Carta reveladora sobre futuro de Serena Williams fala sobre desigualdade no esporte

Considerada uma das maiores atletas na história do esporte, Serena Williams escreveu uma carta aberta, publicada pela revista Vogue, para anunciar sua despedida do tênis.

Evitando a palavra ” aposentadoria“, a estrela das quadras explicou como a palavra possui pesos diferentes quando relacionada aos homens e mulheres. Além dessa divisão, Serena também pontuou outros temas que atravessam sua carreira, como a pressão pela perfeição, a busca implacável pelo sucesso e a fama de “durona” que influenciou uma nova geração buscando pelo esporte.

Serena Williams fala sobre desigualdade no esporte

Não é de hoje que Serena Williams tece críticas às desigualdades e preconceitos presentes no universo esportivo. Entretanto, ao revelar uma possível despedida das quadras, a tenista comparou os desafios de carreira que enfrentou ao longo de sua jornada pelo tênis.

A decisão da atleta é motivada por dois pontos: querer expandir a família e se dedicar à carreira como empresária. “Nunca gostei da palavra aposentadoria. Não parece uma palavra moderna para mim. Tenho pensado nisso como uma transição (…), talvez a melhor palavra para descrever o que estou prestes a fazer é evolução. Estou evoluindo para longe do tênis, em direção a outras coisas que são mais importantes para mim”.

O tema da despedida virou “tabu” em sua casa. “Alexis (o marido) e eu raramente falamos sobre isso. Não consigo nem conversar com meus pais. Parece que não é real até dizermos em voz alta. (…) Não há felicidade nesse tópico para mim. (…) Quando vem à tona, começo a chorar. É a coisa mais difícil que já pude imaginar”. Desde sua estreia profissional em 1995, Serena é dona de 73 títulos e soma 319 semanas como a número 1 do mundo. Para muitos estudiosos, a tenista é a maior atleta da história do esporte.

FILIPPO MONTEFORTE/AFP via Getty Images

Porém, a campeã de tênis questiona se o pesar na decisão de abandonar as raquetes seria um reflexo de tantas dificuldades enfrentadas no balanço entre vida profissional e pessoal — escolhas que, como mulher, tiveram outro peso. “Se eu fosse um cara, eu não estaria escrevendo isso porque eu estaria por aí jogando e ganhando enquanto minha esposa estaria fazendo o trabalho físico de expandir nossa família. Talvez eu fosse mais um Tom Brady se eu tivesse a oportunidade”, desabafou.

Mesmo sendo algo comum nos dias atuais, as mães que trabalham fora do lar ainda enfrentam muitas dificuldades no mercado, seja pela falta de oportunidades, disparidades salariais ou pela falta de divisão de tarefas no lar. Serena pontuou com orgulho que em cinco anos, só passou um único dia longe da filha: enquanto a família é sua maior realização, o tênis representa toda a sua vida. “Eu nunca quis ter que escolher entre o tênis e a família. Não acho justo. (…) Estou dividida: eu não quero que isso acabe, mas ao mesmo tempo estou pronta para o que vem a seguir”.

A comparação com o jogador de futebol americano, um homem branco que continua “no auge” mesmo aos 45 anos, reflete sobre as diferentes perspectivas de carreira para homens e mulheres nos esportes. “Não me levem a mal: eu amo ser uma mulher, e eu amei cada segundo de gravidez da Olympia. (…) Eu quase fiz o impossível: muitas pessoas não perceberam que eu estava grávida de dois meses quando ganhei o aberto da Austrália em 2017. Mas estou chegando aos 41 esse mês, e algum lado precisa ceder”, refletiu.

Legado no tênis e família

Serena e a filha Olympia com o prêmio de um torneio, em 2020.
MICHAEL BRADLEY/AFP via Getty Images

Serena diz não pensar muito sobre seu legado, mas que pretende incentivar a filha em seus sonhos, assim como ela foi cativada pelos pais. Talvez, com diferente “balanço”: a atleta relembra o filme “King Richard”, que chegou a concorrer ao Oscar, ao refletir sobre sua relação familiar com o esporte. O longa, protagonizado por Will Smith, conta a história do pai dela e de sua irmã Venus, que batalhou muito por oportunidades para as filhas no tênis.

“Se você assistiu a ‘King Richard’, então você sabe que quando eu era pequena, eu não era muito boa no tênis. Eu estava tão triste por não conseguir todas as oportunidades antecipadas que Venus recebeu, mas isso me ajudou. (…) Eu a segui por todo o mundo e a observei. Quando ela perdia, eu entendia o porquê, e fazia questão de não perder da mesma maneira. É assim que comecei a crescer tão rápido nos rankings, porque eu aprendia por meio das derrotas da Venus ao invés do jeito difícil, que era por minha própria conta”.

A tenista fez história ao voltar às quadras logo após um parto complicado. Um dia após o nascimento de Olympia, enfrentou uma embolia pulmonar, um súbito bloqueio de uma artéria no pulmão por um coágulo de sangue. A atleta é propensa a esses coágulos, uma condição que quase a matou em 2011. Mesmo assim, Serena voltou ao trabalho, sustentando o posto histórico de vencer 23 vezes o Grand Slam — nome dado à conquista de vencer os quatro principais campeonatos do tênis no mesmo ano ou mesmo calendário de torneios.

Relembrando sua trajetória de tantas batalhas, a tenista se entristece ao pensar no fim. Porém, espera que sua jornada sirva de inspiração para outras mulheres conquistarem espaço nos esportes. “Gosto de pensar que graças às oportunidades que banquei, mulheres atletas poderão ser elas mesmas na quadra. Poderão jogar com agressividade e levantar os punhos. Elas poderão ser fortes e belas. Poderão vestir o que quiserem, dizer o que quiserem, arrasarem e ficarem orgulhosas disso”.

Para finalizar, Serena desejou que essa mensagem de poder e conquista exceda o esporte. “Estou longe da perfeição, mas também aguentei muitas críticas, e eu gostaria de pensar que passei por maus bocados como jogadora de tênis profissional para que as próximas gerações possam ter mais tranquilidade”.

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