Tem dias que sim e tem dias que não, né? Nos dias “não”, você simplesmente não quer. Não quer ter idéias, não quer raciocinar, não quer cozinhar e não quer, definitivamente, nenhum engraçadinho metido a desocupado, aparecendo para dar “uma receitinha” pra você. Em dias assim, eu rezo baixinho e agradeço em silêncio ao gênio que inventou as panquecas.
A panqueca é uma espécie de pretinho básico da cozinha. Uma calça jeans. Um casaquinho azul-marinho na gaveta do escritório. Outro dia, fiquei pensando se haveria algum outro alimento tão versátil quanto as panquecas. Com alguma dificuldade, cheguei ao pão. Se bem que há coisas que se faz com panquecas e que não ficariam tão boas com pão.
Com um pouco de prática, poderá fazer giros duplos, mortais, duplos twists carpados e por aí vai. Imagina a satisfação de transformar sua panqueca em uma verdadeira Daiane dos Santos da frigideira!
O melhor das panquecas é que a base é uma só. Assim, se você usa com a mesma freqüência que eu, dá pra deixar a massa pronta em um pote fechado na geladeira e ir usando na medida em que for sendo necessário.
Massa básica de panqueca:
1 xícara de leite
Três quartos de xícara de farinha de trigo
2 ovos
1 pitada de sal (mesmo para panquecas doces)
Bata tudo com um mixer até ficar uniforme.
Derreta uma colher de cafezinho de manteiga em uma frigideira anti-aderente. Quando a manteiga derreter, coloque um pouco da massa de panqueca no centro e vá girando a frigideira para espalhar a massa uniformemente. Quando a massa secar, desgrude as bordas com uma espátula e vire. Como a camada de massa é extremamente fina, o processo todo não deve levar nem um minuto. Por isso, fique atenta. Hora de fritar panquecas, definitivamente, não é hora de atender ao telefone ou de dar uma conferida naquela entrevista bárbara de está passando na TV. Como dizia a minha avó, com panquecas, não tem jeito: “Cochilou, o cachimbo cai.”
Com o tempo, você ganhará confiança e poderá fazer o que é mais divertido com panquecas: se exibir. Imagine você, numa cozinha cheia de amigos – a essa altura, você já estará chamando suas panquecas de “crepes” – girando suas panquecas no ar. Que sucesso, hein? Para virá-las, um truque simples: faça a panqueca normalmente e frite de um lado, vire, frite do outro. Quando ela já estiver perfeitamente frita e sequinha dos dois lados, você pode começar a brincar. Segure o cabo da frigideira na frente do seu corpo e faça movimentos rápidos e curtos para a frente e para trás. O que acontece é o óbvio: sua panqueca começará a se precipitar em direção à borda da frigideira. Vá treinando esses movimentos, até criar coragem para dar um tranco um pouco mais forte – suficiente para que a panqueca se precipite de vez e caia, DENTRO da própria frigideira. No começo, você fará apenas giros simples, mas com um pouco de prática, poderá fazer giros duplos, mortais, duplos twists carpados e por aí vai. Imagina a satisfação de transformar sua panqueca em uma verdadeira Daiane dos Santos da frigideira!
Por dentro, por baixo e por cima
OK. Até agora você aprendeu apenas o básico dos básicos. Para transformar essa massa arredondada num verdadeiro coringa das refeições, você precisa pensar em recheio e coberturas. O legal é justamente isso. Panqueca, assim como papel, aceita tudo.
Café da manhã: Faça uma pilha de panquecas, coloque na mesa e sirva com requeijão, queijo e presunto, doce de leite, geléia ou Nutella. Cada um recheia como quiser. Se preferirem, os sortudos que estiverem partilhando a mesa com você poderão rechear e aquecer as próprias panquecas no microondas. Vinte segundos costumam ser suficientes.
Almoço / Jantar: Recheie com frango desfiado, cogumelos, carne moída, tomate, milho e manjericão, salmão cozido misturado com requeijão, brócolis com queijo cottage ou com o que quer que esteja sobrando na sua geladeira. Se quiser um efeito mais cinematográfico, cubra tudo com molho branco ou de tomate, polvilhe com queijo ralado e leve ao forno por vinte minutos para gratinar. Sirva com arroz branco ou com uma saladinha, dependendo do recheio escolhido.
Sobremesa: Recheie com morangos ou bananas e cubra com calda de chocolate. Recheie com requeijão e cubra com goiabada quente, derretida e dissolvida em um pouco de água. Ou, a minha preferida: volte a panqueca para a frigideira e polvilhe com açúcar de confeiteiro. Vire e polvilhe do outro lado (a panqueca ficará crocante). Derrame sobre ela uma ou duas colheres de sopa de licor de laranja (Grand Marnier ou Cointreau) e vire delicadamente a frigideira para flambar. Fica um espetáculo.
Efeitos especiais: Um dia, para animar, bati a massa das panquecas no liquidificador com ¼ de beterraba ralada (a massa ficou rosa! Uma beleza). Em outro, peguei duas bolinhas de espinafre congeladas (na sessão de congelados do seu supermercado tem. Chama-se “espinafre picado em flocos”. Procure as marcas Daucy ou Bonduelle.) e bati. Obtive uma linda massa verde, sensacional para rechear com uma mistura de ricota e gorgonzola, com frango ou com peixe cozido e desfiado.
De panqueca para crepe em 0,1 segundo: É claro que os puristas voarão em cima de mim, mas quer transformar sua panqueca em crepe na velocidade da luz? Aumente a proporção de leite na massa básica. Quando mais leite, mais leve e mais fino ficará o crepe. Mas como nem tudo são flores, quando mais leite, mais difícil de virar na frigideira. Assim, não exagere na quantidade. Eu não iria além de 1 1/3 de xícara.
É isso. Boas panquecas, bom apetite, bom show de exibicionismo e boa sorte.