Vinho, ervas e afrodisíacos

Será que o amor só gosta de subterfúgios e truques? Como explicar a quantidade de pessoas buscando bebidas ou preparados que abram as porteiras do amor ou melhorem seu desempenho sexual? Chovem perguntas sobre o assunto. Então, vamos falar um pouco dele.

As bebidas como afrodisíacos são uma busca milenar de homens e mulheres, que com elas procuram melhorar ou resolver suas habilidades sexuais ou despertar paixões.

Em razão do deus do vinho na Grécia, Dionísio, e de seu correlato na Roma antiga, Baco, a bebida garantiu sua presença em ações relacionadas com o desejo sexual, já que as festas em homenagem a essas duas divindades eram arretadíssimas e feitas com obrigatória presença do vinho. E também de muitas ervas – consumidas como chás, infusões ou misturadas ao vinho.

Em artigo recente aqui, vimos que uns poucos drinques podem disparar intenso desejo sexual numa mulher, fazendo com que tenha um comportamento descontrolado. Há duas condições para que isso aconteça: quando a mulher tiver um raro tumor benigno da glândula pineal, no cérebro – um pinealoma. A glândula pineal secreta um hormônio, a melatonina, que controla a pigmentação da pele e o nosso ciclo de sono e o estado de alerta. Quando sob efeito alcoólico, acabamos alertas demais, aumentando nosso desejo sexual. Uns poucos drinques também podem provocar igual desejo, mesmo que não haja o pinealoma. Mas, antes, vamos ver o que acontece em outras áreas.

Existem ervas, frutos, produtos de qualquer tipo e origem capazes de disparar o desejo sexual e resolver problemas como o da impotência ou o da frigidez?

A Mandrágora – Tá na Bíblia que Raquel (uma das matriarcas de Israel) recorreu à raiz da mandrágora para tornar-se fértil. A raiz aparece com freqüência nos textos bíblicos. No Cântico dos Cânticos, por exemplo, temos Sulamite convidando o amado, o próprio rei Salomão, para um passeio nos campos, acreditando que o mero aroma das flores da mandrágora ajudariam a “despertá-lo”. Um efeito duplo: fertilizante e excitante.

A mandrágora é nativa do sul da Europa e dos países do Mediterrâneo oriental. Os gregos antigos a misturavam com o vinho (que então era normalmente servido contendo várias ervas, além de água do mar – provavelmente para amenizar o seu paladar). A utilizavam também como anestésico, em sua medicina.

O florentino renascentista Nicolo Maquiavel (“O Príncipe”) escreveu uma comédia, “A Mandrágora”, encenada até hoje em todos os palcos do mundo, com a planta no eixo da trama. E não precisa buscar muito longe. O grande F. Scott Fitzgerald (“O Grande Gatsby”, “Suave é a Noite” etc.) admitiu ter usado um chá com a raiz da planta, mas “nem sempre com sucesso”. Falam que Fidel Castro e Che Guevara a utilizavam para os mesmos fins: despertar o tesão.

Alternativas – Gregos e romanos, como quase todos os povos antigos, utilizavam uma longa lista de produtos que acreditavam afrodisíacos. Ela ia de cebola, cebolinha, a alho, aspargos, couve, pimenta, ovos, abacaxi, lesmas. Até hoje, o alho mantém-se como o afrodisíaco mais popular entre os gregos. Se não funciona, pelo menos espanta os vampiros.

O sheik Nefzawi, autor do “O Jardim Perfumado para o Deleite da Alma”, escrito no século XV, recomendava comer-se língua de pardal durante o dia e, à noite, uma taça de mel, amêndoas e 100 nozes. E sai de baixo!

O imperador romano Tibério proibiu seu filho de comer brócolis, em função da devastação que estava fazendo entre as servas do palácio. Até o simples alho-poró entrou na lista: o imperador Nero o consumia para melhorar o timbre de sua voz e seu, digamos, diapasão sexual (que, dizem, ora estava voltado para o norte, ora para o sul).

A famosa Catarina de Medici – que além do garfo, introduziu as alcachofras na cozinha francesa – acreditava firmemente que a planta tinha poderes afrodisíacos, daí não deixar faltar na mesa do seu marido, o velho rei Henrique IV. Dizem que o guru da família do último tzar russo, o místico Rasputin, era o habitante sexualmente mais ativo do país porque devorava enormes quantidades de couve-flor.

Mais recentemente, a raiz do ginseng entrou nessa lista. Nativo da Ásia e da América do Norte, os coreanos o consomem na forma de chá, os chineses o mastigam cru e muitos europeus na forma de pó – todos na crença de que ele estimula homens e mulheres a esquentar suas paixões.

