Método proposto pela parteira alemã Tamara Hiller, a higiene natural ou Elimination Communication surgiu relacionado diretamente com a preocupação ambiental – em média, uma única criança até a idade de desfralde usa 3.796 fraldas, de acordo com estudo da National Geographic, e elas demoram cerca de 500 anos para se decomporem. Embora pareça uma solução para o problema do lixo, o método é seguro? A carioca Manuela Tasca divulgou em seu blog pessoal que seu filho Luca, de 5 meses, começou a usar o método e levantou o debate. Para esclarecer as questões, conversamos com um pediatra.
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O que é o Elimination Communcation (EC)
Hiller começou a escrever sobre o EC após observar os hábitos de uma mulher indiana e seu filho que ficaram por um tempo hospedados em sua casa, conta o pediatra Moises Chencinski. “Ao perceber que o bebê ia evacuar ou urinar, ela o levava para fora da casa”, diz.
A partir disso, a mãe começou a divulgar o EC ou a higienização natural, que consiste em observar o bebê – olhar, sons, expressões – e, a partir desses sinais, colocá-lo no vaso ou no penico para urinar ou evacuar e emitir um som, fazendo com que ele associe o som à ação podendo, com o tempo, extinguir a necessidade do uso de fralda.
Faz mal para o bebê?
Embora estimule a interação entre mãe e filho, aumente os laços, induza a mãe a observar mais o pequeno e aumente o tempo da criança com seus cuidadores, Chencinski alerta que o método pode trazer consequências negativas.
“O desenvolvimento do bebê é craniocaudal, ou seja, primeiro ele aprende a olhar, depois sustenta a cabeça e o pescoço, levanta o tronco, senta, engatinha, fica de pé e só depois anda. Com os órgãos acontece a mesma coisa. O desenvolvimento é de cima para baixo e de dentro para fora. Então, quando a gente estimula demais, acaba pulando as fases do desenvolvimento”, explica o pediatra.
Doenças
Fazendo analogias com o desfralde correto, o médico diz que, além do constrangimento, a criança pode, a longo prazo, ter maior propensão a sofrer com intestino preso e infecções urinárias.
Higiene
A higiene é outra questão. Embora em casa seja fácil fazer a limpeza dos banheiros ou usar baldes e penicos, Chencinski comenta sobre outras situações. “Se o bebê estiver no carro e sem fralda ou ele vai fazer na roupa ou em algum recipiente que será descartado na rua. Em restaurantes ou lugares públicos o problema é ainda maior, já que os banheiros são mal higienizados e podem contaminar o bebê”.
Problemas psicológicos
Além disso, o pediatra também alerta para os problemas psicológicos. Desde o nascimento o bebê passa por diversos momentos. Chamados de fases psicossexuais, as duas primeiras estão relacionadas às percepções orais (até 1 ano, em média) e anais (1 a 3 anos, em média). “Pular ou postergar demais qualquer uma dessas fases certamente traz questões quando a criança estiver maior ou até mesmo na vida adulta”, explica.
Bebê assa mais com fralda?

No momento de avaliar o método é normal surgirem dúvidas em relação à higiene. No entanto, de acordo com Chencinski, a fralda com xixi e o cocô, se trocadas com intervalos aceitáveis, não é causadora de alergia, irritações ou assaduras. “A assadura acontece com fralda ou sem fralda e, em condições de higiene adequadas – com trocas e banhos frequentes – o que causa a assadura geralmente é a acidez das fezes”, conta.
Respeito às escolhas
Mesmo com muitas divergências, o pediatra alerta para o poder de escolha dos pais. “Os pais não devem se sentir inferiores porque escolheram este ou aquele caminho – seja o nascimento, a amamentação ou os cuidados com a higiene. É importante que eles busquem muitas informações sobre os riscos e as consequências de qualquer atitude ou ação e, a partir disso, façam suas escolhas individuais e conscientes”, comenta.
O profissional ainda reforça que cada criança reage de uma forma aos estímulos e suas particularidades devem ser respeitadas. “Nós temos um padrão de normalidade. Existem crianças que andam com sete meses, mas não podemos exigir o mesmo resultado de todas porque o esperado é que elas façam isso por volta dos dois anos apenas. Nenhum caso está errado, mas não da para generalizar as exceções e nem usá-las como exemplo ideal”, finaliza Chencinski.