O trovador e guerreiro Jorge Vercilo > Temas românticos

BM: Uma de suas músicas, chamada ?Avesso?, aborda um tema homossexual. Por que você resolveu fazer esta música, pra quebrar um tabu ?

JV: Porque hoje em dia a gente começa a refletir e vê o seguinte: você só consegue respeitar algo e entender se você tiver uma convivência ou você estiver mais ou menos vivendo dentro daquele ciclo. Então o homossexualismo sempre foi um tabu. Eu tive um grande amigo, meu e da minha família e um produtor meu que se chama Ricardo Camilo, que não está mais entre a gente, infelizmente. Ele faleceu com o vírus da Aids e ele foi um grande amigo meu. Era um produtor que lutava pela minha carreira de uma maneira maravilhosa, brava, e ele acabou mostrando isso para as pessoas, na maneira que ele acreditava na minha carreira. Com a convivência dele comigo, com a Gabriela e com a minha família, ele ajudava minha tia que também é cantora e a gente começou a ver o universo e a dignidade, o caráter…. Então isso hoje em dia foi um dos motivos que me levou a fazer uma letra assim, porque o que esta música quer dizer é o seguinte: é um grito de liberdade e ao mesmo tempo uma declaração de respeito a uma opção sexual e é muito interessante. É você falar: venham ! A virada do milênio está aí e todo mundo tem que ser respeitado, as diferenças têm que ser respeitadas. E eu comecei a compor esta música, não com essa intenção, eu comecei a compor uma música falando de amor, só que um amor marginalizado, era uma cosa meio marginalizada, tipo Romeu e Julieta e numa determinada hora me bateu: Por que não fazer falando de amor, mas um amor marginal, entre dois homens ?

BM: Foi uma espécie de homenagem a ele ?

JV: Foi, foi uma espécie de homenagem e ele e acabou se tornando uma homenagem a eles, que estão aí cada vez mais assumidos e cada vez mais integrados à sociedade, graças a Deus e eu acho que eu comecei a ver por esta ótica porque eu tive um grande amigo homossexual. É complicado falar isso, parece que você está separando: eu sou hetero e você é homo. Eu acho que todo mundo é gente, independentemente da escolha sexual.

BM: Você falou que queria fazer uma música que falasse de amor. O seu repertório é basicamente romântico. Você é uma pessoa romântica ?

JV: Sou, eu sou um cara bem romântico. Eu classifico o meu repertório, a minha linha, a minha linguagem, como lirismo, porque o romantismo foi muito desgastado dentro do mercado. Romantismo, hoje em dia, você tem o Fábio Jr., Zezé de Camargo e Luciano, que é o sertanejo, nenhum preconceito com isso, mas eu acho que a minha obra é mais uma coisa ligada ao lirismo, às imagens, à metáforas e à introspecção, mas, tranquilo, eu acho que as pessoas é que devem definir a sua obra, né não ?