os resíduos orgânicos do shopping são separados e misturados às enzimas e a pó de serra em uma betoneira. O material é, então, separado em baldes e levado para o telhado. Com a compostagem e a reciclagem, que também é realizada, o Eldorado recicla 25% das 300 toneladas de lixo mensais.

Horta

Técnica de compostagem utiliza mais de 700kg de lixo orgânico, produzido em shopping paulistano, para adubar o único telhado verde feito com lixo no mundo – Crédito: Revista Bianchini

Instalada há mais de um ano, a horta é formada essencialmente do composto – não tem terra – e ocupa cerca de dois mil metros quadrados do telhado. “O objetivo é ocupar os 10 mil metros disponíveis”, conta o engenheiro. Ali, já foram plantados mais de dois mil pés de alface, berinjela, abobrinha, pimentão, jiló, além de flores e ervas medicinais, como hortelã, menta, erva cidreira, bálsamo, camomila e tomilho. A última plantação foi de morango.

“Não é qualquer planta que se dá bem no composto. Mas isso tudo faz parte do trabalho de pesquisa e adaptação”, afirma. Toda a produção é consumida pelos 400 funcionários diretos do shopping. O projeto custa cerca de R$ 12 mil, por mês, e foi responsável pela contratação de dois auxiliares de compostagem. “São os primeiros empregos verdes gerados pelo lixo no Brasil“, comemora Signori.

Além do Eldorado, outros quatro shoppings vão receber o projeto: Itaquera, em São Paulo, e Nova América, Nova Boulevard e São Gonçalo, todos no Rio de Janeiro.

Como aproveitar lixo para adubar em casa

Para aproveitar os nutrientes de um adubo orgânico em casa, o primeiro passo é separar o resíduo orgânico do restante do lixo. “É o mais importante. Se não separar, não há a possibilidade de compostar”, ensina o engenheiro agrônomo. A técnica é simples e não exige uma infinidade de equipamentos.

Em um liquidificador, bata todo o resto de comida com um pouco d’água. O material que se formará pode ser levado a qualquer vaso de plantas ou horta caseira. De acordo com Signori, a mistura já se trata de um pré-composto, quase um adubo. Mas é dentro de cinco ou seis semanas que o processo estará completo. “É um adubo rico em nutrientes, sem custos e ainda é uma solução sustentável. Além disso, as plantas irão gostar”, afirma.

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