Na semana do Dia Internacional da Mulher, as homenagens continuam. Nossa terceira representante foi escolhida por simbolizar o que nos torna tão especiais: a maternidade. Isa Cavalieri é mãe de nove filhos, avó de 17 e, recentemente, bisavó. Graças a mulheres como Isa, donas-de-casa orgulhosas de seu papel, os maridos podem se dedicar ao trabalho, e os filhos estão sempre cheirosos e penteados.
Mãe coruja
Ainda pequena, Isa Cavalieri aprendeu a cuidar de crianças. Mais velha de oito irmãos, precisava ajudar a mãe com a prole. Quando chegou sua vez de formar uma família, Isa não fez por menos. Em um intervalo de vinte anos, colocou no mundo nove filhos. Mãe coruja, sabe de cor e salteado os nomes – e idades! – de todos os rebentos, incluindo aí 17 netos e o primeiro bisneto. Parece difícil? Pois Isa escolheu complicar ainda mais, colocando nomes duplos em cada um dos nove. “Maria Inês, Maria Heloísa, Newton José, Luis Eduardo, Francisco Sérgio, Maria Virgínia, Guilherme Alberto, João Paulo e Pedro Henrique. Nasceram todos de parto normal”, orgulha-se.
Aos 79 anos, esta mineira encanta com sua história de vida. “Nasci em Belo Horizonte, mas como meu pai foi trabalhar em Itabirito, no interior do estado, acabei indo muito nova para lá. Foi nesta cidade que conheci meu marido, o Newton”, conta. Casados há 62 anos, Isa e Newton demoraram bastante para perceberem seu amor um pelo outro. Mas uma vez flechados, o casamento não tardou a acontecer. “Quando nasci, mamãe não tinha leite, então fui amamentada pela mãe do Newton. Nossas famílias acabaram criando um vínculo forte”, explica Isa.
Amor fulminante
Apesar da amizade, a grande diferença de idade entre os dois acabou adiando uma aproximação. “Newton é nove anos mais velho, portanto, quando era criança, não me chamava atenção. Mas ele foi fazer faculdade em Belo Horizonte e, alguns anos mais tarde, quando retornou, estava tão diferente que nem o reconheci. Lembro-me bem do dia. Era 1º de abril, aniversário dele. Estava brincando com seu irmão mais novo, que me disse que o Newton chegaria naquela tarde para passar o aniversário com a família. Eu não acreditei, achei que fosse mentira. Mas assim que o vi, acendeu uma chama dentro de mim. Senti uma coisa muito forte”, recorda.
Isa começou a namorar aos 16 e, menos de um ano depois, aos 17, estava casada. O primeiro filho veio aos 18, só parando vinte anos mais tarde. “Como sou a mais velha de oito irmãos, amadureci cedo. Estava acostumada a ter responsabilidades, por isso encarei a maternidade com muita tranqüilidade. Não planejei os filhos. Foi meio por acaso, mas gostava demais. Eles eram fortes, saudáveis, unidos. Quando descobria que estava grávida, pensava ah, que bom que vem mais. Diferente de minha mãe, amamentei todos e alguns mais”, gaba-se.
A multiplicação dos pães
Se manter uma família não é fácil, imagine como fazer com uma prole tão grande! Para Isa, casa cheia nunca foi problema. “Tanto eu quanto Newton viemos de famílias grandes, já estávamos acostumados. Mas nunca tivemos os nove debaixo do mesmo teto. Quando o último nasceu, a mais velha já tinha saído de casa. Os filhos também ajudavam bastante. Os mais velhos cuidavam dos mais novos, e cada um arrumava sua cama, além de cuidar de suas roupas”, explica Isa, que veio de uma família humilde, e nunca fez questão de luxo.
Isa, que nunca trabalhou por dinheiro – faz trabalho voluntário na Associação das Crianças Defeituosas – conseguiu administrar a casa como poucas. O sustento ficava por conta de Newton. “Quando nos casamos, ele estava formado em engenharia. Foi trabalhar na construção de estradas de ferro, e depois de rodovia. Mais tarde, tornou-se sócio numa empresa de engenharia”, conta Isa, que, para acompanhar o trabalho do marido, morou em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde vive atualmente.
Hoje, o casal tem uma boa situação financeira, alcançada através de muito esforço. “Tivemos uma vida modesta. Os meninos estudaram em colégio estadual, o que ajudava bastante. Alguns também foram para faculdades federais. Naquela época, era fácil manter as despesas sob controle. Não tínhamos luxo. As crianças não eram de querer isso e aquilo, e as roupas a gente sempre aproveitava, passando do mais velho para o mais novo”, ensina a mãe.
Com uma vida dedicada inteiramente aos filhos, Isa não tem arrependimentos. “A maternidade me trouxe e ainda traz muitas alegrias. Há muitas compensações. O carinho que recebo deles não tem preço. Nossa família é muito unida. Acredito que isso sirva como testemunho para nossos filhos e netos. Temos que dar o exemplo, e manter a ligação que há entre nós”, diz Isa.
Portas abertas
Mesmo com os filhos casados, a casa de Isa continua movimentada. “Não houve uma situação em que ficássemos sozinhos. Sempre tivemos alguém morando conosco. São jovens que vêm estudar em São Paulo, primos de Belo Horizonte, ou amigos. A casa está sempre acolhendo. Agora é nossa neta quem mora conosco. Está fazendo faculdade aqui em São Paulo”, conta a avó.