O poder da palavra

por | jun 30, 2016 | Comportamento

Um computador com inúmeros comandos, arquivos de diversas extensões e programas, que nem sempre temos noção de como executá-los. Por isso, a necessidade de conhecer bem suas funções e, principalmente, dedicação para que novas formas de uso sejam assimiladas. Até mesmo para facilitar o trabalho e agilizar a obtenção de resultados. A máquina em questão? O cérebro. Uma “CPU” que guarda pensamentos, sentimentos e desejos e que precisa ser bem utilizada para que possamos melhorar nossa qualidade de vida. Sendo assim, torna-se essencial compreender como o ser humano pensa, age e se comunica. É o que propõe a PNL: Programação Neurolinguística.

O nome já explica muita coisa. Programa: nós temos vários, sendo alguns conscientes e outros inconscientes. Por exemplo, fazer compras, ir à aula e acordar cedo são programações que você já conhece e que estão registradas no seu banco de dados. Já ficar nervoso(a) diante do seu chefe, ansioso(a) antes de uma prova ou emocionado(a) com um filme são reações que nem sempre você espera, mas que vão à tona porque também estão registradas de alguma forma. Neuro: os comandos que temos para executar esses programas. E lingüística: como passamos isso para um plano real, ou seja, como conversar com si mesmo e com os outros.

Se uma pessoa me diz ‘nossa, como você está gorda’, eu tento identificar a intenção positiva que existe nessa ação. Procuro ver algo a favor do outro ao invés de achar que está contra mim. O que a pessoa quis ganhar ao falar isso?

“O autoconhecimento é a chave de tudo. Ao atingir o equilibro e reconhecer o seu eixo, a comunicação com os demais flui melhor”, é o que diz a psicóloga Rebeca Fischer. Ela faz parte da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística (SBPL), organização de São Paulo, que não só estuda essa nova ciência, como também aplica cursos e treinamentos. Sim, nova ciência, se considerarmos que suas técnicas foram desenvolvidas no início dos anos 70 por Richard Bandler e John Grinder, na Universidade da Califórnia. Dois homens que nem estavam ligados à psicologia, mas que decidiram não só observar como agiam as pessoas bem sucedidas, como também ensinar tais “estratégias”. De modo que (e não é para menos) que apenas recentemente o Conselho Regional de Psicologia tenha considerado a PNL como uma linha terapêutica. “Fica complicado dizer que é charlatanismo com os resultados aparecendo”, comenta Rebeca. E eles, realmente, estão aparecendo.

Segundo a psicóloga, um trauma que levaria anos para ser tratado com a psicanálise pura, por exemplo, pode ser resolvido em duas ou três sessões com a aplicação da PNL. Não existe dependência do paciente com o profissional e melhor: a pessoa adquire uma ferramenta para utilizar em outras situações. “O problema que está registrado na ‘gaveta’ dos traumas, ao ser identificado pode ser realocado para a gaveta da rotina através de um exercício e se tornar mais ‘leve”, explica a psicóloga. Sem mágica. Só transformações de hábitos que permitem uma evolução real do ser humano. Na verdade, tudo gira em torno da forma que enxergamos as coisas. E não dá para negar que essa “visão” tende a melhorar e ficar mais clara a partir do momento em que entendemos como a nossa “CPU” processa.

Da teoria para a prática

“Mudou a minha vida”, é a primeira frase de Beth Ripoli, 55, pianista profissional, quando o assunto é PNL. Ela está indo para a gravação do seu terceiro CD de música popular e justifica esta conquista com a aplicação da Programação Neurolinguística. “Eu era apenas uma professora de violão e piano. Tomei coragem de divulgar o meu trabalho, me lançar como compositora e agora até como cantora por conta dos cursos que fiz e refiz”, conta. Sem deixar de lado a assessoria musical com 500 nomes que, hoje, ela gerencia. Um salto e tanto para quem antes estava limitada somente a salas de aula. “Quando você nasce, ganha uma caixa de ferramentas com apenas um martelo. Você pode passar a vida inteira dando marteladas ou adquirir outras ferramentas para ajudar na construção do seu dia-a-dia. A PNL te ferramentaliza, se é que essa palavra existe”, comenta. Segundo Beth, atualmente, ela consegue acessar seu lado criativo com facilidade e se comunicar melhor com amigos, familiares, marido e, inclusive, clientes. “Sou capaz de ‘vender’ um quinteto com um show de duas horas para uma pessoa que buscava um saxofonista por cinco horas”, brinca. O que valida muito bem a frase de que a propaganda é a alma do negócio. E propaganda não é nada mais, nada menos, do que comunicação.

