Bolsa de mulher – Você está cada dia melhor. O que faz para manter a forma? Alimentação diferenciada?
Patrícia Travassos – Eu ralo para manter a forma. Para meu padrão de estética, a forma já é outra. Antigamente, eu não ralava nada, era “sexo, drogas e rock ’n roll” e o corpo ficava legal. Agora, eu tenho que ralar mesmo.
BM – Yoga? O que você faz?
PT – Um pouco de tudo. Nesse momento, faço musculação, hidroginástica e alongamento. Já fiz yoga com a Lygia (Lygia Lima, do shaktishala Centro de Yoga). Fazia aula particular porque nunca conseguia encaixar meus horários com os dela. Estou morando agora em Ipanema e ela em Santa Teresa, tá difícil.
BM – Você faz meditação?
PT – Já fiz vários cursos de meditação mas tem épocas que você está praticando mais, tem épocas que menos. Atualmente faço um trabalho com Ku-nye, uma técnica tibetana, um curso que faço uma vez por semana.
BM – E alimentação? Estou curiosa, já que você tem um programa “Alternativa Saúde”.
PT – O “Alternativa” não foi o que me mudou. Fui chamada para fazer o programa porque eu já era ligada nisso. Mas, eu não tenho uma coisa de alimentação. Eu tenho uma característica nata que sou vegetariana desde pequena. Isso fez com que eu observasse o negócio de alimentação por que eu não comia coisas que todo mundo come.
BM – Você come enlatados?
PT – Como. Faço uma massa com “Pomarola” que fica show. Não tenho nenhum preconceito. Minha alimentação não é a base de enlatados mas, eventualmente, eu compro um enlatado italiano ou brasileiro legal. Gosto de palmito, molho de tomate. Mas, eu não sou uma pessoa junkie para comer. É uma coisa natural minha. Adoro cozinhar, prefiro fazer o molho.
BM – Que tipo de mãe você é? Protetora?
PT – Eu sou mãe “velha”. Sabe aquela que teve filho tarde.
BM – Com quantos anos?
PT – Eu tenho 48 e tive filho aos 37.
BM – E você teve o filho por opção?
PT- Acho que todo filho é por opção, consciente ou inconsciente. Eu sou aquela mãe que teve filho único tarde. Tem um amigo meu que disse: “mãe velha é uma mistura de mãe judia com italiana”. Nós somos mães “over the rainbow”. Procuro não ser protetora mas acabo sendo. Quando você tem filho aos vinte, você não tem muita noção do que está fazendo. Aos 37, você já tem um pouco de noção. (Celular da Patrícia toca). É o Nicolau. Filhos, falando deles, aparecem. Para os padrões brasileiros, fui mãe velha. Nos Estados Unidos, as pessoas começam a ter filhos aos quarenta. Quando Nicolau nasceu, minhas amigas tinham filhos de 15 anos. Ninguém tinha neném, eu era a única. Somos mais sábias mas em compensação ficamos um pouco neuróticas. Viramos um satélite em torno do filho. Eu tenho consciência disso, procuro não ser assim.
BM – Nicolau vê o pai?
PT – Na época, foi uma situação complicada. O pai (Euclydes Marinho) estava casado com outra pessoa. Foi uma situação delicada por isso que ficou uma coisa assim… A gente procurou ser o mais discreto possível. A imprensa chama isso de produção independente. Nunca foi de produção independente.
BM – Fale sobre isso.
PT – É porque a imprensa tem essa coisa de se você tá saindo com uma pessoa e não tá namorando, ela chama de “amizade colorida”.
BM – Rotulam tudo?
PT – Acho esses rótulos insuportáveis. “Novo milênio”, acho chato tudo isso. No caso do Euclydes, do Nicolau e da vinda do Nicolau foi tumultuado. Se nós fossemos pessoas que ninguém conhecesse, não tinha o menor problema, ninguém ia saber. Todo mundo vive a gravidez. Ainda bem que não sou uma Xuxa. Mesmo assim você tem que “dar nome aos bois” então a imprensa rotulou como produção independente.
BM – E como é a relação com o pai?
PT – Ele vê o pai. Ele tem uma relação com pai embora não seja presente como eu sou. Ele foi viajar com pai agora (férias escolares).
