Bolsa de Mulher – Qual é o segredo para conciliar uma carreira bem-sucedida, um bom casamento e o dia-a-dia de mãe?
Cristiana Arcangeli – É muito complicado. Eu acho que quanto mais a sua carreira é forte, mais você precisa se dedicar a ela, e mais você tem a culpa de não estar em casa com os filhos. E aí você quer se dedicar aos filhos mas tem que se dedicar ao marido… é bastante difícil manter esse equilíbrio. É uma ginástica diária, é bastante complicado. Não tem um segredo, é estar com a sua sensibilidade o mais aguçada possível pra poder perceber onde está faltando mais.
BM – Você fundou a Phytoervas em 86, não é isso?
CA – Exatamente.
BM – Essa foi uma idéia que partiu da Cristiana consumidora, admiradora dos cosméticos, ou da Cristiana mulher de negócios?
CA – Foi da Cristiana consumidora. E aí a mulher de negócios veio depois.
BM – Você sempre gostou de cosméticos? Como era a sua relação com esses produtos?
CA – Sempre gostei, sempre me interessei, daí partiu a idéia de fazer alguma coisa com shampoo, que era uma coisa que eu gostava, e a Phytoervas veio depois, foi uma conseqüência de fazer uma coisa que gosto. Tudo o que eu faço na minha vida, eu faço porque eu gosto. O resto é conseqüência.
BM – Porque você vendeu a empresa?
CA – A Phytoervas cresceu muito e eu tinha um sonho de vender os produtos para fora do Brasil, nos EUA, na Europa, e isso só poderia ser feito através de uma multinacional. A Bristol Myers sinalizou que era esse o objetivo deles e aí eu vendi pra eles há quatro anos pensando nisso. Mas eles tiveram uma mudança de planos no meio do caminho, acabaram vendendo toda a divisão da Clairol, inclusive a Phytoervas, para a Procter & Gamble e agora eu acho que eles vão revender.
BM – E você pretende retomar a Phytoervas?
CA – Eu pensei algumas vezes em fazer isso. Mas hoje eu tenho minhas dúvidas… tenho outros projetos que estão andando, acho que de repente é uma coisa que já foi. Eu sou muito de desafios, de novos desafios.
BM – Esses outros projetos a que você se referiu são a Phytá Cosméticos e a PH Arcangeli?
CA – É, a Phytá é uma rede de lojas de cosméticos, uma rede de perfumaria, e a PH Arcangeli é uma empresa que importa e distribui marcas internacionais, como Chanel, Clinique, Bulgari, Carolina Herrera.
BM – Você experimenta os produtos que você importa?
CA – Grande parte, não tudo.
BM – Na época da Phytoervas você também experimentava?
CA – Ah, esses eu experimentava todos, 100%. O desenvolvimento dos produtos era eu quem fazia, junto com a química obviamente. É que eu gosto dessa parte de desenvolvimento, eu gosto de produtos. Na Phytoervas, sem dúvida nenhuma, todos passavam por mim.
BM – Você chegou a estudar química?
CA – Não, não cheguei. Eu fiz Odontologia.
BM – E você chegou a trabalhar com Odonto?
CA – Trabalhei cinco anos.
BM – A sua entrada na cosmética aconteceu por acaso ou você já estava querendo mudar mesmo?
CA – Não, não foi. Depois que eu tive minha primeira filha, eu parei de trabalhar como dentista, e aí em vez de voltar como dentista eu resolvi voltar com alguma coisa diferente, mais apaixonante.
BM – Dentre os produtos que você importa, quais deles fazem parte da sua rotina? Quais não podem faltar na sua nécessaire?
CA – Base com protetor solar, mousse para lavar o rosto, um tônico…
BM – Mas são todos da mesma marca?
CA – Não, ou da Chanel ou da Clinique. A maquiagem geralmente eu uso da Chanel, algumas coisas de tratamento eu uso da Clinique, depende do produto.
BM – Você mesma cuida da sua beleza? Porque você afirmou que a sua rotina é muito simples, mas você não se entrega ao luxo de maquiadores, salões de estética, cabeleireiros?
