Nem gugu-dadá

por | jun 30, 2016 | Gravidez e bebês

O primeiro sorriso, o primeiro dentinho, os primeiros passinhos… A cada dia os bebês dão a seus pais um presente diferente. Cada novidade é uma conquista, um sinal de desenvolvimento sadio e uma preocupação a menos para mamães e papais. Mas e quando os coleguinhas de creche, que têm a mesma idade do seu filho, começam a falar, e ele não? Logo vem a dúvida: “Será que há algum problema com meu bebê?”. Calma, calma. O desenvolvimento humano não segue uma regra rígida. Cada pessoa é uma pessoa, e cada uma se desenvolve ao seu tempo. No entanto, é bom ficar atento a sinais que possam indicar algum problema.

Segundo a Lúcia Helena Ferreira, presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia do Rio de Janeiro, a comunicação da criança se inicia desde de o nascimento, sendo o choro a primeira expressão oral. “A fala propriamente dita começa com o balbucio, quando o bebê, de modo natural, produz sons inicialmente sem intencionalidade e de modo reflexo”, explica, acrescentando que o incentivo do meio externo, ou seja, ouvir outras pessoas falando, intensifica esse balbucio, fazendo com que o bebê evolua para a produção de rudimentares que passam a possuir algum sentido.

É de extrema relevância evitar diminutivos e palavras inventadas, pois a criança deve aprender que precisa utilizar códigos que todos conhecem

A relação com os pais, como reforça a especialista, é fundamental para o desenvolvimento da fala na criança. Segundo ela, um bom vínculo afetivo é muito importante nesse processo de aprendizagem. Lúcia Ferreira dá ainda algumas dicas para que toda a família possa colaborar estimulando o bebê a dizer as primeiras palavras. “Os primeiros meses devem ser permeados por atitudes que reforcem o ato da comunicação. Conversar com a criança, cantar, mostrar objetos que sejam do dia-a-dia dela, nomeando-os. Também é aconselhável evitar, ao primeiro desejo da criança, interpretar o que deseja, sem deixar que a própria tente nomeá-lo. Atividades lúdicas são sempre bem-vindas, lembrando que é extremamente importante que os pais utilizem uma linguagem acessível e sempre correta”, aconselha.

Maria Lúcia Andradas, mãe de Lucas, de 1 ano e meio, conta que começou a ficar grilada quando viu que os amiguinhos da creche, que tinham a mesma idade que ele, começaram a dizer as primeiras palavras. “Comecei a achar que meu filho tinha algum problema, porque era o único que não falava nada e pouco tentava se comunicar na creche, mesmo por meio daqueles sons incompreensíveis que as crianças fazem, ou apontando o dedinho. Levei-o no pediatra, que disse estar tudo normal com ele fisicamente. Mas em uma conversa mais aprofundada, descobri que o Lucas poderia estar insatisfeito com a creche. Dito e feito. Fiz uma experiência e deixei ele com minha mãe durante uma semana. Em um instante, ele começou a balbuciar alguns sons e logo já dizia ‘vovó, mamãe e pepeta (chupeta)’, conta.

Caso oposto foi o de Maria, de 2 anos e 8 meses, filha de Ana Lúcia Pereira. “Larguei o emprego porque queria criar a Maria em tempo integral. Me dedicava muito a ela, passava o dia todo junto, e fiquei aflita quando ela fez 2 anos sem falar uma palavrinha. Quando a levei ao médico, a primeira coisa que ele disse foi que o fato de ela não conviver com crianças podia estar atrapalhando o desenvolvimento da fala. Ele me sugeriu colocá-la na creche ou passar mais tempo com Maria no parquinho, para que brincasse com outras crianças”, lembra Ana, que acabou tomando uma das decisões mais difíceis de sua vida. “Como havia surgido um convite de emprego interessantíssimo alguns meses antes, resolvi ligar para a empresa, perguntar se a proposta ainda estava de pé e voltar a trabalhar. Meu coração ficou pequenininho quando a deixei na creche no primeiro dia”, diz Ana, acrescentando que, apesar de difícil, foi a melhor decisão. “Até hoje agradeço ao pediatra da Maria. Em apenas dois meses de convívio prolongado com outras crianças, ela começou a tagarelar sem parar. Aprendeu até umas besteiras que outras crianças diziam, mas hoje em dia a gente acha até graça!”, brinca, aliviada.

Será que meu bebê tem algum problema?

Às vezes, a ansiedade toma mesmo conta de pais e mães, principalmente os de primeira viagem. Mas, e quando a preocupação se torna uma constatação? Lúcia Ferreira explica que é muito importante observar atentamente os sinais apresentados pelo bebê em seus primeiros meses de vida. “Se o bebê é extremamente quieto, não busca interação com as pessoas que o estimulam, não produz nenhum tipo de comunicação, é preciso estar atento. Em caso de dúvidas e insegurança sobre o desenvolvimento da comunicação do seu filho, procure um fonoaudiólogo. Ele é o profissional mais capacitado e habilitado para lhe orientar corretamente”, recomenda.

Coisinha fofinha da mamãe”

Todos sabem que é irresistível parar na frente de uma criança risonha e não se derreter com um jeito meio esquisito de falar: “Cuti-cuti, chuchuzinho, nenenzinho da vovó”… Para quem já tem mais idade, é normal ver alguém falando assim com um bebê, mas imagina o que o próprio bebê deve pensar? Afinal, não é assim que ele vê as pessoas se comunicando na rua, na creche, na TV e em casa. A presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia do Rio de Janeiro, Lúcia Helena Ferreira, alerta que esse tipo de comportamento pode confundir o bebê. “É de extrema relevância evitar diminutivos e palavras inventadas, pois a criança deve aprender que precisa utilizar códigos que todos conhecem”, explica.

Chupeta atrapalha?

Apesar de ser uma invenção maravilhosa, capaz de deixar as crianças quietinhas durante horas a fio, a chupeta pode, sim, atrapalhar o desenvolvimento da fala no bebê, além de trazer outras complicações. “A chupeta é um mau hábito, que pode provocar inúmeras alterações na arcada dentária nos aspectos físico, fisiológico e funcional. E pode provocar futuramente danos nas funções da respiração, mastigação, deglutição (ato de engolir) e fala. O ideal é que a criança não faça uso de qualquer tipo de bico artificial, chupetas ou mamadeiras, entretanto, caso o faça, que possa abandoná-lo o mais precocemente possível”, sugere a fonoaudióloga.