As ostras também são citadas com freqüência, nos últimos tempos. Mas que me desculpe Afrodite, a deusa grega do amor – que também era a deusa dos oceanos –, as ostras são capazes de excitar apenas outras ostras.

Cantárida – Não há evidência científica nas propaladas qualidades afrodisíacas desses produtos, a começar da famosa mandrágora. Com alguma certeza, temos a cantárida. Também conhecida como “mosca espanhola”, é um inseto da família dos coleópteros, que sempre foi muito utilizado na medicina antiga – tanto como diurético como, principalmente, afrodisíaco. É usado seco e moído e é mencionado por Hipócrates, o pai da medicina, Plínio, o Velho, entre outras sumidades da antigüidade.

A imperatriz Lívia (58 a.C.-29 d.C.) pulverizava os pratos de seus convidados de modo a que cometessem indiscrições sexuais (numa antecipação do Big Brother). Em 1772, o famoso (ou infame) Marques de Sade misturou alguns doces com pó de cantárida e os ofereceu numa festa. A coisa se transformou numa orgia e em mortes em massa. O Marques foi mandado para a prisão.

Pois é, a cantárida funciona. Só que se errarmos na dose, ela pode matar. O seu princípio químico ativo, a cantaridina, é segregada pelo fígado e no, processo, irrita todo o sistema urinário. A irritação da uretra faz aumentar o fluxo de sangue na região, resultando em priapismo – uma ereção persistente, excessiva, quase sempre dolorosa. Logo, não há uma ligação com a libido, com o desejo. Caso não haja um homem ou mulher por perto, a pessoa pode querer satisfazer-se com a melancia mais próxima.

Mas nenhum desses remédios prova ser um estimulante sexual. Tentou-se e ainda se experimenta de tudo durante séculos: chifres de rinoceronte, pênis de tigre, ginseng, mandrágora e até trufas. Mas nada disso estimula o desejo sexual. A ausência de libido pode ser causada por fatores que vão do desequilíbrio hormonal a perturbações psicológicas. Vejam só o Viagra: a pilulinha azul pode estar resolvendo problemas de ereção entre os homens, mas não faz nada com relação ao desejo sexual.

O chocolate como poção amorosa – O chocolate pode funcionar, pois contém cafeína (um estimulante natural), canabinóides (substâncias derivadas da maconha, cannabis sativa) e um elemento derivado do MDMA – que vem a ser a chamada “droga do amor”, vendida clandestinamente com o nome de Ecstasy. MDMA é um palavrão: metilenodióximetanfetamina, que provoca forte sensação de euforia.

Pesquisa feita por cientistas da Universidade do Arizona revela que uma barrinha de 50 gramas de chocolate contém cerca de 10 mg de cafeína, quantidade modesta se comparada com as 80 e 100 mg de uma xícara de café. Porém, se combinada com outro ingrediente do chocolate, como a teobromina, também excitante, seu efeito será diferente de se tivéssemos tomando café. No chocolate encontramos ainda “aminas biogênicas” – que são uma classe de compostos orgânicos. Pois essa substância é relacionada com o MDMA e sabe-se que é uma moduladora do comportamento (inclusive sexual).

O álcool também – Mas, finalmente, bebidas alcoólicas podem ou não funcionar (disparar o desejo, a libido)?

Segundo uma pesquisa do Instituto Nacional de Saúde Pública de Helsinki, Finlândia, uns poucos drinques de bebida alcoólica leve pode aumentar a concentração de testosterona na corrente sangüínea, levando a um aumento da libido.

Ainda se desconhece a razão pela qual o álcool induz ao aumento desse hormônio, mas pode explicar porque as mulheres tornam-se superativas após alguns drinques e os homens perdem o ímpeto e escorregam feio na performance.

Mulheres que estão nos seus períodos de ovulação também passam por um significante aumento da testosterona, quando bebem alguns drinques – conforme a revista médica New Scientist. Mas, gente, isso não significa que as mulheres devem beber mais para aumentar o seu desejo sexual. Quanto mais álcool, maior os efeitos negativos: mais agressividade, mais pêlos no corpo, mais rugas, mais problemas no ciclo menstrual e menos libido. Vamos relembrar Shakespeare, em Macbeth, sobre as coisas que as bebidas particularmente provocam: “…Provoca o desejo, mas impede a performance”.

O melhor remédio – Enfim, bebendo ou não bebendo, fazendo ou não uso de poções ou drogas do amor, o melhor remédio para o desejo e o desempenho sexual parece que continua sendo aquele que fica entre nossas orelhas. O nosso órgão sexual mais importante, desde que você tenha boa saúde, localiza-se entre as orelhas: a nossa cabeça, a nossa imaginação. Se você achar que o que a excita é ginseng, tomate, chocolate, pêra ou qualquer outra coisa, então elas são para você o seu afrodisíaco preferido.

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