Naturalmente, a gestação é uma fase que requer muitos cuidados com a saúde – tanto a do bebê que está sendo gerado, quanto da futura mamãe. Se a mulher apresenta diabetes, então, os cuidados se multiplicam. Deve-se redobrar a atenção em duas situações diferentes: quando, já diabética, a mulher engravida, e quando se manifesta o diabetes gestacional, que surge somente durante a gravidez.
Mas, afinal, quais os riscos para as mães e para os bebês?
Lenita Zajdenverg, Chefe do Setor de Diabetes e Gravidez do Hospital do Fundão (UFRJ), explica que durante a gestação a placenta produz hormônios que podem antagonizar a ação da insulina produzida pelo pâncreas da mãe. E pode produzir também enzimas que destroem a ação da insulina. “O pâncreas, quando não consegue vencer esta resistência, possibilita o desenvolvimento do diabetes no curso da gravidez. Isso pode acontecer numa mulher predisposta à doença, em que a gestação é o fator desencadeante”, explica a médica.
A mulher que desenvolve diabetes durante a gravidez deve ser cuidadosamente acompanhada pelo médico para evitar maiores complicações, que podem chegar à morte do bebê. O diabetes gestacional é diagnosticado principalmente a partir da segunda metade da gestação e não é comum a presença de sintomas. Por isso, recomenda-se que todas as gestantes pesquisem, a partir da 24ª semana de gravidez, como está a glicose em jejum e, mais importante ainda, a glicemia após estímulo da ingestão de glicose, a chamada curva glicêmica.
Estudo publicado na revista New England Journal of Medicine (volume 358(19) de 8 de maio de 2008), no qual se acompanhou 23.316 gestações, mostrou que quanto mais elevada a glicemia materna de jejum e/ou pós sobrecarga de 75g de glicose, maior o risco de aumento do peso fetal.
A boa notícia é que com os devidos cuidados, depois do parto, as taxas tendem a se normalizar e a mulher se recupera da hiperglicemia, podendo ou não voltar a ter a doença anos depois.
Causas
Assim como os outros tipos de diabetes, o gestacional não tem uma causa específica. Entretanto, há alguns fatores de risco que podem aumentar as chances de desenvolver a doença. Alguns deles são: obesidade, ganho excessivo de peso na gestação, idade superior a 30 anos, antecedente familiar (em parentes de primeiro grau), gravidez anterior com macrossomia do bebê (pesando mais que 4 kg ao nascer) e aborto. Se diagnosticado precocemente e tratado de forma adequada, o diabetes gestacional não oferece riscos à mãe e ao bebê.
É importante que a mulher inclua, dentro da sua rotina de exames, o teste de glicemia de jejum, que serve para medir o nível de glicose no sangue
A presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Marília Gomes, afirma que, por volta da 24ª semana de gravidez, já é possível descobrir se a gestante está com diabetes. “Se a resposta for positiva, ela deve procurar um médico e começar imediatamente o controle glicêmico”, afirma a médica. O diabetes gestacional costuma surgir nesta fase, mas, em alguns casos, pode ser diagnosticado antes. “É importante que a mulher inclua, dentro da sua rotina de exames, o teste de glicemia de jejum, que serve para medir o nível de glicose no sangue”, observa Marília, que alerta para um dos principais sintomas percebidos durante a gestação que podem ser indícios de diabetes – o ganho de peso excessivo, além do normal.
Vera Fonseca, presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, reforça a importância dos exames no período: “A glicemia de jejum deve ser solicitada logo, refeita perto da 20ª semana de gestação e, entre a 24ª e 26ª, adicionada a um teste de tolerância à glicose. É essencial, ainda, o acompanhamento de um endocrinologista durante todo o período”, aconselha a ginecologista. Aliás, o apoio de uma equipe de médicos, incluindo profissionais de oftalmologia e nutrição, e às vezes até psicólogo, torna a gestação tranqüila e sem surpresas.
Cristina Borges, 34 anos, teve diabetes gestacional na sua segunda gravidez. Ela conta que ficou preocupada no início, mas depois manteve a calma: “Só descobri que estava com diabetes no quarto mês e me assustei, principalmente porque meus pais nunca tiveram a doença. Já havia sofrido um aborto e fiquei com medo de que isso se repetisse. Meu obstetra, porém, disse que eu não precisava me alarmar e fez todas as recomendações. Tive o acompanhamento de uma equipe multiprofissional e tudo deu certo”, relata.
Cristina seguiu à risca as indicações médicas e foi bastante disciplinada na dieta, mesmo quando surgia uma fome incontrolável. “Quando eu tinha aqueles ‘desejos’ comuns de grávidas era terrível. Mas sempre dava um jeito, controlando bem a glicemia e comendo, de vez em quando, alimentos dietéticos ou sem açúcar”, lembra.