Depile-se

Com toda mulher é assim: chega a adolescência e, com ela, uma questão fundamental para muitas definições de feminilidade começa a nascer debaixo do braço, nas pernas e no buço: “pêlos, pra quê tê-los?”. A partir disso, uma espécie de karma estético (mais um!) a que as mulheres são submetidas a pagar, a depilação, se transforma num ritual que vai permear a vida por muitos anos, trazendo consigo também tufos de dúvidas. Da tradicional lâmina ao moderno laser, passando ainda pela inusitada linha de poliéster, muitas são as possibilidades de dar solução mesmo que temporária ao problema. A questão é saber combinar métodos com objetivos e gostos pessoais.

Antes, porém, de passar a essa fase, é bom lembrar o que é comum a todas as escolhas. O pré e o pós-depilação exigem cuidados-chave, seja ela feita com qualquer técnica. Evitar o sol, por exemplo, é um bom começo. “Assim, a pele fica menos sensível. Outra boa providência é uma esfoliação na região, que ajuda a desencravar os pêlos, diminuindo as chances de inflamação”, indica o dermatologista Paulo Roberto Nogueira. Para depois desse pequeno drama epidérmico, o importante é deixar a pele avermelhada descansar e respirar.

Por isso, calcinhas e roupas apertadas devem ser evitadas. “Máscaras e pomadas relaxantes e cicatrizantes, como as à base de cânfora, e hidratantes também são muito bem-vindos”, ressalta o médico.

Ceras

Vamos entender, agora, os prós e os contras dos principais métodos de depilação. Comecemos pelas tradicionais ceras, uma solução que vem do Egito antigo e que já naquela época tirava de Cleópatra o peso dos pelinhos indesejáveis. Elas geralmente são baratas, dão resultados duradouros e podem ser aplicadas em áreas maiores do corpo. O problema é basicamente a dor.  “Existem três tipos de cera quente mais usadas na depilação. A roll-on, descartável e que se compra em farmácia, a egípcia, feita com mel, limão e açúcar, e a de algas, comum em salões e clínicas. Essas duas últimas são as que têm menos chances de dar reações alérgicas e também as menos dolorosas, embora não funcionem muito bem em fios curtos e exijam alguma habilidade na aplicação. Já a roll-on, que é a mais barata e a mais fácil de usar das três, pode ser perigosa uma vez que sua temperatura de uso é alta. É preciso muita atenção ao usá-la”, recomenda a dermatologista especializada em clínica estética Silvia Pereira. Além disso, Paulo Roberto Nogueira comenta que as ceras quentes devem ser evitadas por quem tem varizes. “O calor do produto pode oferecer risco de ruptura dos vasos”, alerta ele.

A cera fria é outra que exige destreza na aplicação. Embora muito higiênica e com grande poder de diminuir a velocidade de crescimento dos fios, fazendo até com que, em muitos casos, eles parem de crescer em função do uso contínuo do método, seu processo é muito lento e doloroso. “É muito difícil de puxar sozinha e podem ocorrer irritações pela agressão do processo”, diz Silvia.

Cremes depilatórios

Possíveis irritações na pele também são as desvantagens dos cremes depilatórios, que já encontraram um grupo cativo de consumidoras no Brasil. Mãos na roda na hora da pressa, seu efeito é igual ao da lâmina, ou seja, remove apenas a parte externa do fio, que volta a aparecer dois ou três dias depois. “No entanto, como trabalha com uma química muito forte, que destrói a cutícula do fio dissolvendo pêlo, é um produto que se deve usar com cautela. É bom evitar a aplicação constante, preferir marcas mais conceituadas e não deixar de fazer o teste de alergia, um dia antes”, orienta Silvia Pereira.

Linha

Outro método tradicional e que só agora está chegando ao mundo ocidental é depilação árabe, feita com linha de poliéster. Nas mãos de um bom especialista, as vantagens são inúmeras: é mais rápido e dói menos que a cera, pode ser usada em qualquer parte do corpo e a recuperação da pele é melhor. “É muito bom realmente. O pêlo demora mais a crescer e ainda tem uma vantagem sobre os aparelhos depiladores, que também arrancam os fios: não tira a queratina da pele, que não fica desprotegida”, acrescenta o dermatologista Valcinir Bedim, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo. A desvantagem é que ainda é difícil encontrar quem aplique o método no Brasil. No Rio de Janeiro, a iraquiana Mareana Essa mostra sua habilidade que vem de família no salão Fashion Clinic, em Ipanema. Em São Paulo, a cabeleireira Sandra Abdel, também especialista na técnica, atende em Higienópolis, na Rua Pernambuco, 75.

Lâminas e aparelhos elétricos

Talvez, por serem incomparáveis nos quesitos dor (nenhuma!), pressa e praticidade, as lâminas ainda são o método de depilação mais usado pelas mulheres. E, de acordo com a dermatologista Ligia Kogos, essa história de que o pêlo de quem raspa com gilete nasce mais grosso é pura lenda. “O que acontece é que o pêlo tem a forma de chapéu de cone. Quando você raspa, apenas a porção mais grossa dele é eliminada. Por isso, ele nasce mais rapidamente e parecendo mais grosso”, explica a médica, que defende o processo por, além da praticidade, não causar o encravamento dos fios. Lígia alerta apenas para a necessidade de se passar um creme, sabonete úmido ou espuma na região no momento da depilação, para que o aparelho deslize com maior facilidade.

Já os barbeadores e depiladores elétricos, que têm os mesmos efeitos que a lâmina, têm a desvantagem de serem difíceis de passar em certas regiões do corpo, como a virilha. “Eles são bons para as pernas, mas algumas pessoas sentem dor. Como demandam um certo investimento, uma boa pode ser pedi-lo emprestado para um teste, com alguém que tenha o aparelho. Se for aprovado, não há contra indicação, apenas os pêlos crescem com mais rapidez, como ocorre com a gilete”, acrescenta Silvia Pereira.

Laser e eletrólise

Apesar de parecerem métodos muito modernos, a eletrólise e o laser existem há mais de quarenta anos. O objetivo é promover algo próximo a uma solução definitiva para o drama da depilação. O primeiro trabalha fio a fio, com pequenos choquinhos. O resultado é excelente: pode acabar de vez com até 30% dos pêlos. O problema é que o preço disso é um tanto alto. “A eletrólise pode ser perigosa se feito por alguém não capacitado. Os choques podem deixar marcas na pele e o processo doer muito. Além disso, são necessárias muitas aplicações até que os resultados apareçam”, alerta Silvia Pereira.

Ao contrário da eletrólise, o laser vem se aperfeiçoando cada vez mais. Mas alguns deles, segundo a dermatologista Ligia Kogos, não trazem resultados tão bons e podem chegar, inclusive, a manchar. “A ajuda de um dermatologista para escolher o laser adequado às necessidades e ao tipo de pele é fundamental”, diz ela. Dentre os existentes, Ligia ressalta os poderes do Lightsheer. “Ele é pouco doloroso e praticamente elimina todos os pêlos em três a seis sessões na mesma região”, explica a médica, que recomenda também que o tratamento seja feito numa boa clínica. Paulo Roberto Nogueira acrescenta também que o resultado do laser costuma ser melhor em peles morenas e negras. “A desvantagem talvez seja o preço, que está em torno de R$ 300 a aplicação. Mas é também um investimento para quem quer se ver livre dos pêlos”, comenta ele.