Elizabeth Lebeis: a babá de Axl Rose > Axl por Beta

Axl Rose por Beta

BM – O Axl te considera mãezona. Você adotou mais um filho?

BL– Sou mãezona. De acordo com ele, eu sou a mãe que ele nunca teve. Ele ficou impressionado pelo jeito que crio meus filhos, a preocupação… Ele nunca teve isso. Ele me chama de Beta e, de vez em quando, de mama.

BM – Mama?

BL– Sempre faço comida e levo pro estúdio, faço tortas, bolos…Ligo antes do show pra desejar “boa sorte”. Acendo vela pra eles. É como se fosse a mama do grupo todo.

BM – E ele já compôs algo em tua homenagem?

BL– Não sei, acho que não (risos). Ele diz que uma das novas músicas é para mim e minha família.

BM – Quando o Axl saiu de casa?

BL– Ele saiu de casa muito novo, o padrasto batia muito e chegou a abusar sexualmente. Isso fez com que ele ficasse tímido. Acho que ele saiu, não tenho certeza, de Laffayette aos 14 ou 15 anos. Agora ele tem 38 anos.

BM – E ele veio descobrir o carinho materno agora.

BL– Não que ele não tivesse nada contra a mãe dele, a única coisa que ele não entende é porque ele não recebeu a proteção materna e isso ele vê no meu relacionamento com meus filhos. Hoje ele entende que mãe tem que proteger e ele nunca se sentiu protegido.

BM – E isso o influenciou muito?

BL– Acho que todos somos um reflexo de como somos criados, de como é nossa família dentro de casa, da relação dos nossos pais. Nós somos um espelho de nossa família. A base vem da nossa casa e ele não teve isso. É mais difícil esse sentimento na cabeça de um adulto. Na época do crescimento, você cresce vendo esse exemplo no dia-a-dia, aquele carinho, beijo de boa noite… Ele nunca teve disso. Então, ele não sabe mostrar um carinho. É muito difícil passar isso para um adulto, entende?

BM – E a música dele reflete essa carência.

BL– Totalmente. As antigas têm aquela raiva. Nas novas isso não é tão presente.

BM – E ele tem algum contato com a mãe?

BL – Ela faleceu há 5 anos.

BM – Quem mora com ele em Malibu, o balneário elegante perto de Los Angeles?

BL– Moro eu e ele. O meu filho mais novo fica de vez em quando lá e de vez em quando na minha casa. Eu também tenho uma casa na Califórnia, num outro bairro. Mas, fico direto na casa do Axl.

BM – Sinto que você é uma governanta da vida dele. Você coordena tudo?

BL– (risos) Acho que essa palavra é mais apropriada porque todo mundo pergunta “o que você faz?”. Bem, eu sou secretária pessoal dele, né? Aí tem a parte da casa, organizo tudo, coordeno os funcionários, os jardineiros.

BM – E a carreira? Você dá palpite?

BL– Dou palpite quando ele pergunta, né? Ele aceita muito a minha opinião, entende? Eu nunca olho só pro lado ruim. Tento olhar para todos os ângulos da pessoa. Você tem que olhar 360 graus, sempre tem um lugarzinho que tem alguma coisa boa na pessoa. Então, se ele vai fazer um contrato ou algo com a banda nova, a decisão é dele. Ele me pergunta o que eu acho ou não acho. Ele quer saber se ele deve fazer isso, se ele está puxando muito…Pergunta se ele está sendo injusto. Ele é uma pessoa preocupada em ser justo. Ele não gosta de fazer nada que não seja certo. Ele quer fazer as coisas tão certas porque ele fica tão preocupado o que vão falar dele, ele quer que tudo seja certinho. Eu acho, então, que eu o influencio bastante. Fico meio preocupada com isso porque acho uma responsabilidade muito grande. Fico meio com medo.

BM – Como você entrou na vida dele?

BL– Eu comecei como babá do filho da Stephanie Seymour. Ela era modelo da cadeia de lojas de lingerie Victoria’s Secret. Isso foi há 11 anos atrás. Eu comecei a trabalhar com a Stephanie em fevereiro e, em maio, ela começou a sair com Axl. Parece que a gente teve alguma coisa anteriormente.

BM – Você acredita em vidas passadas?

