Cabides de dúvidas

Aquele vestido maravilhoso, que parecia ideal, não está caindo bem. Melhor trocar para a calça preta com a blusa branca. Não, também não ficou bom. Muda para a saia. Não, talvez seja essa blusa que não esteja combinando. Já sei, a culpa é dos sapatos, que não estão de acordo. E, com isso, tome de exercício aeróbico: o sobe e desce do salto acaba valendo por horas no step da academia. Quem não protagonizou uma cena dessas na hora de sair de casa? Até Noel Rosa cantou o drama de escolher um modelito adequado no samba “Com que roupa”. E essa odisséia indumentária quase sempre tem como seqüência outra cena: você suada, desesperada e vestida, só que de calcinha e sutiã, com apenas alguns minutinhos para a hora do seu compromisso.

Não saber o que vestir quando se tem um programa é, com certeza, uma rotina no universo feminino. A vestimenta com que uma mulher desfila tem um significado bem maior do que só cobrir ou proteger o corpo, a roupa é instrumento de sedução, fascínio e status. E é por isso que o figurino gera uma polêmica tão grande entre a mulher e o espelho. “Eu visto uma roupa, dou uma desfilada pela casa e acho que não está bom. Visto outra, colho as opiniões da minha família, que nunca acato, e troco duas, três vezes… é um ritual para sair de casa. E quando volto tenho aquela bagunça para arrumar”, conta a estudante Larissa Penteado. Escutar a opinião da platéia doméstica pode ser um bom termômetro para saber se você está arrasando ou arrasada. Porque sair de casa sem se sentir bem com a roupa, pode ser o mesmo que se sentir pelada na rua.

E receber aquela forcinha do voto dos espectadores da sua novela “a saia ou o vestido” pode fazer toda a diferença para amenizar o drama da indecisa. “Fico que nem uma louca escolhendo uma roupa, experimento uma, duas, troco o sapato, resgato aquela peça lá do fundo do armário e pergunto ao meu marido: e aí, está bom? E ele, impaciente, responde ‘qualquer uma amor, agora vamos embora que tá na hora’. Fico pra morrer”, conta a indecisa e indignada bióloga Simone Matoso. Rodrigo Matoso, marido de Simone, tem uma explicação para a falta de apoio de que é acusado. “Se eu falo que gosto mais do azul, ela vai falar que é o verde o mais bonito. Ela veste e fica ‘será que você tem razão?’, aí troca. Depois destroca e por aí vai, se der asas a gente não sai de casa. Tenho que falar: agora você não troca mais de roupa, senão quem vai tirar a roupa sou eu, e pra ficar em casa”, brinca Rodrigo.

Muitas mulheres sofrem do mal do “com que roupa” não apenas para ir a um festão ou a algum encontro romântico. Nesses casos, a dúvida que paira sobre os cabides pode ser até para aquela ida ao supermercado. “Eu tenho muita dúvida para vestir uma roupa para sair. Mas acontece mais quando estou com poucas opções no armário, e aí até ir à feira é um problema”, comenta a vendedora Catarina Bernardes. Quem nos últimos tempos se descuidou da forma é presa certa para as armadilhas das gavetas. “A pior coisa na hora de me arrumar é perceber que a roupa ficou apertada em mim. Bate a depressão e dá até vontade de desistir de sair de tão chateada que eu fico”, confessa a engenheira Liliane Peixoto. Se já é um parto escolher as roupichas para sair de casa e voltar, quando o assunto é fazer a mala… o desespero dobra, porque você sempre pode precisar de tudo, né? “Fazer mala para viajar é horrível. Você quer levar roupa de frio, indo pra praia, caso esfrie. Roupa de noite, indo pra um acampamento, vai que role… É um saco. Resumo da ópera: volto com a mala quase intacta, porque só usei as mesmas roupas”, confessa a prevenida nutricionista Fernanda Camacho.

Se sentir perdida entre as opções que seu guarda-roupa oferece pode ter uma explicação mais profunda que somente indecisão pura e simples. “O ato de experimentar várias roupas para ir trabalhar ou para o lazer expressa uma compulsão gerada por uma insegurança pessoal”, define a psicóloga Renata Barros. Insegurança, vaidade, insatisfação ou um pouquinho disso tudo faz com que a mulher bote o armário abaixo na hora de escolher os trajes. E outra característica que a psicóloga acrescenta nesta lista é a imaturidade. “A mulher quando é mais madura não tem esse compromisso com o espelho. Ela é segura nas suas escolhas e a roupa é o primeiro reflexo disso”, afirma Renata.

Sem dúvida se sentir bem dentro do modelo escolhido é bastante confortável emocionalmente e fisicamente. “Colocar aquela roupa que você tem a certeza de que está bonita, é muito bom. Você fica confiante e as pessoas notam isso, você chama mais atenção quando está segura”, acredita a fisiterapeuta Luiza Rodrigues. Portanto, para quem não sabe se vai de azul ou amarelo, se lança mão do pretinho básico ou se investe no vermelho, aqui vai uma dica: um ego bem vestido é tudo!