Como funciona a calcinha de menstruação? Como escolher? Pode lavar no banho?

Uma das premissas do surgimento das calcinhas absorventes foi a questão da sustentabilidade, uma vez que dados recentes indicam que existem cerca de 60 milhões de pessoas menstruando todos os meses, gerando 12 mil toneladas de lixo a cada período. Então, diversas marcas repensaram suas maneiras de produção e também de produtos, com a criação das próprias calcinhas, discos, coletores, entre outros, visando mais reutilização e menos descarte.

Porém, há ainda uma reluta das pessoas em trocarem os tradicionais absorventes descartáveis, aqueles com aba ou sem aba. Esse medo, na maioria das vezes, tem relação com a falta de informação sobre as alternativas que existem. Um levantamento do Projeto Novo Ciclo, criado a partir de uma parceria da marca Inciclo com o Espro (Ensino Social Profissionalizante), de 2021, apontou que 37% das entrevistadas já fizeram uso de outros produtos para substituir o absorvente.

“Produto para a menstruação deveria ser considerado item básico de higiene. Pessoas que usam absorvente por tempo prolongado ou substitutos inadequados colocam em risco a própria saúde e acabam desenvolvendo problemas ginecológicos sérios”, diz Mariana Betioli, fundadora da Inciclo e obstetra especialista em saúde íntima.

Absorvente feminino
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Tipos de absorventes que existem atualmente no mercado

Primeiramente, é preciso entender que existem vários tipos de absorventes descartáveis e reutilizáveis. “Por exemplo, existe o disco menstrual na versão descartável ou reutilizável. Ele é escolhido pela paciente que quer ter relação sexual sem visualizar o sangue durante o período menstrual. Os coletores menstruais também são encontrados nas versões descartáveis e reutilizáveis, que são as versões mais comuns. Ele é bastante higiênico e ajuda a não ter contato do sangue e da umidade com a área da vulva, é uma ótima opção para quem se adapta”, explica a ginecologista e obstetra Viviane Monteiro.

Além desses citados pela médica, existem os absorventes mais ‘tradicionais’, sendo os reutilizáveis, que são mais sustentáveis; e os descartáveis, que são os mais conhecidos, cada um com suas versões internas e externas. Nos últimos tempos, os coletores e as calcinhas absorventes ganharam fama e presença no dia a dia das pessoas que menstruam.

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Como funciona a calcinha de menstruação?

Para a engenheira química norte-americana Emily Ewell, uma das fundadoras da Pantys, a questão das calcinhas tem muito uma relação entre qualidade de vida, sustentabilidade e evolução tecnológica. “As calcinhas, nos Estados Unidos, foram desenvolvidas mais como um produto de back-up, para evitar vazamentos, uma vez que 70% do mercado usa absorventes internos. No Brasil, eu e minha sócia vimos uma oportunidade muito legal de trazer um produto que gerasse mais qualidade de vida, conforto, e tecnologia comprovada com estudos clínicos, fora toda a sustentabilidade e a discussão sobre o impacto ambiental dos absorventes descartáveis”, explica Emily, que se uniu à administradora Maria Eduarda Camargo para criar uma das marcas pioneiras do segmento.

Além da Pantys, atualmente, o mercado brasileiro tem marcas como Inciclo, Korui, Herself, 2Rios, Violeta Cup, Liz, Korui, Hope, Yuper, entre outras; cujas tecnologias e preços são diversos. Em suma, as calcinhas absorventes são feitas de algodão ou outros materiais, que possuem várias camadas de tecidos, como, por exemplo, os sintéticos, para evitar vazamentos. Entre seus maiores atributos estão os tecidos de secagem rápida, a impermeabilidade, tecidos anti-bactericidas, respiráveis e biodegradáveis.

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“Acho que a nossa grande evolução está na funcionalidade dos produtos que desenvolvemos e na estética, pensando na sensação da pessoa que veste a calcinha e em como ela se vê, sempre com muito conforto, proteção, e desejo de usar!”, fala Emily, que não deixa de falar da dificuldade que, como marca, ainda enfrenta: a desconfiança se funciona ou não funciona.

“Ouço muito a frase ‘finalmente, eu tive coragem de testar a calcinha absorvente’ e fico pensando que esse medo ainda está atrelado ao preconceito, à desinformação e à pobreza menstrual. Temos comprovações clínicas de eficácia, dados sobre absorção, segurança, e outros feedbacks para combater essas barreiras. Porém, vejo isso como uma mudança de hábito que está acontecendo, mesmo que devagar”, reflete a norte-americana.

Pode lavar calcinha absorvente no banho?

Segundo Vivi, não existe nenhum tipo de contraindicação de uso das calcinhas absorventes, mas é preciso prestar atenção aos tipos diferentes de acordo com o fluxo menstrual ou até mesmo modelos para outras ocasiões, como maiôs e biquínis, roupas para prática de exercícios, entre outros. “Além de ser uma opção sustentável, a área fica mais seca, tendo menos propensão a ter irritabilidade, menos odor e, principalmente, menor chance de fungos na fase da menstruação. A durabilidade é cerca de dois anos”, certifica a ginecologista.

Quanto aos cuidados, a especialista diz que essas peças podem ser lavadas no chuveiro, de preferência com o sabão próprio para peças íntimas. Porém, o principal cuidado é não deixar secando no box, por ser um local que, geralmente, tem muita umidade e não tem ventilação adequada no local. “As peças devem ser colocadas no varal. O importante é ter essa boa ventilação, porque, se a peça fica muito úmida, pode dar fungos no tecido, principalmente no fundo da calcinha”, afirma Vivi.

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Antes de escolher o absorvente, fique atenta a sua higiene menstrual

Lidia Myung, ginecologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, faz questão de falar sobre os riscos da falta de higiene menstrual. “Todo fluido biológico, como é o caso do sangue, é um meio de cultura para o crescimento de bactérias. O raciocínio é que todo fluido biológico, quando fica parado por muito tempo, favorece o crescimento de bactérias”, aponta ela. O perigo maior se trata quando há o uso do absorvente interno, sem respeitar o tempo de troca. “Neste caso, pode haver crescimento bacteriano que vai para a circulação sanguínea e promove infecção generalizada em alguns casos. Já os absorventes externos, a troca pouco frequente pode favorecer alergias, infecção urinária, e aumento de corrimento ginecológico”, diz Lidia.

As especialistas pedem que as pessoas que menstruam conheçam cada vez mais o seu corpo
Alexey Yaremenko/iStock

Porém, Viviane ressalta que o melhor produto é aquele que se adapta à condição de cada mulher. “Se possível, o que eu aconselho é sempre optar por um produto de melhor qualidade, de preferência 100% algodão, ou opções mais sustentáveis e hipoalergênicas, que vão proporcionar uma qualidade de vida melhor em termos de menos fungos e infecções bacterianas”, pontua a médica.

As duas especialistas recomendam conhecer melhor como seu corpo se comporta durante o ciclo menstrual, como é o fluxo, quantos dias ele vem, além de prestar atenção nas oscilações hormonais e como tudo influencia no seu dia a dia. Todas essas informações são extremamente importantes para a escolha do melhor absorvente para sua vida, seus princípios e suas condições financeiras.

Saúde feminina