9 diferenças na balada entre homens e mulheres que talvez você nunca tenha notado

Você está na porta da festa e descobre que, por ser mulher, não precisa pagar o mesmo valor que seus amigos para entrar – ou, melhor: tem entrada VIP, de graça, sem custo nenhum para se divertir e aproveitar a noite toda. Ótima notícia, certo?

Na verdade, não. É comum em festas brasileiras, e também em outras partes do mundo, o costume de a mulher pagar menos que o homem para entrar em eventos. Por trás dessa lógica, entretanto, está um assunto que precisamos colocar em pé de igualdade e vale a reflexão: por que mulheres têm tantas facilidades para entrar em baladas? Não pagar por um drink é uma cortesia ou nos coloca como um atrativo da festa para o público masculino?

Para ilustrar a matéria e abordar o tema desigualdade de gênero, recortamos alguns exemplos de divulgação de eventos em páginas do Facebook – os nomes das festas foram borrados para evitar expor os organizadores do evento. Tratam-se de práticas muito comuns em festas brasileiras, mas que podem colocar a mulher na posição de produto, ao invés de consumidora do evento.

Desigualdade de gênero em baladas 

São vários os hábitos que geram desigualdade entre homens e mulheres na balada. Fato é que, mesmo com a reflexão sobre esses fatores, nenhuma mulher deve ou precisa parar de frequentar as festas – afinal, você tem todo direito de sair para dançar, paquerar, beber, ouvir música e qualquer outra coisa que você faça para ser feliz.

Apesar disso, a estrutura de organização e divulgação para atrair público precisa ser discutida. Sabe o famoso ditado repetido nas feiras livres: “Moça bonita não paga, mas também não leva”? Entenda por que “não levarmos” seria parte de um conceito mais igualitário entre homens e mulheres.

Bebida de graça 

O consumo de bebidas alcoólicas por mulheres quase sempre é um fator associado a uma mudança de comportamento, de certa forma, esperada pelos homens. Se, para nós, a bebida nos faz sentirmos mais soltas, o pensamento machista reforça a ideia de que somos “alvos” mais vulneráveis.

Há vários relatos de vítimas de assédio e abuso em festas – uma situação em que o perfil “mulher bêbada” quase sempre interfere, sim, na atitude masculina.

Entenda: não pagar pela bebida é, para qualquer indivíduo, uma vantagem. Dar bebidas apenas às mulheres é uma forma indireta de vender aos homens um “atrativo” a mais na festa: mulheres embriagadas.

Valor de entrada diferente 

Bolsa de Mulher

Você paga R$ 20, ele paga R$ 50. Pagar menos pela entrada pode ser conveniente a nós por vários fatores. Mas, é mais uma forma de garantir a presença feminina no evento, o que, de certa forma, atrairia a participação do homem – que “compensa” o desconto dado a elas.

Ou seja, mais uma vez, a mulher é colocada como produto da festa, chamariz, e não consumidora como o homem.

“Ladies first”

“Mulheres, primeiro” pode até ser uma expressão de cavalheirismo. No contexto das festas, entretanto, este procedimento também é uma forma de garantir a participação do público feminino – além de incentivar o consumo de álcool primeiramente por elas.

Mulher com entrada VIP 

É comum vermos em cenas de filme (e também na vida real) grupo de mulheres na porta da balada esperando a certificação de que seus nomes estão na lista VIP pelo simples fato de serem mulheres. O fato de ter diferenciação entre convite feminino e convite masculino também coloca homens e mulheres em situação desigual no acesso ao evento.

Double mulher 

Paga uma, entra duas. Lotar a festa de mulheres reforça o conceito de que é preciso ter mais mulheres disponíveis do que homens. Nesta expressão, a mulher também pode ser vista como uma mercadoria, já que o conceito “double” – em dobro – é originalmente usado na venda de bebidas: compre uma, leve outra de graça.

Não devo ir às festas, então? 

Mais do que influenciar sua decisão de ir ou não a festas que reforçam este formato, cada ponto que abordamos serve para refletirmos, juntas, sobre a cultura machista e a desigualdade de gênero que são reproduzidas nestes ambientes.

É importante destacar que temos liberdade de escolha e a crítica não é direcionada aos eventos, diretamente. A igualdade de gêneros, entretanto, não pode estar atrelada a privilégios e desníveis de tratamento, seja na porta da balada, seja em qualquer outro lugar.

Desigualdade: outras práticas problemáticas 

Corredor no banheiro feminino 

É comum em festas homens se posicionarem “estrategicamente” perto do banheiro feminino, formando um corredor humano e obrigando as mulheres a passarem pelo meio dele, para que fiquem encurraladas diante de uma investida ou sejam até molestadas. Muitas vezes a segurança do local faz vista grossa para a prática.

Padrão de beleza 

Algumas festas promovem uma seleção de frequentadores do sexo feminino em que o fator “padrão de beleza” é preponderante – se você é bonita para os critérios dos organizadores do evento, você poderá entrar ou não precisará pagar a entrada.

O que podemos entender dessa seleção? Os frequentadores ficam à mercê de avaliações baseadas em estereótipos, tudo para manter a festa “com qualidade e gente bonita”. Vale rever esse pensamento, que geralmente se aplica somente às mulheres.

Abordagem na balada 

Sabemos que o homem não tem liberdade para tocar em nosso corpo sem consentimento, qualquer que seja nossa atitude na balada. Se bebemos, dançamos ou usamos roupas curtas, nenhum fator justifica uma apalpada no bumbum, pegar com força no braço ou falar de maneira abusiva.

Porém, quem frequenta balada já deve ter se deparado com passadas de mão não autorizadas, encurraladas ou até mesmo agressões verbais e físicas diante do não, além de beijos a força.

Levar mulheres ao camarote 

Você está andando pelo ambiente e um organizador da festa sugere que você vá para o camarote sem custo adicional algum, um ambiente em que, geralmente, os frequentadores ficam mais expostos.

A prática de escolher pessoas consideradas “bonitas” para ficar nesta área parte da mesma lógica de se colocar produtos mais atraentes para chamar a atenção de clientes em uma loja.

Cantadas na rua: vídeo mostra o que sentimos