BL– Eu acredito e ele também. Como brasileira, acredito nisso. Acho impossível uma pessoa que nunca conheceu ele antes ter sentido tanta afinidade. Não sei o que houve assim que abri a porta para ele. Parece que já conhecia ele há muitos anos.

BM – Você sabe o que o Axl diz do Queen?

BL– Ele tem loucura. O Queen é a banda favorita dele. O Freddie Mercury gostava muito do Axl. O Axl, inclusive, fez uma homenagem ao Freddie no segundo Rock in Rio. O Axl continua amigo do Brian May, ele tocou guitarra numa das músicas do Axl do novo disco.

BM – Aí você ficou com o Axl após a separação?

BL– Ele pediu para ficar comigo na época em que houve a separação. Mas eu era babá do menino e fiquei preocupada. Ele já tinha dois anos e a Stephanie estava sempre viajando, nunca parava em casa.

BM – E qual o motivo da separação do Axl e Stephanie?

BL– Houve a separação porque ela traía o Axl com muita gente e ele, no final, descobriu. Ele tinha loucura por ela. Aí ela mudou para Nova York e o Axl me chamou para trabalhar com ele. Aí eu aceitei porque, entre os dois, nunca na minha cabeça teve dúvida como pessoa, ele ganha de 100 a zero. Mesmo sendo homem e tudo. A nossa amizade é impressionante, ele é uma pessoa em quem eu confio. O que ele é na minha frente, ele é na minhas costas. Já a Stephanie era comigo uma coisa e na minhas costas não era a mesma coisa. Ele me dá muito mais valor que ela.

BM – Fale da fase de depressão dele.

BL– O Axl é uma pessoa que quer fazer as coisas certas. Eu acho que ele foi aquele namorado que toda mulher gostaria de Ter tido, como um príncipe encantado. As coisas que ele fazia para ela era uma coisa que você só lia em livro de história.

BM – Então ele era um amante à moda antiga?

BL– Nooooossa Senhora, impressionante, entende? Vamos supor, na época que teve a separação, ele foi até a casa dela, de joelho, de terno branco, num cavalo e levando flores… Eu digo assim, as coisas que ele fez pra ela eu só li em livrinhos de história. Isso não existe na vida real. Ele, na minha cabeça, é o sonho que muita mulher gostaria de ter. Eu jamais deixaria escapar uma coisa dessas. A Stephanie, como é bonita e sexy, ela tem qualquer homem que ela queira ter. Ela faz os homens de brinquedo. Sabe uma criança que ganha um brinquedo novo? Ela brinca e depois não quer mais, fica cansada e resolve trocar. Sempre falei para ela que ela atingiria o Axl mais do que ela imagina. Os outros rapazes que ela saiu talvez não tenham tido o sofrimento que o Axl teve na vida dele, entende? Então, por isso ele sofre tanto. Ele queria fazer as coisas tão certas e ele achou que estava fazendo tudo certo. Ele levou muito a sério. Ela praticamente matou ele. Quando o grupo terminou, ele achou que teria a família dele, casaria, teria filhos… Achou que seria a segunda fase da vida dele, ele já tinha trabalhado tanto para ter dinheiro e aí ele dedicaria à família. O sonho dele é ter uma família, filhos. Ter aquilo que ele nunca teve. Eu acho que com meu envolvimento com ele, ele começa a acreditar que ele realmente tem alguém que se preocupa, que se dedica e que realmente goste dele. No caso, quando ele fala em relação a mim, a gente tem as nossas diferenças, diferenças de opiniões ou criação. E eu sou muito paciente, sabe? Eu tenho confiança nele e ele não tinha confiança nele. É muito mais difícil você por isso num adulto que numa criança. Eu não sou psicóloga. Ele precisa de uma pessoa que escute o que ele tem pra falar e é o que eu faço. Nossa relação é como amiga, quando tenho que ser amiga, e funcionária, quando tenho que ser funcionária. Eu não misturo as coisas. Na hora que sou funcionária e tenho que trabalhar, eu não misturo aquela amizade que nós temos. Eu não tiro proveito da nossa relação. É um respeito mesmo como se fosse meu patrão. Há o relacionamento profissional.

BM – E ele está contente de ter tocado para 200 mil pessoas?

BL– O sonho dele era voltar ao Brasil. Quando nos conhecemos, a primeira conversa que nós tivemos foi sobre o Brasil. Ele falando das favelas, das doenças e do sonho de montar uma clínica onde ele possa tratar gratuitamente de pessoas carentes.

