Fofo ou assustador? Esta foto conta uma história, mas provocou muita polêmica

A foto de um pai segurando seu filho no colo durante o banho gerou polêmica no Facebook – que removeu a postagem duas vezes por denúncia de “conteúdo com nudez”, apesar da história tocante que ela conta. O registro foi publicado pela mãe da criança, uma fotógrafa norte-americana, que se revoltou com a eliminação da postagem na rede social e, mais uma vez, a colocou em seu perfil pessoal.

A exposição do momento íntimo, em que os pais tentavam desesperadamente baixar a febre do bebê, entretanto, virou alvo de comentários de seguidores de várias partes do mundo.

Afinal, o hábito de tomar banho com o filho ainda pequeno e, ainda, a divulgação de uma fotografia desse momento, influenciam de que forma na relação pai e filho? Há limites comportamentais ou psicológicos para essa atitude? O fato pode erotizar o desenvolvimento do bebê? Entenda o caso, a reação da mãe à polêmica e a explicação de uma psicóloga sobre a exposição da nudez de ambos na internet.

Criança doente: o que aconteceu?

https://www.facebook.com/heatherwhittenphotography/photos/a.10150284901268274.376605.263471138273/10154233751958274/?type=3&theater

A norte-americana Heather Whitten divulgou em seu perfil pessoal no Facebook uma foto de 2014 em que seu filho aparece sentado no colo do pai, ambos nus e debaixo do chuveiro.

A mulher conta que seu marido Thomas ficou por horas debaixo da água com o filho, Fox, que sentia febre por conta de uma intoxicação por salmonela. Na ocasião, o menino tinha mais ou menos 1 ano.

“Thomas tinha passado horas no chuveiro com ele, tentando abaixar a febre e deixando o vômito e diarreia escorrerem por ambos”, conta a fotógrafa, que, no relato, relembrou a paciência e o envolvimento do pai com o filho naquele momento de dor.

“Foi um momento poderoso para nós como pais. Enquanto eu estava sentada no chuveiro com os dois, eu estava imersa na cena em frente de mim. Esse homem. Esse marido e pai. Ele estava tão paciente, amoroso e tão forte com o nosso pequeno filho no colo. Seus sussurros de tranquilidade para Fox, (falando) que ele ficaria bem e que ele iria cuidar dele eram tão estáveis e tão honestos”.

Polêmica

A fotógrafa destacou ainda que não concordava com a retirada da foto da rede social (que ocorreu devido a denúncias de conteúdo com nudez), por não haver cunho sexual na imagem. “Não há nada de sexual ou de exploração sobre esta imagem. Não há mesmo qualquer ‘parte íntima’ sendo mostrada”, avalia.

Ela também se posiciona em relação às pessoas que a criticaram por expor um momento familiar e íntimo na internet.

“Minha família pode ser diferente do sua. Mas, isso não faz o seu caminho certo ou meu caminho errado. Talvez você nunca tire fotos da sua família como eu faço…Você nunca poderia compartilhar imagens de sua família como eu faço. Mas, isso não lhe dá o direito de silenciar minha voz. De tirar o meu direito de compartilhar nossas experiências de uma forma sem censura”.

Tomar banho com o filho

Shutterstock

Para a psicóloga Patrícia Leekninh Paione Grinfeld, do serviço de Rodas de Conversa Ninguém Cresce Sozinho, o julgamento que cada um de nós faz frente à publicação, à forma como foi divulgada e, principalmente, ao fato de o pai estar com o filho sentado no colo, ambos nus, é fruto de nossas concepções.

Ou seja, vemos a história com nossos próprios olhos, sem saber, de fato, como é a dinâmica e, principalmente, a forma com que esses pais criam seus filhos.

“Precisar ter entrado no banho com a criança é uma questão do pai, só ele pode dizer quais foram os motivos. Há o julgamento do caso porque colocamos nossa própria história na situação e também porque erotizamos o fato”, explicou. “Talvez para o pai não fosse nada incomum, e ele não fez nada além do que já fazia”.

Patrícia ressalta, entretanto, que o costume de tomar banho com os filhos, assim como outro qualquer mecanismo de relação entre mães, pais e filhos, depende de como cada família vive a nudez.

“O que sabemos é que muita criança tem desconforto em relação à nudez dos pais e que, por volta dos 2 anos e meio até os 4 anos, pode começar a se incomodar com a sexualidade do adulto. Esta é a faixa etária em que eles começam a perceber diferenças sexuais, perceber que existe menino e menina e até questionar a origem dos bebês”.

No caso do bebê Fox, que tinha cerca de 1 ano, a psicóloga destaca que não é possível analisar o que esse momento reflete ou refletirá na vivência dele. “Não dá para saber o que ele está vivendo em relação a isso”.

Exposição de fotos do filho na internet

A exposição da foto na internet, de acordo com Patrícia, é outro fator problematizado no caso. “Vivemos em uma era que o adulto acaba expondo a criança, é quando a escola divulga na internet vídeos do que acontece dentro da escola, quando o pai filma o filho caindo, por exemplo, ao invés de ajudar e acolher nesta situação”.

Ela considera que, apesar de as justificativas da publicação serem totalmente embasadas nos conceitos da mãe, há ainda outros questionamentos. “Por que colocar essa foto no Facebook? Sabemos que damos banho na criança para baixar a febre, mas qual é o benefício de um corpo nu, do pai, para o bebê, que estava doente? São coisas que somente os pais podem responder”, pondera.

“Também devemos pensar com o que as pessoas se incomodam: é a nudez, é o corpo do adulto com a criança ou a exposição da criança em um momento em que ela está sofrendo?”

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