Far Niente é o nome de uma vinícola da Califórnia. Será que o pessoal de lá não trabalha, leva a vida na sombra e água fresca, como indica o seu nome italiano? Acontece que em 1979 o produtor Gil Nickel comprou uma das mais antigas vinícolas da Califórnia, abandonada. E, em meio às ruínas, encontrou uma pedra com a inscrição “In dolce far niente” – o que pode explicar a decadência da casa sob os antigos donos. Mas Gil decidiu prestar uma homenagem e usou parte do nome.
Uma vinícola húngara, a Neszmely, lançou no mercado inglês um vinho branco com uma uva original de seu país, mas completamente desconhecida no exterior. Pudera: seu nome, Cserszegi Fuszeres, é absolutamente impronunciável por qualquer um que não fosse húngaro. Mas a Neszmely encontrou uma saída criativa para o nome desse vinho, em inglês: The Unpronouceable Grape (“A uva impronunciável”). A cepa Cserszegi Fuszeres resulta de um cruzamento da Gewürztraminer e da Irsai Oliver. Dizem que é deliciosa.
Pois é, no mundo dos vinhos temos também muitos nomes e rótulos curiosos, inventivos. Alguns até embaraçosos.
Por exemplo, há um vinho da Califórnia chamado Cardinal Zin. No rótulo temos a ilustração de um cardeal, feita pelo cartunista Ralph Steadman. O produtor do vinho, a Bonny Doon, quis fazer um trocadilho com a uva que usa nesse vinho, a Zinfandel (coloquialmente tratada como “Zin”) e a palavra “Sin”, que significa “pecado”. Já “cardinal” é cardeal, mesmo, embora também tenha o sentido de principal. Só que nos Estados Unidos, hoje, “Pecado Cardeal” (também pode ser “Cardeal Pecado”) é imediatamente ligado aos casos de pedofilia envolvendo um bom número de cardeais. E agora? Cardinal Zin dificilmente vai ser utilizado em missas.
Sangue de Boi é o nome de um antigo e famoso vinho húngaro – provavelmente copiado pelos produtores nacionais para fazerem o seu garrafão campeão de vendas. O nome original e completo é “Sangue de Boi de Eger” (“Egri Bikaver”, no original) e refere-se aos tempos, no século XVI, quando a cidade de Eger estava sitiada pelos invasores turcos. Os defensores húngaros defenderam a cidade com grande ferocidade. Os turcos atribuíram aquela valentia toda ao que viam à distância: os húngaros bebendo “sangue de boi” direto de tinas, manchando suas barbas de vermelho. Na verdade, a turma estava se revigorando com o vinho tinto da região. O fato virou nome de vinho, desde então.
A inesquecível Marilyn Monroe é também nome de vinho: Marilyn Merlot. O rótulo é inusitado: a cada safra, mostra uma foto diferente da atriz. É um Merlot da Nova Wines, vinícola da Califórnia, que obteve a licença da imagem da estrela através dos administradores de seu legado: Anna Strasberg (viúva do amigo, diretor e professor de teatro de Marilyn, Lee Strasberg) e Centro Anna Freud de Psiquiatria Infantil.
Latour é o nome de um dos mais famosos Château do mundo, produtor de um dos tintos mais disputados e também mais caros. É um premier cru classé – o topo da classificação de Bordeaux, França. E sua história, de pelo menos 600 anos, dos tempos de Ricardo Coração de Leão, começa na época em que a região, Pauillac, fazia parte do reino da Inglaterra. Muitas torres fortificadas vigiavam a região de modo a combater piratas que vinham do mar. Até hoje existe uma torre (daí Latour) na propriedade, embora não seja mais a original (que era quadrada, enquanto a atual é circular, tal como mostra o rótulo do precioso vinho).
Storybook (“Livro de História”) dá nome a uma vinícola da Califórnia, a Storybook Mountain Vineyards. Seu proprietário, Jerry Seps, fornece os três motivos desse curioso nome: 1) os primeiros donos da vinícola eram dois irmãos alemães, Jacob e Adam Grimm (uma tremenda coincidência com o nome dos famosos autores e contadores de história, também alemães, os irmãos Grimm); 2) Jerry acha que “um vinho bom é igual a um livro de história – encanta a nossa vida”; 3) Ele acha que uma vinícola deve ser como uma história de fada.
Muito criativo é o rótulo do vinho ” Ten Degrees” (“Dez Graus”). Ele apresenta um termômetro que muda de cor (fica completamente vermelho) quando o vinho, após algum tempo gelando, atinge dez graus. Pronto para servir. É um vinho branco francês regional que harmoniza as uvas Chenin Blanc e Chardonnay. Pelo visto, querem vender mais o rótulo do que o conteúdo.
Espantoso é o vinho Red. Não só seu nome é “vermelho” (que também pode ser entendido como tinto, a cor do vinho). A rolha, de plástico, é vermelha, como o rótulo também é vermelho. Só que o vinho é… branco!! É um francês regional, exportado para a Inglaterra, feito com uma Chardonnay. Ou o departamento de marketing rompeu com o pessoal da produção (e vice-versa) ou ambos não existem. Grande mancada!
Em braile. O rótulo do Cotes du Rhône Rasteau, do produtor M. Chapoutier, foi o primeiro do mundo a ter também uma leitura em braile, em 1997. M. Chapoutier levou um ano pesquisando o processo e até investiu em equipamento tipográfico para alcançar seus objetivos. E conseguiu. As pessoas com problemas de visão podem informar-se sobre a apelação, nome, cor, origem, produtor e safra. Taí uma inovação que só merece aplausos. E olha que o vinho é ótimo.
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