A psiquiatra Evelyn, por exemplo, afirma que só neste ano já atendeu em seu consultório dois casos de nomofobia. Um deles se trata de J*, jovem de 13 anos que desde criança já sofria de transtorno de ansiedade de separação, ou seja, sempre que se afastava de sua mãe, tinha sintomas como dores na barriga e ânsia de vômito, acompanhados da idéia de que algo ruim pudesse ocorrer com a mãe e que esta não iria buscá-la.
Ao iniciar tratamento psicoterápico, J* melhorou dos sintomas. Entretanto, acabou desenvolvendo nomofobia ao ganhar de sua mãe um celular. J* liga para a mãe de dez em dez minutos, querendo saber onde ela está, se está bem e a que horas vai voltar. Com isso, passou a ter insônia, não está mais conseguindo estudar, está muito nervosa, chorando à toa e tem medo de sair de casa. Sua vida gira em torno do celular: têm três aparelhos, três baterias extras e um carregador sobressalente. A mãe acabou tendo que deixar o emprego para acompanhar J*, que atualmente faz tratamento rigoroso com medicação e terapia cognitivo comportamental para ‘fobia de não estar conectada ao celular’.
A angústia aumenta tanto que a vida da pessoa pode paralisar, não conseguindo fazer mais nada naquele dia enquanto não sanar o problema do celular e ficar plugado novamente
O outro caso atendido pela doutora foi o de A*, um workaholic, que procurou a ajuda da psiquiatra por não conseguir mais viver sem o seu celular e o laptop, o que, de um ano para cá, fez com que perdesse a vontade de praticar esportes, sair com a família e até sua libido. Quando seu casamento estava prestes a terminar, A* ficou preocupado e decidiu moderar o seu comportamento compulsivo e dividir mais equilibradamente as suas horas. Para tanto, decidiu que nos finais de semana desligaria o celular para se dedicar à família.
Mas, para sua surpresa, o fato de ficar “desconectado” gerou nele uma angústia profunda, além de uma agitação insuportável. Não conseguia se concentrar, seus pensamentos giravam em torno do trabalho e ele não conseguia relaxar. No segundo final de semana em que passou desconectado, apresentou insônia e dor precordial, indo parar na emergência. Foi medicado e recebeu alta com diagnóstico de episódio de pânico causado por nomofobia. Atualmente, A* está sendo submetido à terapia individual e de família e fazendo uso de medicação antidepressiva e ansiolítica. Além disso, sua esposa está recebendo suporte psicológico para conhecer e compreender o mecanismo de funcionamento da doença.
A psicoterapeuta cognitivo-comportamental, aliás, explica que a família compreender a doença é de extrema importância para a cura do paciente. “Geralmente a família, por não entender do que se trata, acaba rotulando o paciente de viciado, fraco, maluco, e a auto-estima da pessoa fica arruinada. Por isso, é fundamental que a família também receba apoio através de suporte, orientação e muita informação, para que eles possam, efetivamente, ajudar o paciente.”
Tendo como base esses exemplos, Evelyn afirma que o pânico por perder a conectividade com o celular é o mesmo de quem tem medo de avião, por exemplo, com o aparecimento de palpitação, mãos frias, ansiedade, dor de cabeça, dor de barriga, entre outros. “A angústia aumenta tanto que a vida da pessoa pode paralisar, não conseguindo fazer mais nada naquele dia enquanto não sanar o problema do celular e ficar plugado novamente”, acrescenta.
A psicóloga Angela complementa os sintomas. “Os sentimentos ou são irracionais ou fora de proporção. Já os sintomas físicos relacionados à ansiedade são: tremor, suores, falta de ar, vertigem, náuseas, dentre outros”.
Evelyn diz que , assim como aponta a pesquisa britânica, muitos ainda não aceitam que sofrem desse tipo de fobia e acabam colocando a culpa por estarem sempre conectados nas mais variadas causas. “Acredito que em curto período de tempo, essas pessoas retornem a procurar ajuda, uma vez que a nomofobia cursa com quadro arrastado e crônico, gerando impacto negativo severo na qualidade de vida da pessoa, globalmente”, alerta a psiquiatra.