E é na linguagem que o empresário Edison Claro, 53, também aposta. “Eu estou sempre ligado na fala. Não só na minha, como na dos outros. Além de captar melhor as mensagens, acho importante mostrar às pessoas o valor das palavras certas”, diz. Exemplificando: odiar é um verbo cortado do seu vocabulário. Muito pesado. Da mesma maneira, ele nunca tem um resfriado. No máximo, pode estar com um resfriado. Ou pode querer visitar a mãe, ao invés de precisar. E jamais irá se esquecer das coisas, sempre se lembrar. O que é bem diferente. Mudanças sutis no seu dicionário particular e que deixam a vida mais prazerosa. “Não dá para encarar tudo como uma obrigação ou acreditar em um estado permanente”, afirma o empresário. Para Edison, aplicar a PNL na sua rotina só gerou fatos positivos, como ser dono de seu negócio, quadriplicar o resultado de sua empresa e melhorar o relacionamento com os filhos. “Não dá para sair impune da Programação Neurolinguística”, afirma sorrindo.

Foi o que aconteceu com a psicóloga Délia Fernandez, 50, que também só consegue destacar vantagens com a PNL. Ela conheceu a terapia em 2003 e desde então passou a usá-la como ferramenta tanto em seu consultório, como na vida pessoal. “Hoje, eu tenho uma flexibilidade maior para entender e me colocar no lugar da minha filha. Fico menos passional, ao ponto de dissociar as minhas questões para poder enxergar as dela”, exemplifica. Segundo Délia, temos a tendência de pré-julgarmos que tudo está contra a gente e não paramos para entender o outro lado da história. “Se uma pessoa me diz ‘nossa, como você está gorda’, eu tento identificar a intenção positiva que existe nessa ação. Procuro ver algo a favor do outro ao invés de achar que está contra mim. O que a pessoa quis ganhar ao falar isso? Agora, se, mesmo assim, eu me sentir mal ou me magoar é porque tem algo errado comigo”. Para a psicóloga, o ponto principal é que você não é responsável pelo o que o outro fala, mas sim pela sua reação.

Da teoria para a sua prática

A psicóloga Rebeca Fischer é taxativa: qualquer um pode fazer os cursos da Programação Neurolinguística. No entanto, afirma que, ultimamente, tem observado (pelo menos na SBPL) uma grande participação de profissionais que querem melhorar seu desempenho, pré-vestibulandos e pessoas que irão prestar concursos em geral. Além daqueles que já passaram por outros tipos de terapia, mas que ainda estão insatisfeitos com alguma “programação” pessoal.

Assim, quem se interessar, deve procurar conhecer o funcionamento de uma instituição que aplica a PNL ou mesmo a indicação de alguém que atue nessa linha de trabalho, e que não necessariamente precisa ser da área da saúde. No esporte e no mundo dos negócios, essa ferramenta tem sido cada vez mais utilizada. A própria Sociedade Brasileira pode dar esse caminho. É só acessar o site e apertar o enter. Não o do computador, mas o seu mesmo.

Exemplos

Abaixo vão algumas dicas em relação ao uso de certas palavras:

1) Atenção ao uso dos verbos “ser” e “estar”. Se você diz que a pessoa é alguma coisa, estará atingindo diretamente a identidade dela.

2) Cuidado com frases do tipo “Você sempre faz isso” ou ” nunca fez isso para mim”. “Sempre” e “nunca” são palavras que generalizam a frase e podem provocar uma reação defensiva no outro.

3) O “mas” também deixa a outra pessoa na defensiva. Imagine escutar a seguinte frase: “Você é tudo o que eu queria na vida, mas estou vivendo um momento muito ruim para estar ao seu lado”. Tudo o que foi dito antes do “mas” perde valor e não é registrado por quem escuta. Em vez do “mas” tente usar o “e”.

4) Fique atenta à palavra “não”. Você quer evitar alguma coisa usando o “não”, no entanto, pode conseguir o efeito contrário. Por exemplo: ” N ão pense no verde”. Com certeza, você pensou nessa cor ao ler a frase. O “não” traz à mente o que está junto com ele. Procure então dizer sempre o que você quer e não o que não quer.

5) O verbo “tentar” já pressupõe a possibilidade de falha. Em vez de “amanhã, vou tentar te ver”, diga “amanhã, vou te ver”.

6) Substitua “devo”, “tenho que” ou “preciso”, que pressupõem que sua vida é controlada por algo externo, por “quero”, “decido” e “vou”.

7) “Não posso” ou “não consigo” dão a idéia de incapacidade. Diga que “ainda não consegue”, “não quero”, “não podia”.

8) Substitua “se” por “quando”. O “se” carrega uma idéia de condição. O “quando” dá idéia de que algo, realmente, irá acontecer. ” Quando eu tiver meu carro”.

9) Substitua o “espero” por “sei”. “Eu sei que vou aprender essa técnica” em vez de “Eu espero aprender essa técnica”.

10) Troque o condicional pelo presente. Em vez de dizer “eu gostaria de ir à praia”, diga “eu vou à praia”.