A graciosidade da bailarina Ana Botafogo > A meiguice em pessoa

BM – Como anda a tua vida afetiva?

AB – Estou casada há nove anos com um advogado. Ele me acompanha sempre que pode e me incentiva muito. Ele fecha todos os meus contratos e organiza toda essa minha vida profissional. Por isso, muitas vezes, ele viaja comigo. No ano passado, porém, ele viajou menos porque era o subsecretário de cultura do Rio de Janeiro e estava muito preso com os afazeres da secretaria. Mas agora ele deixou o cargo por causa da mudança da prefeitura e está podendo me acompanhar mais. Isso é muito bom porque eu viajo muito e podemos ficar juntos um pouco mais. A vida de bailarina é um pouco itinerante, parece quase o circo. Não dá só para dançar no Municipal pois são, relativamente, poucos programas. São quatro temporadas e muitas vezes eu não danço todos os dias porque há um revezamento. Há meses que eu viajo toda a semana.

BM – Esse é teu segundo casamento?

AB – Eu era viúva e depois comecei o novo relacionamento. Fiquei dois anos casada com meu primeiro marido. Anos mais tarde, conheci o Fabiano e estamos casados há nove anos.

BM – A maternidade foi adiada em função da carreira?

AB – Foi sempre adiada em função da carreira e das viagens. Sempre a gente fala: “agora nós vamos parar e começar a pensar”. Mas surgem oportunidades e a bailarina tem que aproveitar o seu momento bom, você tem que viver o presente, não dá para achar “um dia eu vou fazer”. A vida da bailarina é sempre o presente porque você não sabe se vai torcer um pé ou se machucar. Se você está em forma, você tem que aproveitar e dançar. Por isso sempre foi adiado e vai ficando cada vez mais difícil. Eu disse que já entreguei um pouco nas mãos de Deus.

BM – Você tem alguma superstição?

AB – Faço um “nome do pai” e bato três vezes na madeira antes de entrar no palco.

BM – O que você faz para se manter bela?

AB – Eu até trato mal a minha pele. Quanto ao cabelo, procuro até tratar mas uso coque todo dia, transpiro e lavo muito a cabeça. Agora mesmo estou com o cabelo molhado e não fiz nada. Eu procuro sempre me manter bem, mas acho que poderia me tratar melhor. Por exemplo, eu tenho a pele bem clara e não posso pegar sol para não ficar manchada, só que esqueço de passar o filtro solar.

BM – Quais são teus hobbies?

AB – Eu adoro teatro e cinema. O balé é um teatro dançado e eu gosto muito de ver a performance das atrizes e dos atores. Agora mesmo vou passar um fim de semana em São Paulo só para ver os musicais “Os Miseráveis” e “O Beijo da Mulher Aranha”. Também gosto muito de estar com amigos e eu fico muitas vezes longe deles por causa das viagens que faço. Adoro recebê-los em casa. Eu sou muito caseira.

BM – Você gosta de ler? O que está lendo?

AB – Não, não estou lendo nada. Eu li “A Megera Domada” no mês passado, uma tradução ótima da Bárbara Heliodora. Depois vi o filme com Elizabeth Taylor e Richard Burton e assisti Marisa Orth no teatro. Fiz um verdadeiro pacote de “Megera” (risos). Enriquece muito quando há uma literatura sobre o balé que eu estou fazendo.

BM – Você faz algum trabalho voluntário?

AB – Não faço trabalho voluntário, apenas apadrinho o projeto “Dançando para não dançar”, da professora Teresa Aguilar. O projeto prepara crianças com talento que vivem nas favelas. As melhores vão, inclusive, para a escola do Municipal. Duas alunas foram fazer estágio na Alemanha.

BM – Você é filha única?

AB – Não, tenho um irmão que é economista e é casado. Eu tenho dois sobrinhos lindos, de 15 e 17 anos. Minha sobrinha pretende ser atriz e meu sobrinho quer ser economista como o pai.

BM – Teus pais incentivaram a tua carreira?

AB – Sempre, a minha família teve um papel muito importante. Meus pais muitas vezes deixaram de viajar no fim de semana porque eu tinha ensaio de balé. Eles sempre me incentivaram, sempre assistiram aos meus espetáculos e são meus fãs assíduos até hoje. Eles assistem a todos os espetáculos, se eu dançar quatro vezes, eles assistem as quatro vezes. Por isso, também, são bons críticos porque cada espetáculo é único e eles conseguem sentir a diferença na interpretação.

BM – Como foi o começo da tua carreira?

AB – Comecei no Conservatório da Urca. Entrei depois para Academia de Ballet Leda Iuqui, onde cursei a vida toda até viajar para França e fazer um aperfeiçoamento em Paris. Foi justamente lá que eu tive meu primeiro contrato profissional no Ballet de Marseille. Foi uma experiência ótima e eu vi que era isso que eu queria para minha vida. Voltei depois de dois anos e meio e fui para o Teatro Guaíra porque o Municipal estava fechado para obras. O Guaíra estava sendo reestruturado e era uma jovem companhia e lá eu fui primeira bailarina pela primeira vez. Após dois anos, fui para o Ballet da Dalal Achcar, na Associação de Ballet do Rio de Janeiro, e só em 1981 que eu fiz exame para o Municipal e entrei direto como primeira bailarina, pois já tinha uma certa experiência.

BM – Você usa salto?

AB – Eu uso salto, mas não muito alto durante o dia ou para caminhar muito. Hoje, por um acaso, estou de tênis.

BM – O que você gostaria de fazer que o teu ofício não permite?

AB – Esquiar na neve. Vou procurar um professor no dia em que eu parar de dançar.

BM – Como você cuida dos pés?

AB – Eu tomo o maior cuidado. Torci o pé no ano passado, no meio fio em frente à minha casa. Isso me causou o maior problema, porque passei seis meses em fisioterapia e fiquei 45 dias sem dançar. Por isso tomo muito cuidado e, às vezes, acontece alguma coisa se a gente bobeia. Vou a calista, ela cuida dos meus pés para que nada aconteça. Eu tomo também muito cuidado para não feri-los na ponta, estou sempre com esparadrapo nos dedos para protegê-los. Tomo também muito cuidado na hora de comprar sapatos, eles não podem apertar meus dedos, têm que ter boa estrutura e devem ser muito confortáveis. Não passo creme ou bucha, mas às vezes dou um banhozinho de água quente neles quando estou muito cansada. Presto também muita atenção quando estou na rua, não gosto de usar sandalha num lugar com muita aglomeração e não fico perto do bolo de gente quando estou numa festa em que tem muita gente dançando. Prefiro dançar pelas bordas porque morro de medo de levar um pisão nos pés.

BM – O teu melhor amigo é o ortopedista, o calista ou o fisioterapeuta?

AB – Todos são meus melhores amigos (risos).

BM – Você faz musculação?

AB – Faço na academia do Iate Club. Faço uma coisa muito específica para mim, não posso fazer malhação. Tenho um professor que me orienta. Tenho que poupar os joelhos, fortalecer tudo em volta e fazer alguns exercícios para costas e braços.