Ele é feio! > As mulheres e os homens feios

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Por Ricardo Alexandre de Oliveira Mendonça

Podemos pensar em uma série de razões que levam muitas mulheres, atualmente, a preferir os chamados “homens feios”, em suas escolhas amorosas. Sabemos que o parâmetro beleza é um dos primeiros a serem percebidos quando as pessoas se conhecem. É o parâmetro da impressão inicial.

Este parâmetro não será, necessariamente, forte o suficiente para sustentar uma relação, mas é, sem dúvida, um dos grandes fatores da sedução no relacionamento. Pessoas bonitas são valorizadas e constantemente assediadas com propostas de namoro. Certamente, sentem-se valorizadas, confortáveis e competitivas no “mercado” do amor. O que não significa que sejam sempre bem sucedidas em seus encontros afetivos.

Recentemente, uma atriz declarou a uma revista que prefere os homens feios. Não é comum alguém professar tal ponto de vista. Por que uma pessoa iria escolher outra, fora de seus próprios padrões de beleza? Esta polêmica poderia ser estendida ao limite de uma dissertação de mestrado, mas vamos nos ater a pequenas reflexões sem tanta referencia teórica.

Pessoas rejeitadas, fracas e com forte sentimento de desvalorização, tendem a tentar solucionar sua “não tão bela” aparência de diversas maneiras: comportamentos excêntricos e fora de contexto, exagero na representação do papel de amigo(a), apego sem firmeza à coisas espirituais, e, nos piores casos, demonstração de superioridade descabida.

Vamos, então, falar dos “não tão belos” saudáveis. Pessoas não necessariamente bonitas, porém sensíveis e com desenvolvido senso de oportunidade, aguçam seu poder de observação e escuta, o que as tornam atraentes para quem quer ser ouvido e compreendido. Naturalmente, levam vantagem sobre os bonitos(as) que só olham para o espelho e fogem das coisas “interiores”. Claro que nem todos os bonitos agem assim, sabemos disto.

Estas pessoas deixam a “porta aberta” para o mundo dos outros e oferecem, como acolhida, o seu próprio. Neste contexto, são evidentemente hábeis em estabelecer vínculos de amizade e simpatia, que quase sempre abrem canais afetivos mais profundos.

A auto-estima do belo se constrói muito sobre sua imagem, ao passo que a auto-estima do “não tão belo” utiliza somente os recursos emocionais e cognitivos de que dispõe. Ele atrai pela sensibilidade e capacidade de escuta, aliados ao desprendimento da vaidade exagerada. Seu olhar talvez possua mais energia humana e menos plasticidade. Sabemos que as pessoas, para estabelecerem relações, querem um olhar acolhedor e a tal energia humana. A plasticidade seduz, mas não alimenta o coração.

Pessoas plásticas cansam de representar este papel, mesmo que não o reconheçam. Seu cansaço é visível em sua solidão e crises constantes. Construíram para si um falso eu, certamente gratificante no começo, porém, com um preço muito alto a ser pago.

Os “não tão belos assim” construíram sua imagem de beleza, logo desmistificada no começo da adolescência. Desenvolveram, então, outros recursos que as tornam tão ou mais belas que os belos. Alem disso, não entram tanto em brigas por causa de vaidades pessoais estéticas, se preocupam menos com o plástico e mais com a felicidade e, normalmente, por seu temperamento mais afetuoso, são realmente convidadas a participar da vida de todos, e não convidadas a enriquecer festas e badalações com seu sobrenome ou beleza plástica.

É claro que podem ter pessoas que não se envolvem com os belos por insegurança. Insegurança da competição, do assédio que seu parceiro sofrerá constantemente etc. De qualquer forma, as escolhas bem feitas nunca levam em conta um único aspecto e, neste ponto, repito: os não tão belos levam uma boa dose de vantagem sobre os belos quando o quesito relacionamento está em jogo. E viva a beleza do amor!!!

Ricardo Alexandre de Oliveira Mendonça é psicólogo – CRP 05/12192