Muito se fala sobre vida após a morte, mas enquanto ninguém comprova cientificamente as teorias espíritas, os relacionamentos estão aí para reforçar as crenças: é que alguns, quando acabam, deixam, além das lembranças, a alma penada do ex rondando a nossa vida sentimental. E para que o tal fantasma encontre a sua luz e saia desse corpo que, definitivamente, não lhe pertence mais é preciso muito sangue frio. Claro, oração também ajuda.
O “encosto” costuma ser ainda pior quando o relacionamento morre antes que a sua “missão nesse plano” seja cumprida. “Nosso namoro terminou na hora errada. A gente era muito novo, acabamos tudo por pura insegurança. Ainda tinha muito caldo pra render”, afirma a administradora de empresas Ana Paula Braga. “A relação também tinha um problema sério: era altamente sexual, tínhamos um desejo carnal incontrolável um pelo outro. A gente passou um tempo sem se ver, mas quando nos reencontramos não deu pra segurar e acabou rolando”, lembra.
Foi aí que o fantasma começou a assombrar – e tentar – a vida de Ana Paula. “Acontece que eu estava namorando e acabei caindo num turbilhão de sentimentos que me deixou com muita raiva dele e uma enorme culpa. Passamos mais dois anos sem nos falar até que decidimos colocar as cartas na mesa. Foi uma lavagem emocional: descarregamos toda mágoa, culpa e tesão que tinham se misturado”, diz. A partir daí, Ana Paula acreditou que o tal ex estava definitivamente enterrado, a sete palmos do chão. “Doce ilusão. A gente trocou uns beijinhos por um tempo e logo depois eu comecei a namorar outro cara. Mais uma vez, o tempo passou e o meu telefone voltou a tocar. Ele insistiu muito para que a gente se encontrasse e eu acabei topando. Foi uma loucura! Eu percebi que, na verdade, nada tinha se resolvido e que bastava ele encostar em mim pra que eu ficasse totalmente arrepiada”, conta ela, que até hoje mantém uma colorida relação com o ex. “É mais forte que eu e do que ele também, que namora há mais de sete anos. Acho que o nosso envolvimento foi tão intenso que não dá mais para tentar controlar”, afirma.
Toda morte representa uma perda. E lidar com elas é o maior desafio de quem vê o próprio relacionamento passar por isso. Principalmente quando é o espírito do ex quem resolve bater as asinhas. “Nós namoramos quatro anos e o relacionamento terminou por desgaste. Só que, logo em seguida, eu comecei um outro namoro com um cara que era amigo nosso. Claro que tivemos problemas”, conta a professora Gabriela Abreu, que acabou aprendendo que o melhor a fazer para que um espírito encontre seu caminho de paz é se conformar com a sua ida para o além. “Meu ex brigou feio com nós dois e isso me abalou muito. Eu gostava demais dele como amigo, como pessoa e, apesar de saber que aquilo era uma injustiça, fiquei muito mexida. Na verdade, quando a briga aconteceu, eu percebi que o que eu tinha por ele era um sentimento de posse muito forte. E foi aquela briga que me mostrou que eu havia perdido ele. Como eu não soube como administrar isso, o fantasma dele ficou rondando a minha relação e minando a paciência do meu namorado. Então, eu vi que aquilo estava indo longe demais e, com a ajuda de uma terapia, consegui exorcizar o problema”, garante.
Brincadeiras e exorcismos à parte, a psicóloga Marisa Amorim concorda com as comparações. “O fim de um relacionamento é mesmo uma morte. E não é nada fácil passar pelo período de luto”, diz. Para ela, a dificuldade de lidar com as perdas é basicamente a razão dos problemas com os fantasmas dos ex-namorados. “Principalmente se isso se manifestar nas duas partes. Os conflitos que levaram o relacionamento ao fim não vão ser resolvidos com isso e vão se transformar numa espécie de elo entre os dois, que vai ser mantido inconscientemente. Tudo em função da dificuldade de abrir mão do outro para o mundo, ainda mais se, somado a isso, há alguma espécie de desejo. O que dizer de uma relação que tem problemas como laços de união? Problemática, claro”, explica. E até que alguém se sinta seguro para sair desse impasse, os dois estão condenados a se sentirem presos e, pior ainda, levar alguém de fora para o meio dessa confusão. “Enquanto esse laço não for desfeito, o relacionamento também não acaba”, afirma. E aí não há missa ou vela de sete dias que dê jeito.