Seu celular toca e você responde através da manga da sua camisa. Deseja saber a distância já percorrida numa caminhada e a sua calça imediatamente lhe dá a resposta. Ficção científica de Ray Bradbury? Não. Peças que podem compor o seu guarda-roupa muito em breve…
Os exemplos citados fazem parte de uma série de pesquisas realizadas pelo Instituto Politécnico da Virginia, nos Estados Unidos, que trabalha há alguns anos num projeto chamado “wearable computers” ou “computadores usáveis”.
Este casamento “high-tech” é a última tendência em termos de tecnologia aplicada à moda, permitindo que o comportamento de um ser humano seja monitorado por sensores eletrônicos misturados às fibras dos tecidos. O que parece uma “prisão” ambulante na verdade se trata de um tecido inteligente e pode até mesmo salvar vidas. Durante uma determinada atividade física, o desempenho de uma pessoa com problemas cardíacos, por exemplo, pode ser acompanhado pela roupa “computadorizada”, que dispara alertas no caso de alguma anormalidade.
O intenso dinamismo do mundo globalizado fez com que com que conforto e praticidade aparecessem como valores imperativos na vida da mulher
Um interessante lançamento há pouco divulgado foi o tecido anti-pólen, desenvolvido pela tecelagem japonesa Miyuki Keori. A invenção impede que grãos de pólen grudem na roupa, uma saída e tanto para os alérgicos a esta substância. Sem dever nada aos japoneses, os italianos também demonstraram talento ao introduzirem no mercado o tecido luminoso, cujas tonalidades variam de acordo com a intensidade de luz em sua superfície.
Hoje em dia é possível sair de casa com roupas feitas de tecidos bactericidas, com protetor solar e que controlam o suor. Ou vestir um sutiã com hidratante AloeVera e uma calcinha que promete proteção contra infecções.
As gigantes de telecomunicações, atentas ao poder da moda de lançar tendências e atingir o público jovem, começaram também a investir em projetos inovadores. A Motorola junto com a Burton Snowboard fabricou uma linha de jaquetas com tecnologia Bluetooth (tecnologia sem fio), que pode ser acionada com um simples toque. O celular fica conectado ao painel de controle na manga da jaqueta e é possível receber chamadas e falar através do microfone instalado na própria roupa.
O que pode parecer luxo ou mesmo extravagância é simplesmente a resposta a uma demanda da sociedade. As grandes mudanças ocorridas na moda nos últimos tempos refletem nada menos do que as mudanças ocorridas na sociedade como um todo. Um recente estudo feito pela renomada fabricante têxtil Du Pont apontou que a maioria das mulheres procura nas tendências de moda uma forma de se sentirem mais seguras, felizes e, principalmente, atraentes.
No entanto, o intenso dinamismo do mundo globalizado fez com que com que conforto e praticidade aparecessem como valores imperativos na vida da mulher, superando até mesmo o glamour inerente à moda. A roupa ainda é um elemento fundamental em suas vidas, porém deve contribuir para o bem-estar físico e emocional acima de qualquer outra coisa. O tempo para cuidados pessoais é escasso. O estilo tem que vir acompanhado de funcionalidade.
Daí o sucesso das marcas esportivas que, gradativamente, ampliaram o escopo de atuação e se aproximaram do mundo fashion. Grifes como Nike, Adidas e Puma perceberam que as pessoas que se dedicavam a alguma atividade física “transpiravam” autoconfiança, além de apresentarem uma beleza natural conseqüente do exercício em si. Estava claro que o estilo de vida “esportista” passara a ser um desejo coletivo, uma aspiração da sociedade. Para as pessoas que não praticavam efetivamente nenhum esporte, a moda se transformara no “trampolim” para essa sensação de bem-estar almejada.
A “moda tecnológica” vem direcionando o seu foco para a relação roupa-usuário-ambiente. Seu objetivo é atender de forma integrada necessidades sociais, psicológicas e físicas, não se detendo somente a funções práticas e/ou estéticas. Afinal, esta é a marca registrada da moda contemporânea e o que o consumidor busca na hora de se vestir.