Nenhum relacionamento começa para terminar. Mas a verdade é que eles vêm e vão: uns duram dias, outros, meses e tem também aqueles que permanecem firmes e fortes até o fim da vida. Independente disso, alguns são tão intensos, mas tão intensos que, mesmo depois de findos, continuam absolutamente vivos. E quem já viveu uma relação desse tipo sabe o quanto é difícil conviver com essa espécie de fantasma que, lá do Além, parece continuar tomando conta do coração e da mente, deixando o corpo fechado e impossibilitando novos envolvimentos.
E tome angústia. A engenheira Luisa Silveira já tinha passado por relacionamentos de todos os tipos, tamanhos e durações, mas acredita que só amou de verdade em um deles. “Já tinha namorado mil caras, cada um deles foi de um jeito. De uns eu gostei mais, de outros menos. Mas quando acabava, como tudo acaba na vida, sofria, mas levantava, sacodia a poeira e dava a volta por cima. Às vezes, precisava de um pouco mais de tempo para digerir, tomar fôlego, mas partia para outros relacionamentos numa boa, sem nenhum problema”, conta. Só que ela conheceu Marcos e com ele teve um namoro de quatro anos que atravessou momentos decisivos de sua vida. “Nos conhecemos ainda na faculdade e nos formamos, conseguimos os primeiros empregos e tivemos independência da família juntos. Nós dois amadurecemos muito durante esses quatro anos e passamos a enxergar o mundo com outros olhos. Mas o relacionamento exauriu e acabou”, lembra.
Agora, ela diz que está passando por um momento de reflexão. “Quando eu e o Marcos terminamos, logo depois comecei a ficar com outros caras. Só que, por mais que fossem homens muito legais, eu não conseguia me deixar envolver. Primeiro porque o meu modelo de namorado ideal ainda era o Marcos, sentia vontade de fazer os mesmos programas, de ouvir as mesmas coisas que ele me dizia. Não estava satisfeita com nenhum deles”, confessa Luisa, que se sente profundamente angustiada e aprisionada. “Como terminei o namoro muito carente, passei muito tempo pulando de namorado em namorado. Agora, sei que enquanto estiver procurando o Marcos em outras pessoas, não vou conseguir me satisfazer e ainda posso magoar alguém seriamente”, conclui a engenheira que já está solteira há quase um ano.
Já a publicitária Helena Miller está muito bem acompanhada. Namorando há quatro meses, ela se sente realizada no aspecto afetivo. “Meu namorado é a pessoa mais doce e compreensiva que existe. Estava precisando muito de carinho e apoio e ele me deu tudo isso, sem economizar”, conta. No entanto, isso não quer dizer que tudo esteja ótimo. Ela também está recém-saída de um desses relacionamentos fantasma e ainda não se sente livre o suficiente para começar tudo de novo. “Estou gostando muito de conhecer uma nova pessoa com uma vida nova, com coisas novas a me oferecer. Mas não estou nem um pouco à vontade no que diz respeito à minha vida sexual. Me sinto como se estivesse atada ao meu outro relacionamento. Transo com o meu namorado, mas não está sendo legal. Tenho pressa de terminar tudo e sei que não estou rendendo o que eu posso. É tudo muito confuso mas, na verdade, acho que me sinto um pouco culpada por estar com outro homem na cama”, acredita.
Segundo o psicólogo Ailton Amélio da Silva, especialista em relacionamentos, o problema é muito mais do que comum. Na opinião dele, isso acontece fundamentalmente porque nem todos os laços com o relacionamento anterior foram rompidos, quando o namoro terminou. “Isso pode se dever a diversos motivos que vão desde a ausência de um ritual de passagem, como um afastamento físico, por exemplo. Mas, na maioria das vezes, a explicação é muito simples: a vontade de estar com o outro ou de estar naquela relação ainda não acabou”, explica.
Por isso, o sentimento de culpa é muito comum, como no caso da publicitária Helena. “No fundo, ela ainda está ligada ao ex-namorado. Se sente culpada porque se sente como se o estivesse traindo. Em geral, o primeiro impulso dessas pessoas ao terminar o relacionamento é começar um novo, porque ainda não se sentem preparadas para estarem sozinhas e digerirem o luto. E vão, quase inevitavelmente, tentar remontar o relacionamento que acabou, nos mesmos moldes, com uma nova pessoa. E é claro que isso não vai dar certo para nenhum dos dois”, afirma. A solução para o caso, entretanto, não é tão simples assim. É preciso muita reflexão para entender que o que passou, passou e uma nova etapa da vida precisa começar. “O conflito só pode ser resolvido quando se toma essa consciência. O importante é não ter medo de se abrir”, garante Ailton. E acreditar que a vida é boa e que muita felicidade ainda está por vir.