Quem na hora do aperto, ou mesmo para não ter que passar por ele, não se apegou a alguma crendice? Nem que sejam as prosaicas três batidinhas na madeira quando o assunto é capaz de causar arrepios. Mas muita gente boa não se contenta apenas com elas e deixa a imaginação e a fé se encarregarem dos sortilégios: como a cisma de usar uma roupa que se imagina trazer sorte, banir do figurino aquela que foi testemunha de um fatídico dia, ficar sentado na mesma posição da última vitória do seu time, desvirar sapatos, não passar embaixo da escada, pânico ao quebrar um espelho e por aí vai… Fé para uns, bobagem para outros, a verdade é que a superstição ainda continua com seu misterioso poder em pleno terceiro milênio.
Acreditar em algo inexplicável e, mais ainda, improvável é o que várias criaturas que habitam esse planeta fazem, desde que o mundo é mundo, diante das mais variadas situações. Seja para espantar os maus espíritos ou para aproximar os bons, quase todo mundo leva consigo uma fézinha que seja em alguma coisa. “Eu não posso ver sapatos virados. Para mim é anúncio de morte de mãe, toda vez que vejo vou lá e desviro. Eu sei que não faz sentido, mas prefiro continuar fazendo. Passar e não desvirar me deixaria com peso na consciência se algo acontecesse”, conta a ädvogada Márcia Mendes. A superstição, além de não ter explicação lógica, também pode ser considerada um trunfo para qualquer ocasião, basta inventar a sua – por mais que pareça estranha. “Eu namorava um cara na época da Copa do penta e fomos assistir um dos jogos no motel. Quando ele tirou a calça estava com o dito cujo amarrado com uma fitinha verde e amarela. Foi hilário! Ele disse que estava fazendo isso desde o primeiro jogo e o Brasil já estava nas quartas de final. Se foi pela fita ou não, não sei, só sei que deu certo e comemoramos o penta tirando a bendita fitinha”, lembra a empresária e torcedora Renata Aragão.
E há quem jure de pé junto que sua superstição não se trata de uma crendice infundada, mas sim baseada em dados estatísticos. “Eu tinha uma roupa linda, mas comecei a notar que toda vez que a usava acontecia alguma coisa ruim. Usei a primeira vez e aconteceu uma coisa chata, a segunda também, aí comecei a ficar desconfiada. Quando coloquei a roupa pela terceira vez e também não foi legal, nunca mais voltei a usá-la. Dei a tal roupa para que sua energia negativa não ficasse nem no meu armário”, conta a arquiteta Suzana Borges. Para o psicólogo Paulo Próspero, essa atitude, de depositar os destinos em certas crendices, está relacionada à necessidade de segurança. “O homem é muito desamparado, e então precisa se apegar a conceitos mágicos para de certa forma se sentir protegido”, comenta ele, acrescentando ainda que pessoas que seguem alguma religião se apegam menos a superstições devido ao fato de já terem um comprometimento nesse sentido. “A minha avó é daquelas pessoas que tomam lentilha no ano novo, come nhoque no dia 29, não passa embaixo de escada, tem elefantes de cerâmica em casa e isola na madeira. Eu acabei pegando dela essas manias, acho que não custa nada fazer, senão faz bem, mal é que não vai fazer”, acredita a dentista Elaine Sobral.
No entanto, acreditar em superstições por mais inofensivo que possa parecer pode às vezes fazer vítimas. “Muitas pessoas se deixam escravizar pelas suas crendices. Deve-se tomar cuidado para não se tornar uma coisa obsessiva, fazendo com que a pessoa até precise de terapia para se libertar desses mitos”, alerta Paulo Próspero. Portanto, como tudo, a superstição também deve ser apreciada com moderação. Mas não custa nada ter a sua.