BM – A figura do pai é importante.
PT – Você tem que falar isso para os pais e não para as mães. Por que não falam isso pros pais? Os homens têm que entender que a presença deles é muito importante na vida do filho.
BM – Os jornais publicaram recentemente a possibilidade de um cientista italiano clonar seres humanos e obter o primeiro bebê em dois anos. Qual sua opinião em relação a isso?
PT – Não sei. Acho tão assustador. O que será desse adulto clonado? Como é a vida dessa cabeça? Como ele vai reagir psicologicamente quando ele souber que é clonado? Isso pode gerar um gueto de pessoas clonadas, entendeu? É muito assustador. Essa coisa assim da genética se desenvolver é bacana. Fazerem um fígado para um transplante, criarem um pulmão, uns órgãos para você salvar uma vida. Tem uma coisa legal na genética e tem uma coisa assustadora que não sei se o ser humano está pronto. O ser humano está destruindo tudo, destruindo o planeta que vive. A gente está sentindo, a gente está no mês de janeiro e não choveu nem uma vez. A água está acabando, as coisas estão acabando numa velocidade muito rápida. O planeta está esquentando. Tenho um amigo que mostrava as fotos dele em São Paulo que mostrava as fotos e dizia “Ah, esse é o casaco que eu usava quando fazia frio em São Paulo”. É verdade, não faz mais aquele frio que fazia. Não tem mais a floresta, cada vez tem menos água, as coisas estão se modificando muito rapidamente. Acho que devíamos colocar toda a nossa energia para parar essa confusão ecológica.
BM – Além de você, teus pais tiveram seis filhas. Que tipo de criação vocês receberam? Vocês são unidas?
PT – Somos muito unidas apesar de ficarmos um tempo sem se ver porque cada uma foi para uma área, cada uma tem uma vida, filhos, casou, separou….Essa vida louca que nós temos. Estamos sempre em contato, há uma solidariedade na família. Estamos numa fase que o pai já morreu e a mãe já está doentinha. Estamos virando nossas próprias mães, né? Não nos sentimos mais as filhas. Nos sentimos mãe da nossa mãe.
BM – Então vocês dão valor ao senso de família? Festas?
PT – A gente não dá valor no sentido que tem que ir. Estava de saco cheio de Natal, não ia fazer Natal, nem queria ir. Na última hora, resolvi ir por causa do Nicolau. A gente não tem uma coisa tradicionalista, não é uma família de bordar tradições. Mas, a gente gosta de se ver, aproveita essas festas para colocar os assuntos em dia porque às vezes a gente passa meses se falando por telefone. A gente teve uma educação bacana para a época. Não teve uma educação para casar e ter filhos e ser sustentada pelo marido. Recebi uma educação para estudar, fazer uma faculdade, me formar e me sustentar. Era predominantemente matriarcal, minha mãe era uma mulher muito forte que trabalhava e viajava o mundo todo. Ela era agente de turismo. Nós viajamos muito também.
BM – Vocês receberam uma educação meio cosmopolita.
PT – É. A gente morava em Ipanema. Vi todo o berço da bossa nova começar, morava do lado do bar Veloso. Lá conheci Vinícius, Baden Powell, Jobim… Eles ficavam tocando violão no bar em que eu comprava sorvete, chiclete, pé de moleque e tal. Conheci Leila Diniz e Helô Pinheiro, a “garota de Ipanema”. Ouvia todas as histórias. Era a garotinha vendo esses caras tomando porre. Ipanema era um bairro com praia e todo mundo se conhecia. Eu vivenciei isso. Era um lugar meio de vanguarda e a minha família não era uma família careta.
BM – E você está transmitindo isso para seu filho?
PT – Eu não sou uma pessoa careta, não me considero uma pessoa “tradição, família e propriedade”. As minhas relações também não são tradicionais.
BM – Você foi casada com Evandro Mesquita, Diduxe… Como anda a tua vida afetiva?
