Amuletos para o carro

Não adianta pular apenas as sete ondinhas na hora da virada. Com o fim do ano batendo à porta, além da cor branca para o dia 31, que tal pensar num amuleto para o seu carro? Serve um trevo de quatro folhas, um pé de coelho ou uma figa. Entre um penduricalho aqui e um tercinho ali, alguns motoristas não abrem mão de manter um amuleto sempre por perto. Proteção e sorte são as principais qualidades atribuídas aos objetos: alguns expostos no vidro lateral do carona, outros no porta-luvas. O importante é se proteger!

E não é de hoje que existe a mania de fixar objetos no retrovisor. Foi na década de 1950, nos Estados Unidos, que os proprietários de modelos de corrida, os chamados hot rod e muscle cars, começaram a usar dados de pelúcia pendurados. Os corredores colocavam os amuletos no retrovisor com o objetivo de convidar o carro ao lado a disputar um racha. A moda sofreu variações e, hoje, os dados deram lugar a outros acessórios com significados religiosos e que transmitam todos os tipos de crença.

Renata Sussekind é uma das adeptas. A artista plástica mantém não apenas um, mas vários talismãs em seu veículo. “Tenho bandeirinhas budistas que trazem boa sorte e um triângulo da proteção, presente de um médium espírita”, diz a artista plástica. Apesar de um acervo protetor dentro do carro, ela afirma que imagem nenhuma faz milagre sem um ingrediente principal: ” Tem que ter fé! Quando entro no meu veículo, fecho os olhos e envolvo meu carro com uma película protetora imaginária. Essa é a grande diferença!”, explica.

Os apetrechos variam de acordo com a crença de cada motorista. A proprietária da loja Via Lumina, Silvana Antoniazze, destaca alguns dos mais procurados pelos condutores. “O chaveiro da proteção, um dos campeões em vendas da nossa loja, é muito utilizado para carregar a chave do veículo. A pessoa o escolhe de acordo com a sua fé”, explica. E se você é daquelas que gosta de mostrar para todo mundo que tem o corpo fechado, aposte nos adesivos! “Eles têm saído bastante e podem ser colados na traseira do veículo. O terço de Nossa Senhora é muito solicitado”, acrescenta a empresária. Thiago Santos, da loja O Rei dos Orixás, aponta outras alternativas para quem busca o talismã perfeito. “O patuá é um dos mais procurados. É um amuleto feito por um pequeno saco de pano com a cor e o nome do orixá que rege a vida da pessoa”, conta o gerente da loja.

Católico, Rafael Paim tem um terço fixado no retrovisor há seis anos. “Mudo de carro, mas nunca de terço. Já presenciei assaltos próximos a mim, e nunca sofri nenhum. Acho que não aconteceu nada por uma proteção divina representada no objeto”, acredita. A relação do jornalista com o terço vai além da preocupação com qualquer situação relacionada ao trânsito. O amuleto serve também para ajudar quando o seu time do coração, Vasco, entra em campo.”Quando escuto o jogo no carro, peço a ajuda de todos os anjos e santos usando o terço como instrumento. E funciona, viu?”, garante. Quem também não abre mão de uma proteção extra é Vinícius Teixeira. Foi numa visita para Aparecida do Norte que adquiriu uma fitinha de devoção de Nossa Senhora Aparecida. “Tenho uma relação muito forte com ela, me sinto mais seguro ao volante. Essa fitinha me livrou de algumas situações ruins, como assaltos”, conta o jornalista.

E como proteção não faz mal para ninguém, que tal escolher um amuleto para chamar de seu? Cuidado, apenas, na hora de pendurá-lo no retrovisor, pois o peso do objeto pode contribuir para a queda do espelho e alterar a visibilidade do condutor. O coordenador do Núcleo de Estudos de Segurança no Trânsito da USP, Coca Ferraz, alerta: “É importante medir o que é colocado no carro. Se o apetrecho for grande, por exemplo, pode atrapalhar na hora de avistar um pedestre ou ciclista.“Apesar de não existir uma lei que proíba o uso de objetos nos retrovisores, Coca reprova a mania dos motoristas. “Não vale a pena correr o risco de ter sua atenção desviada. Particularmente sou contra o uso”, diz.

Que tal deixar o retrovisor livre e buscar outras alternativas? Afinal, começar o ano com uma proteção a mais não faz mal a ninguém.