Bolsa de Mulher – O que você está fazendo para incorporar a Elis?
Inez Viana – Emagreci dois quilos, porque eu estava mais cheinha do que ela, cortei o cabelo, vou usar uma prótese pra minha gengiva aparecer mais, porque ela tinha a gengiva mais pra fora, e dez horas de ensaio por dia.
BM – Você chegou a assistir a algum show dela?
IV – Não. Nunca assisti, estou com 36 anos, a idade em que ela morreu. Vi pela televisão, assisti entrevistas dela, ela cantando várias músicas no Fantástico, e imito ela desde os meus 16 anos… eu fazia isso pro meu pai.
BM – E como será o personagem?
IV – Eu vou fazer a Elis dos 10 aos 34 anos, até o último show dela que foi o “Trem Azul”. Então, começa com ela cantando na rádio em Porto Alegre, na Rádio Gaúcha, até ela vir pro Rio, o sucesso de “Arrastão”, o “Dois na Bossa”, o “Beco das Garrafas”… A gente faz mesmo a trajetória dela.
BM – Você é uma mulher temperamental e vibrante como ela, ou você vai pegar isso emprestado de algum lado teu para interpretar essa “pimenta”?
IV – (Risos) Na verdade, eu não sou tão ciclotímica assim como ela, mas eu estou estudando justamente para pegar. Claro que eu tenho um lado bem extrovertido, sou comunicativa e pego isso para usar um pouco daquele carisma todo que ela tinha.
BM – E o espetáculo viaja?
IV – Eu acredito que sim. A gente vai estrear aqui no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, depois vamos pro Centro Cultural de São Paulo e depois não sei se a gente viaja direto ou se volta pro Rio e depois começa a viajar. Isso tem que ver com a produção.
BM – E quem te convidou para interpretar a Elis?
IV – Foi o Diogo Vilela, o diretor da peça.
BM – Então ele já pensava em você para o papel?
IV – Exatamente. Foi em julho de 2001, quando fui assistir “Hamlet”, que ele fazia, e então no final do espetáculo eu fui cumprimentá-lo. Ele já tinha assistido a um outro espetáculo que eu fiz chamado “Cole Porter” e no final ele disse que iria fazer um espetáculo em janeiro e que queria que eu fizesse a Elis Regina.
BM – A peça da Elis vai ser mais cantada? Como vocês vão fazer para mesclar canto e drama?
IV – Na verdade, a gente conta a trajetória dela toda e no meio da trajetória a música nunca vem aleatoriamente, nunca vem separada da cena. Então, por exemplo, não tem uma ordem cronológica das músicas. Tipo: ela está numa cena com o pai e ele diz que ela ganhou, que a rádio gaúcha quer contratá-la por, na época, CR$ 50 por mês. Vamos dizer que hoje seriam cinco mil reais. Ela era uma menina de 14 anos, então ela vibra e fala: “Tá vendo, pai! Um dia eu vou realizar meu sonho e vocês nunca mais vão precisar na vida”. Aí entra “Romaria”, “É de sonho e de pó, o destino de um só”… Então a música sempre vem para definir mais o sentimento que a cena está levando, por isso é que está tão emocionante, é quase uma poesia.
BM – É o primeiro espetáculo que os filhos autorizaram?
IV – Exatamente. Primeiro porque eles são apaixonados pelo Diogo Vilela, adoram o trabalho dele desde sempre, confiaram e gostaram muito do roteiro do Douglas Dwight e da Fátima Valença. Eles têm um parceria que vem desde o espetáculo “Dolores, um musical” e agora estão fazendo “Elis”. O texto é fantástico, tanto pra gente, para interpretar, quanto para quem vai assistir.
BM – Você faz algum tipo de preparação antes de entrar em cena?
IV – Tem o aquecimento vocal, que a gente sempre faz antes, bebo muita água, tomo mel pela manhã, não fumo, nunca fumei na minha vida, acaba com a voz, é impressionante. Não como muito em cima da hora do espetáculo, para não ficar com a barriga cheia, procuro dormir bem. É uma disciplina quase militar…
BM – É porque a gente tem a impressão de que os artistas são todos boêmios…
IV – E são. Continua sendo, a gente sai do espetáculo com muita fome, gastamos uma energia muito grande fazendo o espetáculo, essa troca com o público. Então você fica precisando mesmo de um alimento físico. Aí a gente sai daqui e vai jantar, vamos para algum lugar. Não quer dizer que eu vá beber, eu bebo socialmente, um chopinho de vez em quando, mas quando eu estou fazendo peça eu até evito. Digamos que eu chegue em casa uma hora da manhã, aí vai dormir e tal. No outro dia, não acordo às oito da manhã, acordo às dez, entendeu? É outro pique…
BM – Você se lembra do dia em que a Elis morreu?
IV – Não. Sei que foi no dia 19 de janeiro de 1982, mas eu não lembro.
BM – A peça estreou dois dias antes dos 20 anos da morte da Elis.
IV – É, estreamos no dia 17 de janeiro e ela faleceu no dia 19, uma pressão maior ainda, né?