CA – Não, eu tenho um maquiador que eu gosto muito, o Jorge Vieira, que faz a minha maquiagem quando eu vou fazer alguma foto, alguma coisa importante. Agora cabelos, essas coisas, eu arrumo sozinha porque eu não gosto muito de cabeleireiro não, demora muito, você perde um tempão. Eu não tenho paciência.
BM – O que você acha das mulheres que são escravas da aparência e vivem a vida em função dela?
CA – Eu acho uma pobreza de espírito tremenda. Eu acho que a beleza é uma coisa importante, mas é uma coisa de dentro para fora, que você faz pra você mesma. E tem que ter um equilíbrio. A idade chega pra todo mundo, beleza é uma coisa que hoje você tem, mas amanhã não tem mais. É uma coisa que tem que estar dentro de você e é preciso lidar com ela de uma forma tranqüila. Eu não gosto de ninguém que seja escrava de coisa nenhuma.
BM – A sociedade é muito rigorosa na escolha de seus padrões de beleza. Você não acha que as mulheres estão sofrendo muito com isso, com esses padrões cada dia mais difíceis de serem alcançados?
CA – Eu acho que não é uma questão de sociedade. Acho que as técnicas estão aí para serem usadas, agora você ter que usar todas essas técnicas para o tempo todo estar 100%… isso não existe. Elas existem para tirar ou mudar alguma coisa que eventualmente esteja te incomodando. Se a pessoa tem o nariz torto e quer operar, se tem um culote que não consegue tirar com exercício e alimentação… tem que ser uma coisa ligada à auto-estima, que realmente esteja incomodando. Agora, você buscar o tempo todo estar perfeita é uma coisa maluca, é uma busca incansável.
BM – Você já fez alguma cirurgia plástica?
CA – Eu fiz prótese de silicone há cinco anos.
BM – E ficou satisfeita?
CA – Muito, fiquei feliz.
BM – E botox?
CA – Botox eu também já usei, mas aí não é bem plástica, inclusive foi a dermatologista que fez.
BM – Você está casada há quanto tempo?
CA – Seis anos.
BM – Para você, qual é a receita de um casamento feliz?
CA – Olha, eu acho que o casamento é muito diálogo, tem que ter uma coisa que é muito importante, que é o amor, que é a base de tudo, e se os dois se amarem muito, o resto é diálogo. Quando o diálogo não existe, a relação acaba se distanciando. O diálogo é fundamental para ir acertando o dia-a-dia, porque conforme o tempo vai passando cada um vai tomando um rumo, a vida vai nos modificando, e se a gente não puder sentar e conversar, as pessoas se distanciam. Então, eu acho que o maior segredo é conseguir conversar, mas isso nem sempre é fácil.
BM – Você acredita em fidelidade? Acha que ela é fundamental num relacionamento?
CA – Acho que é muito importante. Eu não conseguiria viver num casamento onde cada um tivesse seus casos, suas amantes, porque eu acho que quando você vive bem e apaixonado, você não está aberto pra outras coisas. Se você está aberto pra outras coisas é porque você não tá bem, alguma coisa está faltando. Aí tem dois caminhos: ou você vai ter um amante pra tapar o buraco, ou você vai sentar e conversar pra resolver o seu problema, que às vezes é o caminho mais difícil, nem todo mundo escolhe esse caminho.
BM – Você perdoaria uma traição?
CA – Acho que sim, dependendo da situação… não sei. Acho tão difícil, eu nunca passei por isso. Eu sou muito família, acho muito importante as minhas filhas, a minha casa, eu não gostaria de ver isso se perder por uma besteira. Por outro lado, se eu sei que meu marido tem uma amante, tem um outro relacionamento, eu não conseguiria conviver com isso.
BM – Você é uma pessoa que gosta de desafios, de coisas novas… Como você consegue traçar as suas metas e cumpri-las sem se perder no meio do caminho?
CA – Eu sou muito disciplinada, sou muito de traçar objetivos, e andar atrás deles. Se eu perco o objetivo, eu fico meio tonta, porque eu já me acostumei a seguir um caminho, e é assim que eu toco a minha vida.
BM – Hoje você se sente realizada?
CA – Sinto. Eu acho que eu consegui construir todos os objetivos que eu tinha, e sou muito feliz por isso. Agora, o grande desafio é manter, que também não é nada fácil. Conquistar é difícil, mas manter também é muito difícil.