BM – No Brasil estou percebendo que a nova geração está ligada à banda.

BL– Demais, é impressionante. É isso que nós estamos surpresos. Essa geração não fez parte dos Guns N’Roses mas são loucos por causa deles.

BM – Como vai estar o novo CD do grupo?

BL– Maravilhoso. Eu sou emocionalmente conectada com eles mas acho que vai ser um espetáculo. Será lançado em junho ou julho. São 48 músicas e a gravadora está selecionando as músicas.

BM – Axl está fora das drogas?

BL– Ele não faz uso. Eu já conheço Axl há dez anos. Trabalho com ele há quase sete anos e meio, nada. Não tem drogas, nunca. Parou de fumar também. Absolutamente nada.

BM – Bebida?

BL– De vez em quando um drink.

BM – No Brasil o jovem é preso se for pego com maconha em compensação se beber um litro de cachaça não acontece nada. Nos Estados Unidos, não acontece muita coisa se o adolescente for pego com maconha. O que você acha disso? Existe uma certa demagogia?

BL– Sou contra droga, seja ela qual for. A bebida é tão ruim quanto a maconha, está entendendo? Eu não acho certo. Acho que, tanto para um quanto para outro, deveria existir uma equivalência. Ingerindo bebida, você pode atropelar, matar alguém ou entrar numa briga. Você não tem controle na tua mente. Acho que existe uma demagogia. Para mim, é uma palhaçada.

BM – Você deve ter tido contato com gente que se viciou em heroína. Largar é algo difícil?

BL– Olha, eu nunca vi. Ele não admite nem na casa dele, nem no grupo dele, nada. Nem fumar é permitido dentro do estúdio, ninguém fuma perto dele. Você tem que sair para fumar. Olha, eu nunca tive ao redor de ninguém que esteja na ação das drogas no momento, comigo.

BM – Tem estúdio na casa de Malibu?

BL– Tem.

BM – A droga não foi motivo de uma briga entre ele e o Slash?

BL– Não houve uma briga. O problema ali era o seguinte: o Slash, na época, ele disse que já tinha o novo disco do Guns N Roses, que seria o próximo, né? O “próximo” é o disco que ele lançou agora que foi um horror. Os dois últimos Cds do Slash foi um horror. O Axl queria fazer uma coisa mais avançada pra nova geração. Você não pode ficar na mesma coisa, no mesmo tipo de música que ele tocou há 15 anos atrás.

BM – Dá para sentir um negócio eletrônico nessas músicas novas.

BL– No ano que estamos, 2001, a música é mais eletrônica. Embora o disco não seja todo eletrônico. Tem, sim, mais coisa eletrônica agora que há 15 anos atrás. O Slash queria ficar na mesma coisa. E depois teve o motivo das drogas. Ele nunca podia contar com Slash. Por exemplo, o Slash não aparecia nos ensaios, não tava bem. O baterista estava bêbado. Não dava certo.

BM – O Axl tem uma disciplina hoje?

BL– Nós temos uma nutricionista que desenha a nossa alimentação. O Axl faz ginástica todo o dia, ele corre na faixa de três a cinco milhas num intervalo de um dia. Os exercícios dele duram na faixa de três a quatro horas. Ele não é uma pessoa que sai. Nós vamos muito ao cinema, sabe? Ele adora ver filme. Ele não gosta de bares.

BM – E ele dorme tarde?

BL– De acordo com a avó dele, ele nunca foi uma pessoa de viver durante o dia. Ele escreve muito à noite. Não tem telefone, interrupção. Essa é a hora em que ele é mais criativo.

BM – A avó dele ainda é viva?

BL– A avó materna ainda é viva. Ele nunca conheceu o pai. Ele acha que nunca foi protegido por ninguém da família dele. Ele tem uma mágoa muito grande. A irmã dele foi estuprada pelo padrasto e a mãe continuou morando com o padrasto. Ninguém fez nada. A avó também não fez nada.

BM – E o que ele gosta de comer? Feijoada?

BL Ele agora já não come mais por causa da dieta dele. Ele come muita comida saudável : peito de peru, peito de frango, muita salada, muita água… Ele também gosta muito da comida brasileira. Ele experimentou até couve e gostou.