Ginasta Jade Barbosa tem trajetória marcada por feitos históricos – e, após ter problemas graves de saúde por más condições de treino, passou a cuidar das novatas diante dos olhos do público
Jade Barbosa, de 33 anos, começou a carreira na adolescência e enfrentou uma série de obstáculos. Antes de participar da conquista inédita do Brasil nas Olimpíadas de Paris, com a primeira medalha brasileira na ginástica em equipes, ela treinou sob práticas intensas. Por conta delas, a atleta teve problemas de saúde – algo que usou como combustível para garantir uma trajetória diferente às atletas que vieram depois dela.
História de Jade Barbosa na ginástica
Em 2024, o Brasil se emocionou com o bronze da equipe de ginástica artística nas Olimpíadas de Paris. Na ocasião, o grupo foi liderado por Jade Barbosa, veterana do quarteto e dona de uma história cheia de conquistas – assim como obstáculos.
Aos 15 anos, Jade ganhou os holofotes ao subir ao pódio pelo Brasil pela primeira vez em uma das etapas no Mundial de Ginástica, em 2007, com a medalha de bronze. O que se seguiu foi uma série de conquistas marcantes; em 2008, ela conquistou três medalhas nos Jogos Pan-Americanos do Rio, bronze no solo, prata na etapa de equipes e ouro no salto.
No mesmo ano, a ginasta fez sua estreia em Olimpíadas em Pequim, e seguiu atuando pela bandeira verde e amarela nos Jogos Olímpicos em 2016, no Rio. Tudo isso, porém, só veio após treinos rígidos e inúmeros problemas de saúde causados por eles.
Jade Barbosa enfrentou condições de treino precárias
Ao podcast “Cara a Tapa”, em 2023, Jade Barbosa afirmou que, na adolescência, ela teve uma treinadora que proibia o consumo de água nos treinos. Isso, além de ter lhe ocasionado 15 pedras nos rins – bem como diversas crises de cólica renal – também rendia punições após os finais de semana.
“A gente vivia desidratada, chegava no final de semana, eu bebia um pouco mais de água e engordava 2 kg. A treinadora ficava maluca, tinha castigo, corrida”, relatou ela ao podcast, citando ainda uma lesão no punho que surpreendeu até mesmo médicos especialistas nessa parte do corpo.
Ainda adolescente, ela teve uma osteonecrose no capitato, morte de parte de um osso localizado no punho. “Ninguém tinha visto essa lesão, tinham onze [casos] no mundo, se não me engano. Não tinha cirurgia, prótese… Eu ficava sem treinar para ver se voltava a circular sangue, só que não acontecia. Todos os médicos falavam que não tinha jeito, eu tinha de tomar um remédio caríssimo… Falei: ‘Vou treinar assim mesmo’”, declarou.
Atleta atuou para que outras não vivessem o mesmo
Desde então – e mesmo enfrentando outras graves lesões no joelho que a tiraram das Olimpíadas de Tóquio, no Japão, em 2020 – Jade Barbosa decidiu se dedicar a melhorias no esporte. “Abracei a causa e falei: não vou deixar mais meninas passarem pelo que eu passei. Quando voltei, me comprometi com começar essa mudança. A gente começou esse trabalho de ir mudando aos poucos”, disse a ginasta.
Segundo ela, suas sucessoras colheram os frutos desse trabalho. “[Conseguimos] Treino individualizado, que diminui o risco de lesão, água liberada, todo mundo no treino com a garrafa…”, enumerou a ginasta que, paralelamente, seguiu treinando e defendendo o Brasil em inúmeros campeonatos.
Além disso, Jade ainda fez questão de começar a participar da elaboração dos collants da Seleção Brasileira de Ginástica, garantindo detalhes que honram a história das meninas.
Com tudo isso, ela se tornou uma referência ainda maior para as companheiras de equipe em Paris, de quem cuidou sob os olhos do público. “No ginásio, eu sou a referência que hoje elas têm, como a Dai [Daiane dos Santos] foi para mim, como a Dani [Daniele Hypolito] foi para mim, como a Lais [Souza] foi para mim. Eu gostaria de também poder ser para elas algo que trouxesse segurança”, concluiu.