App que te mostra mais velho vê tudo que você acessa na internet e usa seus dados

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Nos últimos dias, as redes sociais foram tomadas por fotos de pessoas com a aparência mais velha e muito provavelmente você é uma delas. A tecnologia responsável pela brincadeira é proveniente do FaceApp, um aplicativo que possui um filtro que envelhece o rosto dos usuários.

O app está fazendo tanto sucesso, que já foram feitos mais de 100 milhões de downloads na Play Store, loja de aplicativos do sistema Android.

Os usuários que baixaram o FaceApp, com certeza fizeram isso com intuito de se divertir e entrar na onda da foto envelhecida, mas nem imaginam a quantidade de dados pessoais que o aplicativo tem acesso depois de instalado no celular. Saiba quais e como essas informações são utilizadas pela empresa.

Quais são os dados aos quais o FaceApp tem acesso?

Para baixar todo e qualquer aplicativo, você precisa concordar com os termos de uso da empresa da qual ele faz parte. Porém, quase ninguém lê ou se importa com essas informações.

De acordo com Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky, empresa de cybersegurança, “64% dos brasileiros não leem (os termos de uso) antes de baixar qualquer aplicativo”.

Entretanto, o termo de uso do FaceApp deixa claro quais dados eles terão acesso a partir do momento que você concorda em instalar o aplicativo no celular ou tablet.

Segundo consta na Política de Privacidade do FaceApp, o aplicativo pode acessar informações de registro de navegação, além de arquivos de cookies e até mesmo o IP do aparelho.

O seguinte trecho foi retirado da política de privacidade e informa todos os dados dos usuários dos quais o FaceApp tem acesso:

O que não fica tão claro, é com qual finalidade essas informações são utilizadas. Para isso, o VIX conversou com especialistas para entender melhor como o FaceApp manuseia os dados dos usuários.

Como o FaceApp utiliza dados dos usuários

Para enviar publicidade

A prática de coletar dados não é incomum no mercado da tecnologia e, em sua maioria, são utilizados para enviar publicidade aos usuários.

“Essas informações ajudam a criar um perfil de consumo e expõem o dia a dia digital das pessoas, ou seja, onde ela vai, o que ela posta, o que ela tem, entre outros dados”, explica João Carlos Lopes Fernandes, professor do curso de Engenharia de Computação do Instituto Mauá de Tecnologia

De fato, o FaceApp afirma que as informações coletadas são compartilhadas com serviços e negócios do mesmo grupo do qual o aplicativo faz parte e que os dados do usuário podem ser usados para oferecer “informação e conteúdo personalizado para você e para outros, incluindo anúncios e outras formas de marketing”.

Para melhorar reconhecimento facial

Embora o FaceApp deixe claro que os dados não são compartilhados com empresas que não fazem parte do mesmo grupo, Fabio alerta que as fotos dos usuários – quem entrar na brincadeira cede os direitos das imagens publicadas através do aplicativo – podem ser compartilhadas com instituições que trabalham com inteligência artificial.

Shutterstock

“Por utilizar Inteligência Artificial para fazer as modificações a partir do reconhecimento facial, a empresa dona do app pode negociar o acesso a essas fotos para empresas que trabalhem com inteligência artificial, sem que necessariamente os dados saiam dos seus servidores. Várias empresas de tecnologia tem usado desse expediente, como a IBM usando a base de dados do Flickr para treinar seus algoritmos de inteligência artificial usados em reconhecimento facial”.

Assolini ainda ressaltou que o Facebook e o Instagram usam tecnologia de reconhecimento facial em suas redes, em todas as fotos publicadas por seus usuários, portanto o problema de privacidade não é exclusivo do FaceApp.

Quais são os riscos?

O dado mais crítico do qual o FaceApp tem acesso é o endereço de IP dos aparelhos onde o aplicativo foi instalado. O IP é uma espécie de CEP digital capaz de indicar a localização geográfica em que a conexão foi realizada.

De acordo com João Carlos, “com o endereço de IP de um usuário é possível realizar uma invasão no equipamento, ou seja, invadir um celular e roubar dados”, mas essa não é a intenção do FaceApp, já que ele busca auxiliar e não roubar dados, faz uso do IP para direcionar a “banda de acesso” para determinadas regiões e diminuir e corrigir lentidão e problemas que possam ocorrer no app.

“Segundo o termo de privacidade do app, as informações recolhidas dos usuários como o IP, são usadas para a melhoria do aplicativo, mensuração de visitantes e personalização de conteúdo e informações – inclusive anúncios, acrescentou Fábio”.

App obedece a política de privacidade da Rússia

Já sobre o armazenamento de informações, a empresa informa que pode transferir dados dos usuários para qualquer lugar do mundo, mesmo onde a jurisdição é diferente.

O FaceApp foi criado por uma empresa russa e o país ainda não conta com uma regulação específica em relação ao armazenamento e ao uso de dados pessoais de usuários por empresas. De acordo com João Carlos, “a política de privacidade da Rússia é suficientemente vaga”.

No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados Brasileira, criada para proteger a privacidade dos cidadãos, só entre em vigor em agosto do ano que vem. “Até lá, podemos dizer que o usuário segue desprotegido, caso queira fugir desse tipo de coleta de dados massiva”, finalizou Fabio.

Uso de dados: direitos dos usuários