Ousadia e conforto. Sofisticação e sensualidade. Praticidade e beleza. Conciliar atributos tão conflitantes é uma eterna busca das indústrias de lingerie para atrair cada vez mais consumidoras e, por que não, consumidores. Ferramentas de sedução, a calcinha e o sutiã há décadas mexem com a cabeça das mulheres e dos homens. Renda, lycra, algodão. Com laços, furos estratégicos, bordados e brilhos. Mas será que essas pequenas peças, tão importantes, realmente precisam ser usadas combinando?
Esse é o grande problema da psicóloga Mônica Soares, que praticamente não usa sutiã. “Esse negócio de roupa íntima é um saco, porque odeio usar sutiã. Meu peito é superpequeno e graças a Deus em pé, por isso uso só pra trabalhar. Não dá para atender clientes com tudo à vontade, mas não tenho o hábito, me incomoda muito”, reclama. No dia-a-dia, Mônica não se aperta, prefere calcinhas enormes, confortáveis e de algodão. “Minha bunda é grande e não há calcinha que pare no lugar. Sinceramente, eu até devo ter um conjunto maneiro, mas não curto esses negócios de renda com lycra, são altamente desconfortáveis. Prefiro surpreender com calcinhas de algodão bem coloridas. Tenho uma rosa e uma laranja de bolinhas brancas que agradam muito. Acho mais interessante do que as tradicionais pretas”, comenta. Mas quando é pega de surpresa, Mônica não vacila e dá um jeito de tirar correndo a calcinha antes que seu alvo descubra.
Esse risco a empresária Rita de Castro não corre de jeito nenhum: está sempre preparada para possíveis imprevistos. “Uso tudo combinandinho, vai que eu precise tirar a roupa. Tenho que estar sempre pronta. No dia-a-dia, uso os menos ousados e nos finais de semana dou uma caprichada e abuso dos mais provocantes, calcinhas mínimas, com lacinhos atrás e buraco no meio. Meu marido adora, pena que ele ainda não me deu nenhuma de presente, adoraria ganhar”, lamenta. Para Rita, comprar lingerie, além de ser uma forma de renovar o arsenal de sedução, é uma excelente terapia. “Eu sou oito ou 80, compro quando estou superempolgada com as relações ou quando estou de baixo astral. Me sinto muito feminina, mais mulher. E o humor levanta logo, é totalmente psicológico. É impressionante como uma calcinha muda minha vida”, comenta, aos risos.
“Comprar calcinhas não é despesa e sim investimento”, diz a comerciante Sandra Froes, que não economiza na compra de suas lingeries. “Gasto muito dinheiro com isso porque só uso conjuntos arrumados. Não adianta estar linda por fora, superproduzida e andar com calcinhas feias. Minha tia-avó me educou assim, desde pequena tenho essas preocupações, ela falava: “vai que você é atropelada!”, então estou sempre bonita por baixo também”, aconselha. Mas Sandra conta com um aliado. Seu namorado, absolutamente tarado por lingeries, não poupa esforços para ver suas fantasias realizadas. “Toda semana ganho uma peça. Eu chamo de calcinhas de festa, são as indecentes, temáticas e pequenininhas. Outro dia dormi na casa dele e fui direto para a academia com um desses modelitos, foi constrangedor ter que me arrumar na frente das meninas com um calcinha que é só um fio atrás. Elas devem ter me achado completamente mal-intencionada”, lembra.
Passar por situações difíceis não é exclusividade de Sandra. A arquiteta Angélica Rocha também teve sua experiência. “Fui fazer um exame médico na academia e não avisaram que eu deveria ir com roupa de ginástica e tive que ficar de calcinha e sutiã. Até aí tudo bem, se no dia eu não estivesse pronta para atacar. Tive que colocar um aventalzinho ridículo com abertura para atrás, acontece que atrás não tinha praticamente nada. Eu estava com um calcinha preta de renda, minúscula. Não sabia onde enfiar a cara durante o exame e acho que o médico também não”, envergonha-se. Errar é humano, repetir é burrice. Depois dessa experiência, Angélica mudou seus conceitos e não dá mole. “Não deixo mais de andar com um conjunto bonito e básico, desses que servem para qualquer ocasião, dentro da bolsa”, ensina.
Os homens realmente adoram esses ícones femininos que se transformaram em objetos de desejo. O engenheiro Rodrigo Lopes não se considera careta e adora roupas fashions, bem coloridas, mas lingeries precisam estar sempre combinando. “Claro que faz diferença! Até por que isso faz parte do imaginário masculino, pelo menos do meu (risos). Não posso nem imaginar a cena: eu, empolgadíssimo, tirando a roupa da mulher e, de repente, me aparece uma calcinha verde abacate com um sutiã cor de abóbora”, descreve. Apesar disso nunca ter acontecido, ele garante que esses sustos podem freiar o tesão. “Bom mesmo fez uma ex-namorada minha que comprou um conjunto com desenhos do Kama Sutra, achei muito excitante e extremamente sugestivo”, recorda.
Gosto não se discute e já o alpinista Daniel Mendes prefere a simetria das peças. “Existe uma diferença enorme entre combinar e harmonizar. Não faço a menor questão que calcinhas e sutiãs tenham as mesmas cores, mas é fundamental que estejam em harmonia entre si e com a pessoa que está usando”, declara. Apesar de Daniel curtir a sensualidade das lingeries, sua namorada não dá muita bola e, ainda por cima, usa calcinhas grandes, de algodão e velhinhas. “Quando me deparo com uma calcinha furada, acabo de rasgá-la e a gente se diverte. A Cláudia é autêntica, lida com isso naturalmente. Ela se arruma superbem, é estilosa, mas o conforto está acima de tudo. Eu adoro esses extremos, me excita, dá tesão”, comenta.
Realmente é difícil agradar gregos e troianos. Essencial é a calcinha e o sutiã combinarem com quem está vestindo. É lógico que não podemos abrir mão dessas ferramentas de sedução maravilhosas: agradar ao parceiro e dar asas à imaginação é muito importante… mas conforto também é fundamental.