Você já ouviu falar em doula? Provavelmente, não. E mesmo a maioria das grávidas jamais deve ter escutado esta palavra. Mas, no fundo, não estão ligando o nome à pessoa. Doula, palavra grega que significa serva, é aquela mulher que auxilia as gestantes durante o trabalho de parto, dando apoio físico e emocional. Na verdade, elas sempre existiram, desde que o mundo é mundo, e são muito comuns no interior do Brasil. No entanto, à medida em que os nascimentos passaram a acontecer em ambiente hospitalar, sob a responsabilidade do obstetra, as doulas foram sendo deixadas de lado. Mas, agora, estas mulheres tão especiais estão sendo resgatadas, voltando a trabalhar em sintonia com a equipe médica.
Essa volta se deve ao fato de a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde terem reconhecido, após diversos estudos científicos, que as doulas trazem enormes vantagens para a parturiente. “Vários trabalhos norte-americanos e canadenses comprovaram os benefícios do auxílio de uma doula treinada durante o parto. Entre eles, a redução da taxa de cesarianas em 50%, a redução do tempo de trabalho de parto em 25%, a necessidade 60% menor de aplicação da anestesia peridural, a diminuição de 40% no uso de soro com o hormônio ocitocina para acelerar o parto, a diminuição do cortes no períneo e a necessidade 40% menor de se usar o fórceps”, informa a Dra. Maria Helena Bastos, obstetra coordenadora do projeto Amigas na Luz, que está implantando o trabalho de doulas voluntárias em hospitais da rede pública do Rio de Janeiro.
Mas como isso acontece? As doulas acompanham a mulher em todo o trabalho de parto, segurando em suas mãos e lhe transmitindo palavras de incentivo para que agüentem as dores com confiança e tranqüilidade. Mas a contribuição não pára por aí. Elas também participam com massagens nas regiões do corpo da gestante que estão mais doloridas, realizando com ela exercícios que relaxam e facilitam a descida do bebê, ensinam a respiração mais adequada para que ela suporte as contrações e colocam em prática tudo o que sabem para fazer com que o nascimento aconteça da maneira mais rápida e com menor sofrimento.
Este é o caso, por exemplo, da doula Fadynha, que há 22 anos realiza este trabalho. “Na minha prática, eu também faço uso de terapias naturais, como do-in, moxabustão, cromoterapia, musicoterapia e fitoterapia. Tudo isso auxilia na redução das dores, no bom andamento das contrações e na abertura pélvica. Pode até fazer com que o bebê que está mal posicionado para o nascimento consiga realizar a rotação dentro da barriga da mãe, nascendo de parto normal”, conta. Uma das mulheres que Fadynha ajudou no parto foi a advogada Adriana Sobral Pinto, 32 anos, mãe de Taís, de cinco anos, e Maitê, de 11 meses. Sua primeira filha nasceu de cesariana, mas a segunda, contrariando a teoria de que o procedimento iria se repetir, veio de parto normal, com o acompanhamento da doula. “A participação dela foi fundamental para a evolução do trabalho de parto. Foi surpreendentemente rápido! Eu fiquei o tempo todo fazendo exercícios e recebendo massagens da Fadynha. As dores foram intensas, mas, sem ela, eu certamente teria desistido do parto normal. A doula foi me orientando e transmitindo força e tranqüilidade. Aliás, não só para mim, como para meu marido também”, revela a advogada.
Não é à toa, portanto, que mais e mais obstetras estão permitindo a presença das doulas nas salas de parto. Sim, porque ela não substitui o médico e nem a parteira – mulher treinada para realizar partos, podendo ter formação em enfermagem. A doula não toma qualquer decisão no processo de nascimento, e sim realiza seu trabalho baseada nos diagnósticos do médico. E um dos obstetras que mais incentiva a participação das doulas é o Dr. Ricardo Herbert Jones, que dá sua opinião sobre este valioso trabalho: “Hoje em dia, a minha taxa de episiotomias, fórceps, indução com ocitocina ou mesmo ruptura artificial da bolsa d’água é praticamente zero. Minha taxa de cesarianas está num nível dentro dos parâmetros da OMS (abaixo de 15%) e muito desse resultado devo à parceria que estabeleci com a doula”, garante.
Mesmo que a participação das doulas não tenha encontrando a adesão de todos os profissionais, diante dos dados científicos e da crescente onda de humanização do parto, a tendência é que ela se torne uma obrigatoriedade nos hospitais. “Ainda há um grande caminho a ser percorrido, mas as orientações da OMS e do Ministério da Saúde nos deixam com um pouco mais de esperança de que, num futuro próximo, tenhamos um acesso mais facilitado da doula a todos os hospitais brasileiros”, prevê o Dr. Ricardo.