PT – Fui casada com o Diduxe um tempo. Nós moramos mais tempo juntos separados do que casados. Ficamos casados durante seis ou sete anos, aí nos separamos quando estávamos construindo a casa de Santa Teresa, ainda fui morar na casa provisoriamente porque era enorme e convidamos mais dois amigos para morarem conosco e acabou que um dia a gente falou: “vamos mudar e cada um ficar num quarto” e cada um ficou num quarto e nunca mais sentimos a mínima necessidade de mudar de casa. Convivemos seis, sete anos assim. O Diduxe casou de novo e teve outros filhos e eu casei de novo e tive filho. Tudo aconteceu lá e foi maravilhoso.
BM – Era uma comunidade?
PT – Comunidade é uma dessas palavras que eu detesto porque não era comunidade. O que é comunidade? Para mim, é aquela palavra meio anos 70, meio hippie, república. A imprensa, quando ia lá em casa, chamava de “Comunidade Santa Teresa” porque era a maneira que eles tinham para explicar isso. É inacreditável, é tão estranho você dividir uma casa com amigos, entendeu? No caso, era uma casa grande.
BM – E o Evandro Mesquita (grupo Blitz) na sua vida?
PT – Depois do Diduxe, comecei a namorar o Evandro. Já éramos amigos há anos e fazíamos o Asdrúbal juntos. Namoramos um tempão mas nunca nos casamos. Cada um tinha a sua casa, ele morava lá em Santa Teresa. Agora sou casada com Tom Tom, um fazendeiro que mora meio no Rio e no Rio Grande do Sul. Já estamos casados há sete ou oito anos. Ele se dá bem com o Nicolau porque estamos juntos desde que meu filho tinha dois anos.
BM – Como é a tua religiosidade?
PT – É intuitiva. Já estudei em colégio de freira, minha família era atéia, sou de uma geração que cultivou todas as religiões orientais e tenho uma história espiritual com o Oriente. Fiz várias terapias, yoga, meditação, Santo Daime. Já fiz de tudo. Religião é se perceber, que não é possível que a gente esteja aqui só para trabalhar na Globo, fazer um site, comprar um carro novo, ter dois filhinhos…. Não é possível que a biologia tenha se desenvolvido a ponto de criar um ser pensante que tenha consciência de si só para gente colocar uma roupa bacana. Deve ter uma outra razão, entendeu? Tem uma evolução programada, algumas pessoas fazem parte e outras não porque elas não estão interessadas em evoluir. Mas, quando você começa se tocar, você começa a saber o que é religião. Religião não é igreja, não é nada. Religião é uma mudança sobre você mesma, é um auto-crescimento, um auto-conhecimento.
BM – Você é uma mulher intuitiva?
PT – Tenho tentado desenvolver o máximo a minha intuição. Gostaria de caminhar só na intuição. Chegaremos lá. A intuição não te leva numa roubada.
BM – Qual tua opinião em relação ao aborto?
PT – Eu sou a favor da pessoa decidir o que ela quer. Ter um filho é uma coisa muito séria, exige de você uma enorme responsabilidade, um enorme preparo. Se você não estiver preparada, é melhor fazer uma aborto do que deixar uma criança sofrendo durante a vida, abandonada, vivendo com os avós…. São gerados seres humanos inseguros, não sei se é bom em termos de alma. Acho que as almas voltam quando elas precisam voltar para aquela pessoa. Acho que tem que tomar maior cuidado para não engravidar. Mas, acho que as pessoas, às vezes, engravidam para se perceber o quanto são desleixadas ou quanto não estão tomando conta delas. A mulher tem que ter o direito para fazer o que ela quer, com o corpo dela e com a vida dela. A única coisa que eu acho é que o aborto deve ser feito o mais rápido possível. Não deve esperar três meses. Os homens jogam muito essa responsabilidade nas mulheres, temos que saber que os homens também fazem aborto, eles abandonam muito as mulheres nessa situação. Às vezes, as mulheres até queriam se o homem estivesse dando apoio.
BM – O que não pode faltar na tua bolsa?
PT – Bom, minha agenda eletrônica porque eu esqueço até meu telefone. (Patrícia abre a bolsa e começa a mostrar tudo ). Nécessaire com maquiagem, carteira, dois óculos porque sou míope, filtro solar para não pegar sol nas minhas manchas e não ficar uma dálmata e dinheiro. Eu ando sempre com isso. A não ser de noite que faço uma limpa, pois ando com uma bolsa menor.