Como (e o que) é ser “mãe solo”: ilustrações lindas e importantes retratam o dia a dia

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Já são mais de 30 mil pessoas curtindo o que ela faz. Nos comentários do Facebook é possível encontrar identificação e um espacinho para desabafar ou dar colo para outras mães. A página Mãe Solo, criada pela paulista Thaiz Leão Gouveia, é acalento para mulheres que se sentem sozinhas nessa fase da vida, mas também convite para uma série de questionamentos e reflexões. A maternidade é tão fofa quanto acreditamos? O que a sociedade espera de uma mãe? O que as pessoas em torno da dupla mãe e filho fornecem de ajuda? Com quem essas mulheres podem contar?

Rotina de uma mãe solo

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Thaiz tem 26 anos e é mãe de Vicente, de 2. Mas, isso não é só, como ela faz questão de ressaltar. Além de dar conta de todas as demandas que uma criança pequena tem, a ilustradora ainda cuida da casa onde mora com seu pequeno, tem um emprego fixo de designer, aceita trabalhos extras para complementar a renda, faz faculdade e alimenta, quando e como a rotina permite, a página, recheadas de tirinhas que, além de tratar da maternidade real de forma leve e engraçada, ainda fazem convites constantes para a reflexão do exercício da maternidade na atual sociedade.

Página Mãe Solo

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Como Thaiz conta, a página foi criada depois que ela conseguiu se adaptar às necessidades da nova pessoa que compunha a sua família e, então, começou a pensar como é solitário ser mãe. No projeto, juntou seu ativismo e a habilidade profissional e começou a desenhar a sua rotina. “Ali sou eu. Eu desenho o meu dia, o momento em que quero tomar banho sozinha e não consigo, o alívio que eu sinto quando ele dorme ou a contradição de ficar horas preparando uma sopa de mandioquinha pra ele e acabar jantando miojo porque é o mais prático”, conta.

Embora hoje tudo esteja reunido em uma página, as publicações surgiram de forma despretensiosa em seu perfil pessoal com a simples intenção de mostrar o outro lado da maternidade. “Mas, quanto mais eu publicava, mais meus amigos compartilhavam com outras mães e pais. Então, como as pessoas estavam curtindo e eu sei que a maternidade vai ser um tema inesgotável para mim, decidi criar a página para romper com a romantização da vida de mãe e achar outras mulheres na mesma situação que eu”, relembra a ilustradora.

Mas, Thaiz conta que ainda não consegue se dedicar muito às publicações e só produz as ilustrações quando sobra tempo na rotina de mãe, profissional, dona de casa e mulher. “Eu não consigo dedicar nem 1/20 do meu tempo à página. Mas, ainda assim, ela gera identificação e vive cheia de comentários de empatia”, analisa.

Importância do projeto

Além de ser uma válvula de escape para que Thaiz possa dizer ao mundo como é sua rotina, a página também funciona como um espaço onde as mulheres podem, finalmente, falar sobre a árdua tarefa de ser mãe.

O Desafio da Maternidade (campanha online que convidava mulheres a postarem fotos com seus filhos para exaltar essa fase) levantou um debate que Thaiz afirma ser muito importante. Para muitas mulheres, o fardo da maternidade é muito pesado, dolorido e solitário e, por isso, muitas afirmam que apesar de amarem seus filhos incondicionalmente, não amam ser mãe. Isso porque, infelizmente, a atual composição social não permite que as mulheres optem verdadeiramente pela maternidade (link), além de destinarem a elas toda a responsabilidade com as crianças, sempre acompanhada de críticas e julgamentos.

Nas publicações é possível encontrar, sobretudo, comentários de mulheres que se identificam com a situação e ali encontram espaço para pequenos desabafos. Outras, quando não estão contando suas histórias, se divertem com o comentário de outra mãe ou encontram formas, mesmo que à distância, de ajudar a tornar o processo menos difícil.

Além disso, as ilustrações, sempre carregadas de humor ácido colocam os seguidores para pensar: Sobre quem recai as grandes responsabilidades da criação de um filho? Uma mulher precisa abdicar de quais tarefas para conseguir cuidar sozinha de uma criança? Os conselhos dados a uma mãe têm a intenção de ajudar ou criticar? Por que as pessoas se incomodam tanto com as escolhas que uma mãe faz?

Por que mãe solo e não mãe solteira?

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Atualmente, Thaiz tem um companheiro que não é o pai de seu filho. Mas, para ela, o maior legado da página é mostrar a vivência da mãe, independente de ela ter um companheiro ou não. “Eu abracei o termo mãe solo como um conceito artístico. É o solo de ser um ser humano que de repente se descobre responsável pela vida de uma outra pessoa e não tem amparo da sociedade para lidar com isso. Por isso, ela se vê sozinha como mãe, no que esperam que ela seja e execute, e não na função de ser mulher de um homem”, explica.

Ainda diferenciando a função de mãe da de companheira, Thaiz aborda a função do pai dizendo que, na configuração atual, na opinião dela, ele não faz efetivamente falta para a criança. “Claro que não estou falando [do impacto] na formação do indivíduo. Mas, na prática, o jeito que a maioria se comporta faz com que eles se tornem irrelevantes. Muitas vezes mais atrapalham do que ajudam”, opina.

Sabendo da importância da divisão de responsabilidade e presença da figura paterna para o desenvolvimento pleno de uma criança, idealiza: “Se os homens fossem criados para serem pais como as mulheres são criadas para exercerem o papel de mãe, a humanidade iria para frente”.

“O amor pelo filho não pode ser uma sentença para que a gente se anule, perca a potência do que podemos dar para o mundo. Também sou mãe, mas não sou só mãe”, finaliza.

Galeria de tirinhas

Na galeria, veja outras tirinhas feitas pela Thaiz para traduzir o que vive: